terça-feira, 22 de dezembro de 2009

VAZIOS

A resposta vaga
de questões imprecisas
imperfeitas figuras
de rebocos e paredes
de inteiras separações
na vaga sensação
que se apressa
e represa

o silêncio vago
de campos inocentados
na podridão e vastidão
em que questões menores
sobrepostas ao efêmero
traduzem o tardar

o avançar silencioso
em que se arrepende
no tardio verão
da inconsolável maneira
de se dizer vazio

espera o cantar do sino em dobradas
situações de outrora e de sempre
como vozes em alto-falantes
dizendo das promessas
em nuvens dissuadidas
de vazias horas permanentes

o passado responde a questão
não perguntada como o curioso
alertas seus olhos aos detalhes
do passar em vagas maneiras
de se dizer presente

o tenebroso instante em que o silêncio
se faz encanto
pouco antes
de se declarar culpado
em vazio significado
no orgulho acrescentado
ao estame com que se mortifica
em flores transplantadas
aos canteiros centrais

esvazia o olhar e turva as mãos
sobre o caído corpo
de quem conhece o destino
e não interfere em sua vontade

o repelente ser ancorado em mares
distribuídos entre continentes
vivenciados por espécies extintas
em epidemais
dos vazios trazidos
e para o nada reencaminhados

avalia o peso e o sentido
em situações limites
onde o corpo dói cada movimento
anterior ao próximo
e o vazio se traduz
novamente
novamente
novamente

o saber diluído em água e vinho
misturados em copos estanhados
do que não irá mais ver
ou alcançar: vazias cenas
de palhaços estáticos
no alisamento constante
dos amantes

saber que o acordar não responde
à pergunta não pronunciada
sabida à guisa de explicações
baratas e esvaziadas de sentidos
repostos em cada passo
ao ardor inicial

o vazio se faz tarde
em respostas vagas.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Volume III)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MÃO

A mão do menino
movimenta a água

concêntricas ondas
se afastam

seus olhos buscam as ondas
onde barcos vão embora
de sua vista

sua mão aquieta a água
e os barcos aguardam
a sua vida.

(Pedro Du Bois, AS MÃOS EM CENA)

sábado, 12 de dezembro de 2009

A PRIMEIRA CASA

31
A casa exige sua liberdade. Imóvel sobre a terra,
sapateada ao solo. Firme em sua presença liberta
o erro estrutural e se aquece ao fogo da cozinha.
Deixa o tempo passar até que se resuma em dias
o todo completado. A liberdade é objeto do socorro:
livrar-se dos corpos acostumados ao conforto
e da sujeira acumulada em latas de lixo. Ser livre
na consciência do dever cumprido.

(Pedro Du Bois, A CONCRETUDE DA CASA)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

AMARES

Não rever
a figura humana
trazida
em berço
ou barco

saber do desencontro
começado hoje

não sentir tristeza
da saudade vista
em seus olhos

o esquecimento cobre os passos
desajustados dos não amantes
inconfessados em tempos
vazios de humanidades.

(Pedro Du Bois, AMARES)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

OLIMPIADAS

A voz disse: não há competição
e os homens sobre a terra
dividem os louros

vitórias são vidas diárias
de realizações e promessas
sobre as quais se assentam
regras de convivência
e amizade

são esquecidas as partidas
e as chegadas: prevalece
o trajeto em que juntos
os homens são
seus próprios caminhos

esqueçam as medalhas: metais
têm nobres utilidades
em artefatos e adornos
sobre os corpos.

(Pedro Du Bois, A INCERTEZA DA VIDA)

sábado, 5 de dezembro de 2009

ALEGRIAS

Alegro-me, a desgraça passa
no vento em que se renovam
os ares

secam as roupas
ressecam os barros
vidas caem e quebram
no estardalhaço dos sons
ouvidos ao longe e perto

desgraça evitada na passagem
com que o tempo esmaece os fatos
em meras lembranças intemporais

alegro-me com o vento revolvendo os cabelos
cortando a respiração
na hora esperada das desgraças.

(Pedro Du Bois, A ILUSÃO DOS FATOS)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

MAR ABERTO

A luz do farol
informa o caminho

tardio o barco
exposto ao vento

entrementes
no convés penso
outros rumos

estrelas não acompanham
a viagem

a luz do farol
corta a embarcação

pedaços de sonhos
perdidos em pedras.

(Pedro Du Bois, MAR ABERTO)

QUINTA POÉTICA 26.11.2009

por favor, acessem:

http://www.youtube.com/watch?y=Sc41Xgi6x21

http://www.youtube.com/watch?y=9GNcNXKO3T4

http://www.youtube.com/watch?y=1rHg3yHUzeA

minha participação na Quinta Poética, em 26.11.2009, na Casa das Rosas,
São Paulo, organizado pela Escrituras Editora, tendo por anfitrião o poeta
Celso de Alencar.

agradeço.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

FLORES & FRUTOS

Onde nada
brotam sorrisos

olhos de criança

nem temos cerejeiras
em flor.

Onírica paisagem:
balé
personagens

sempre temos
onde recomeçar.

(Pedro Du Bois, FLORES & FRUTOS)

domingo, 29 de novembro de 2009

DISTÂNCIAS

...
a terra sustenta o hábito com que o pássaro
se depara na construção do ninho

correta maneira como se medem distâncias
decorrentes das passagens e entre os espaços
completados são guardadas vidas estereotipadas

atraso com que as horas se deparam no instante
em que o todo se arrepende e se parte em mistério
opaco de agrados: ser a antecipação do fato
decorrente da continuação do ato
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IV, fragmento)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

JÚLIA

O nascimento na gravidez
esperada: o ciclo
na repetição
do efeito: o fato
traduzido.

(Pedro Du Bois, Júlia)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CIRCUNLÓQUIOS

...
tantos desconfiavam dos altares
foram se dispersando em religiões
menores de oferendas e milagres:

não de retornar à casa paterna
dela se afastar mais e mais
que aos pais não cabe atrapalhar
o progresso necessário
ao desmanche dos acessórios
gravados em pedra
e em bronze: na eternização
de inglórias passagens
...

(Pedro Du Bois, POETA EM OBRAS, Vol. IX, fragmento)

sábado, 21 de novembro de 2009

COTIDIANOS

Lembranças da infância
casa rua amigos e árvores
o que não devia ter aprendido
tão cedo
o que nunca consegui aprender
mesmo tarde

não houve a infância como lembro
nem aprendi mais cedo ou tarde
coisas e assuntos e sobre as mulheres

houve instante
entre a inconsciência
e a idade adulta

houve pequena brecha onde sonhei
vidas que nunca tive
caminhos não percorridos
olhares não trocados
mais nada.

(Pedro Du Bois, COTIDIANOS)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

38
São mágicos os dias de regresso
nos pássaros nas vestes na cartola
o riso presente
e o susto no final do número

o curto prazo em que se revelam
as paisagens
e os minutos quedam
no silêncio
com que escutam
as histórias

a bolha desfeita no espaço
ante o olhar do menino que cresce
pródigo em retornos circulares.

(Pedro Du Bois, O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS, Vol. II)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

POEIRA

atrás das vidraças
sujas da poeira
da rua

protegido
e isolado
da poeira
da vida

escondido
e transfigurado
na poeira
do tempo

guardado
e revelado
na poeira
do pote.

(Pedro Du Bois, DAS DISTÂNCIAS PERMANENTES)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

RELATOS

Os sons que deixo de escutar
fazem faltas desconsideradas
na apreciação última dos destroços

destinos assimilados em bailes
de passagens inconscientes
dos ombros onde me apoio
nas horas dos estertores

regresso em alaridos ouvidos
ao longe e me identifico com o ócio
conseguido no atropelo dos assuntos
mal distribuídos entre as partes

queixa maior: o silêncio me enreda
onde não consigo retirar
o nada entranhado em verdade

sou verdadeiro em promessas
diurnas de voltar cedo à noite
e nela fazer mero regaço
não utilizado em dias úteis

mentiras em sorrisos fartos
como enfartado corpo
em dores e suores

quebro o seco óleo que reveste a tela
e dela retiro as fibras necessárias
ao renascimento como arte estanque
do passado diagramado em horrores

não há esconderijo seguro para o talento
ser vivenciado em ordens e progressos
obliterados nos diversos esquemas
dos serviços prestados aos reis
e rainhas desconsolados
pela perda da eternidade

reviro a comida e a desaqueço
antes da desgraça se fazer presente
onde vozes alteradas
repetem temas inaudíveis
aos olhos semi-cerrados na chuva
cortante das águas engarrafadas

não movo a pedra
e na caverna está o corpo
disposto em pétrea cama
onde repousa o espírito

sou o diatribe nas raivas
em que me agasalho dos pecados
e dos demônios tenho os serviços
prestados nos atrasos
com que são acometidos
os seres não possuídos

a alma refrigerada traz o castigo
praticado contra o inocente: a serpente
retira as cenas providenciais dos dilúvios
e os retorna aos seus medos primeiros

caço minha comida e me farto
de dizer meu amor à natureza
que indiferente acompanha
os ciclos e se aquece e enregela
além da imaginação e da tormenta

Chove e nem por isso entendo
a vida que tenho aos compromissos
desaconselhados em premissas
dos parentes e conhecidos

amigos se retiram em pares amparados
uns nos outros fossem duplas paredes
da caverna aberta à visitação pública
antes de ser higienizada
para que as doenças em seu interior
não se propaguem aos ares

fico estanque em minha cadeira
e só as mãos se movem em gesto
de despedida ou arrependimento

os olhos brilham seus segredos
e o sorriso se transforma em riso
desavergonhado dos assuntos
ainda não tratados

há a carta na manga encoberta
na mão que se abaixa sob a mesa
e retira a madeira áspera
com que o inimigo é ferido
durante a conversa oca
em que se transformam
tréguas inigualáveis
da reforma desestruturada
da verdade

trago os odores da batalha
e os dentes arrebentados pela arma
que me atinge desfazendo
a imagem incompleta
da imperfeição tolhida
em nova aventura

agradecimentos se fazem ao longe
e o esquecimento cobre os atos
praticados em nome e pela honra

abdico minha coroa e a deposito
sobre a grama asfaltada
de antigo caminho
fechado ao novo
de velhas ideias
por onde passo
e não passam
novos defensores
da minha especiaria

passado tempo decomposto
em partes desiguais das entregas
apresentadas aos que lutam
pela conservação
e fazem conversações
enganosas dos altos fornos
apresentados em séculos

tenho por lema recitar frases feitas
de elementos espúrios onde misturadas
bondades ditas e maldades feitas
tornam inculto o caldo
destinado à conservação
da espécie

arrebento cercas e solto
sou novamento o mesmo
que foi deixado
em tempo não recuperado
da memória

agradeço aos céus pela disputa
recomeçada e logo estou apto
a novas contendas e do inimigo
faço o escravo do acompanhamento

horas finais arrastadas ao lodo
onde cede o terreno do tempo
remoto: o futuro se avassala
antes que aconteça e o começo
se apresenta em cobrança.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. II)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ESCREVER

No caderno de desenho
as letras constituem traços
e nas palavras revejo
o colorido das pinturas.

Alguns trechos se apresentam
geométricos como as composições
do Córdula

narrativos como a conversa
das mulheres nas janelas
de Flávio Tavares

toscos e primários
como as festas populares
e primitivas da Isa Galindo.

Mesmo que só fugazmente
consiga unir os dois:
O Véu de Noiva em cascata
pintada pela Dalva.

Descanso o lápis sobre o papel.
Não posso deixar a página em branco.

(Pedro Du Bois, AS PESSOAS NOMINADAS)

sábado, 24 de outubro de 2009

ARMAZÉM DAS PALAVRAS

A renovação da vida escuta o discurso
sobre remunerações prêmios e brindes

a vida da pessoa pobre e triste transformada
por obra e graça em feliz a rica

a mão dos deuses sobre a cabeça
na glória indivisível do dinheiro recebido

a riqueza em corpo e roupas no preço
recebido pela ignorância

o não mistério poeira e pó enriquecidos
em radiativo minério e mentiras esparsas

a graça do encontro entre os corpos
na negação da hora aurora anunciada
em discursos negados ao pleito o preito
agradecido na minúcia em que a miséria
se hospeda: casa recebida em herança
de palavras anunciadoras das catástrofes

no meio do caminho a nova raça interrompe
a marcha fúnebre e a cabeça retirada
ao corpo em outras roupas.

(Pedro Du Bois, ARMAZÉM DAS PALAVRAS)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

(DES)TEMPO

Retorno ao tempo, horas refeitas
em brumas, escuras escoras estampadas
em selos descolados, envelopes repousam
sobre mesas, presos, sentimentos
aprisionados, pesos sobre palavras
não enviadas, arremetidas e desoladas
mãos nervosas, o tema sobrepuja
a vontade, materializada dor,
rememoro o trigal e o quintal,
pássaros, raivas e lamentos, o riso
raro emerge memórias, profundas
camadas em pedras não preciosas,
cálculos matemáticos e horror ao vento,
invento o tempo passado: lembranças
impostas ao nada trazido na dualidade
dos seres emprestados aos tantos
fantamas corporificados
em músicas ligeiras.

(Pedro Du Bois, (DES)TEMPO)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A NECESSÁRIA PARTIDA

Aceno no reconhecimento ao adeus
do pranto: ir embora no rompimento
amigável e hostil do ato de partida

aceno e evito olhar o passado

esqueço o travo e desconsidero a hora:
partir é mergulhar o horizonte ao fosco
cansaço do corpo presente

refaço trajetos em acenos
e revolto o corpo

(sonhos permanecem em paredes
onde insone passeio minha vontade)

não aguardo: ofereço a entrada
e desapareço na estrada. Pago a passagem
com o suor da espera e me reconforto ao trajeto

(lembro a imagem errante do espelho
e me pergunto se haverá outro reflexo)

ir embora na culpa por não ter ficado:
reflexiono sentimentos e me faço inteiro
na oportunidade do aspecto e no despropósito:
entrevejo a bruma e no escuro tempo
sou louco cego surdo mudo desalento

(trancado em anos esgano a vontade
e faço do pássaro o espaço vago
na utilização do corpo)

volto ao tempestuoso dos que ficam:
do andarilho o trajeto na cristalização da terra

os pés na escalada: cair e levantar
na necessidade alterada das dificuldades

(deixo as folhas ao veredicto: palavras
não suprem a necessidade de ver o mundo
com os meus olhos)

ergo o punho em vingança: sair
avantaja o ser aos que ficam.

(Pedro Du Bois, A NECESSÁRIA PARTIDA, Volume I, inédito)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

MÚSICA

A oportunidade revela o gesto
da água ao escorrer o corpo: música.

Estar no lugar
da incerteza
e (se) perguntar
sobre a vida trespassada
em palavras.

Oportuno desencontro no espaço
temporizado: música.

Opor ao objeto a sua sombra
e retirar o esboço do contorno.

(Pedro Du Bois, DESNECESSIDADES, REENTRÂNCIAS & ALGUNS REINGRESSOS, inédito)

domingo, 11 de outubro de 2009

A CONCRETUDE DA CASA

2
A casa abre espaço ao corpo:
o portão rememora a chegada;
não prende, liberta na imensidão
das peças: reconhece cada canto
de encerrados encantos; espaço
delimitado ao corpo: cama, roupeiro,
cadeira, escrivaninha; a casa
demarca seu território: espaço
comum na divisão da história.

(Pedro Du Bois, A CONCRETUDE DA CASA, inédito)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

VIA RÁPIDA

28
Rememoração: certa vez encontrou
o futuro irreconhecível em escândalos
de dias aclarados aos fatos subsequentes

correu para casa ao relento.

O rebento nasceu naquele dia:
pela noite.

(Pedro Du Bois, Via Rápida, inédito)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O PRIMEIRO EXERCÍCIO

III
A noite expande
a incompreensão do siso

prejuízo decomposto
em raivas
e medos

(os olhos fechados visualizam
barulhos de acesso)

dorme o sonho inconstante
e ininterrupto: a dor
se apresenta
em cada gesto.

(Pedro Du Bois, O PRIMEIRO EXERCÍCIO, inédito)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

RUDIMENTOS

4
À imagem
espelhada
espalha os dentes
em riste: medo de ser objeto
da carniça

o riso é a última
etapa do esgar
primeiro: começo.

(Pedro Du Bois, RUDIMENTOS, inédito)

domingo, 4 de outubro de 2009

O DESCRÉDITO E O VAZIO

1
Rouba a cena. Introduz
no esquema a arma
descarregada sobre o pobre
corpo. Rico
ambiente
hostilizado.

Assaca salvaguardas
e se prende
em casa. O elevador
desorientado perambula
em vazias escadarias.

(Pedro Du Bois, O DESCRÉDITO E O VAZIO, inédito)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

1.
...
Volta sua lembrança ao tempo das terras planas, suaves
ondulações e a água do mar sob os pés cansados.
Devia ter ficado, ter ouvido, ter vindo, como veio,
e sofre as consequências: que são as consequências
ante o não ter vindo? Perdido instante em que a montanha
vem abaixo no estrondo e nos gritos horrorosos dos passantes.
...

(Pedro Du Bois, O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS,
Vol. I, fragmento)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O COLETOR DE RUÍNAS

Reconhece a voz, a face
na luz do bar: a voz repete
palavras, diz seu nome,
fala do passado, invade histórias

sua mão toca o ombro
e seu hálito esboça
sorrisos: sou eu, diz
a voz, o fulano
de tantas lutas
e festas, o desconexo
viajante das estrelas
e o circunspecto pai
de família; a mulher
sorri o contato:

tristes figuras insensíveis
ao tempo ultrapassado.

(Pedro Du Bois, O COLETOR DE RUÍNAS, 3)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

PAREDES

...
nem o castigo, nem a prisão, nem palavras alegres
demonstram no prisioneiro o cansaço; quer o tempo
para suas diárias premissas, olha através das grades
o tempo apresentado, mira nuvens e o azul celeste
onde se reconhece; alvo desinteressante, passeia
sua sina (presa) entre altas paredes
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. V, fragmento)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

BEZ BATTI

Sente na pedra
a fintitude
e a ultrapassa
em golpes
(razões) irracionais dos ataques
como amar a solicitude
e aos gritos expulsar
do ato a insignificância

- dias rápidos em passagens
permanecem: na pedra a permanência
aguarda nova explosão -

a transformação se adensa
em novas formas
e polimento
e a pedra está além
da finitude: o infinito
da obra
acabada.

(Pedro Du Bois, A LEVEZA DO TRAÇO, uma homenagem ao escultor
João Bez Batti).

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

XXXI

O refrão repete a música em lembrança

árduo reconhecimento
de épocas melhores

o refrão refaz os desencontros

efêmeros toques
em alegorias

o refrão conduz ao acontecimento

gênero decorrido dos estetas
aos olharem embevecidos as obras

o refrão mimetiza as cores

elastece o tempo apropriado
onde guardadas as respostas.

(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A LUZ DESPOSSUÍDA

A luz
as luzes
esperado encontro da visão
e o objeto visto
avistado
iluminado
no instante
em que a razão
cede ao impulso

retorno
como pedra bruta
na terra revolvida
do acariciar da luz
sobre o corpo

a luz do amanhecer
transporta ao início
em fotossíntese.

(Pedro Du Bois, A LUZ DESPOSSUÍDA)

domingo, 13 de setembro de 2009

VERDADES E MENTIRAS

...
inverdades
trocadas em miúdas notas
de dinheiros sujos
no contato diário
das mãos
toscas com que o artesão
empreende seu trabalho
na imitação da arte
...

(Pedro Du Bois, VERDADE E MENTIRAS, fragmento)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

VIDA E TEMPO

A vida que a ti recuso; tens a sede
e o viver em essência, os cabelos
sobre a testa; iluminas a hora e dizes:
conserto o tempo que pedires e serei
amigo sempre; nada mais escutes
e mantenhas aberta a porta: não
terás a mim no sacrilégio e as horas
passarão ao longe; indisponível a lança
se fará curva e a morte a recusa
com que te dirás pronto ao começo.
...

(Pedro Du Bois, TANTAS MÁSCARAS, fragmento)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

YAMANDU

Cordas entre dedos
ágeis
coordenados

cordas entre sentimentos
rápidos
extremados

cordas entre mãos
leves
diáfanas

Yamandu entre cordas
sentimentos
dedos
mãos.

(Pedro Du Bois, OS SENTIDOS SIGNIFICANTES)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CONFUSÕES

...
a música completa a cena
em barulhos e marulhos
o vôo do pássaro informa
sobre o sistema relatado
por último sobre a besta:
estará presente ao desfile
sentará na primeira fila
e comandará o estoque
encalhado em desajustada
feira liquidada na passagem

depósitos entulhados esvaziados
em conversas ocas de amenidades
fora dos lugares adiantados
para encontros e desencontros
de corpos e olhares
...

(Pedro Du Bois, POETA EM OBRAS, Vol. I, fragmento)

domingo, 6 de setembro de 2009

ESPAÇOS DESOCUPADOS

Aos hominídeos
foi dada a escolha
de continuar
conosco
ou desistir
pelo caminho
predatório das civilizações
futuras
de conquistas científicas
e tecnológicas

aos hominídeos coube
o que procuro
no desenrolar
do espaço abrangente
do tempo
e das lembranças.

(Pedro Du Bois, ESPAÇOS DESOCUPADOS)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

COMO ESQUECER

Partir todas as vezes
em que preciso for

não desmerecer a luta
que tantos tiveram
para você poder sair.

Esquecer o tempo ruim

mas lembrar
que ele existiu
para que não se repita.

(Pedro Du Bois, em PEQUENOS ESCRITOS)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

GUARDAR RETRATOS

Retrato na carteira
móvel

retrato no porta-retratos
removível

retrato
emoldurado na parede
imóvel

retrato
guardado na caixa de sapatos:
inalcançável.

(Pedro Du Bois, em REENCAMINHADO)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

LIVRES

6
A liberdade não transparece
no objetivo
trajeto
voto
e consequência

sentido
entre um
e outro

decorrentes escolhas
de frágeis opções

a vida
em que nos sentimos
seguros

não o desejo de ser feliz
não o querer da felicidade
não o poder estar aqui
em realizada vida.

(Pedro Du Bois, em LIBERDADE)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PORTAS E VENTOS

Onde estariam as portas
batidas aos ventos
ao acordar os pares
de seus sonos
cansados dos dias

as portas fechadas
em si encerram
o desconforto
e o decomposto corpo

as portas fechadas
anunciam aos ventos
tempos de reconquistas

ao longo da noite as portas
e os ventos são os nomes
conhecidos dos sentimentos
presos e angustiados
em esquadrias e ares.

(Pedro Du Bois, em PORTAS E VENTOS)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

DESTINO

Espada de fogo
asas
foge o pássaro
ao carrasco

o pouso
sobre a grama

espada de fogo
caça a ave

o carrasco cumpre
sua tarefa

suas asas
não se abrem
sobre nós.

(Pedro Du Bois, em O ESPAÇO VAZIO)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A CASA DIVERSA

A casa permanece
na memória
dos personagens
que vêm e vão

o tempo é exato
em seus atrasos

a casa estabelece
suas bases
e os personagens
vêm e vão

o tempo é estanque
em seus abraços

a casa revalida
os contatos
em que os personagens
vêm e vão.

(Pedro Du Bois, em A CASA DIVERSA)

domingo, 23 de agosto de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NÚMEROS RECONTADOS

Na primeira vez que doeu
o sentimento se manteve vivo
aceso

na segunda vez doeu menos
o sentimento começou a morrer
apagado

na última dor nada sentiu
e o sentimento estava morto
congelado.

(Pedro Du Bois, em NÚMEROS RECONTADOS)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

GOLEIROS

Por mais defensivo
o posicionamento
os atacantes nunca estão
sós

os alas sobem
o meio campo avança
os zagueiros aparecem
de surpresa.

Por mais defensivo
o posicionamento
os goleiros sempre
estão sós

quando desferido
o arremate final.

(Pedro Du Bois, em O MOVIMENTO DAS PALAVRAS)

domingo, 16 de agosto de 2009

TÂNIA

Tu, apenas tu
o sonho dorme e és serena
em tua certeza do conhecer
o meu espanto e os barulhos
que de longe entendes
são teus olhos, fechados
circulando entre mundos, claros escuros
onde os movimentos se penetram
e o corpo - os corpos - pede o gesto
do abandono e da conquista
no que pensa o inconcluso pensamento
na perna entrecruzada sobre a cama
sentes o lenço que acoberta o frio
e teu coração descansa longe
onde estou admirando
o sono em flores que não foram dadas
tu, apenas tu acorda
e sei a glória de estar ao teu lado.
(Pedro Du Bois, em LIVRO DA TÂNIA)

sábado, 15 de agosto de 2009

NÍVEL

XXXI

Ter a sorte de estar presente
ao assunto, o tormento repetido
em lágrimas e a decomposição da carne
na assombração dos sentidos: a sorte
como mais valia entre as linhas
emaranhadas da conquista;
a sorte elementar do sossego;

ter a oportunidade de julgar
o caso em estridências e das partes
apartar sopros de indigência: a sorte
na plenitude do verbo acionado;

a sorte como companheira indizível
dos segredos; ter o condicionamento
abstraído ao racionalismo antagônico
das incertezas encaixadas ao desterro.

(Pedro Du Bois, em A CONFIGURAÇÃO DO ACASO, fragmento)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A MORTE INSANA

Ao morrer
não mais se pertence

parte deixando vazias
suas visões

seus pertences
ex-pertences

pertencem a outros
que ficaram
nos vazios
com que a memória
nos deixa

quando deixamos
de nos pertencer.

(Pedro Du Bois, em A AUSÊNCIA INCONSENTIDA)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

RETRATOS

Na parede
o passado
imprensado: madeira e vidro
sorriso

feições transformadas
no que para
no tempo
fotográfico
cromático
estático
irreconhecível

ah! se o personagem
entrasse pela porta
e dissesse bom dia
como está no dia
da fotografia.

(Pedro Du Bois, em RETRATOS)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

TECER

Emaranhados caminhos
sobem os morros

subir e descer
todos os dias



esmagada aranha
a vida tece.

(Pedro Du Bois, em JOGO DO NADA)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

PASSADOS

Se o passado
for invocado em defesa

feche o livro
sem marcar a página
e o guarde em alta
prateleira

ao passado cabe a inodora
lembrança da coisa feita
desprezada em honras
e vaidades

ao presente, a honra
do que está feito
em decorrência
e a expectativa
da acumulação dos fatos

o dia recolhido explode
os sentimentos e obstrui
a correção necessária
das tormentas.

(Pedro Du Bois, em O LIVRO FECHADO)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

APRENDER

Aprender: soam palavras alinhavadas
presas em redes enredadas em linhas
dispostas em fios de áridos contextos

(refrear a vontade inata
do desconforto e aguardar
da partida a conservação
do feito)
ignorar a receita e consultar
barulhos antepostos no livro
aberto em páginas iniciais.
(Pedro Du Bois, em ALGUMAS PALAVRAS)

domingo, 9 de agosto de 2009

RETORNO

Porque te vejo
altaneira
ultrapassada
e branca

sei do tempo
dos gelos
quase eternos
em que se debruça

pacífico oceano
espera
o que o rio
lhe traz
aos poucos
em retorno.

(Pedro Du Bois, em CASAS EM PEDRAS, Chile, 3).

sábado, 8 de agosto de 2009

A MÃO QUE ESCREVE

III

Escrevo sobre pedras
nada me dizem
bruxas petrificadas

escrevo sobre árvores
pouco me dizem
almas congeladas

escrevo sobre casas
grafitadas
algo me dizem
espíritos concretados

escrevo sobre pessoas
muito poderiam me dizer
corpos santificados.

(Pedro Du Bois, em A MÃO QUE ESCREVE)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

CICLOS

...
vai embora, sabe da espera
o não regresso: nem as carícias
maternas são capazes de fazer
o corpo descer do carro. Em prantos

segue a sina, a canção entusiasma
o espírito em seu caminho, usa
a sua experiência, fosse
o antigo espetáculo não mudaria
seu rumo: ou distância
entre um e outro. O todo
se distancia em poeira e pés
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. XI, fragmento)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

a ÁRVORE pela RAIZ

6 Ao rio avistado
marginalizado em toras
compostas ao rebocador
no final da viagem
desenraizada
se transforma:
atorada ao lanhado
destino: opera a espera
em que se transforma
(o móvel da casa).

(Pedro Du Bois, em A ÁRVORE PELA RAIZ, fragmento)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

RAZÕES

II
quando você chegou
entendeu as razões para a espera

rostos de razões
olhos de razões
boca de razões
corpo de razões

irracionalmente
agradeceu a sua vinda.

(Pedro Du Bois, em COMPORTADAS RAZÕES)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DOS AMORES

17
Das certezas
falamos
ao amanhecer
e no final do dia

do amor
no beijo
de boa noite

das incertezas
que trazemos
sobre o início
e o fim.

(Pedro Du Bois, em DOS AMORES)

domingo, 2 de agosto de 2009

A SENSAÇÃO DO NOME

8 A divindade espia o mito
decomposto em fragilidades.
Alça sobre o pote a ilusão
do afogamento e a tristeza
oferecida como resgate. Odeio
nomes configurados ao desprazer
da hora ultrapassada. A ideia
de postular a ocasião
ao deus desestruturado.

(Pedro Du Bois, em A PALAVRA DO NOME, fragmento)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

SER

Se achares que sou o poeta
contemporâneo
de todos os outros
sou o louco
vendedor de verdes
folhas
imprecisas

sou também o sério senhor
das boas tardes
e do dominó jogado
nos bancos de pedra

não sou o poeta louco
em versos de saudades
nem das águas cálidas
onde murcham as flores

verdes folhas vendidas
pelo louco que atravessa as imagens.

(Pedro Du Bois, em A HORA SUSPENSA)

domingo, 26 de julho de 2009

SURPRESAS

Das surpresas guarda o espanto
com que se descobre
além do mistério

ileso corpo
sobrestado
ao instante.

(Pedro Du Bois, em DESENREDOS)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A PEDRA DESCORTINADA

A bruxa demonstra sua gravidez
indesejada: pétrea maneira de responder
pelo príncipe em sua espera: ao nascer
o filho se torna a maldade da mãe
ou retorna ao início onde o bem
emana. A saudade determina. O grito
ouvido ao longe. A bruma sabe
da espera e aguarda o tempo
em que a história se faz mistério.

Ordens e tambores no avanço
das tropas. O príncipe comanda
o exército e a bruxa conhece
o caminho da corda
e da fogueira.

O sacrifício da mãe
no instante em que nasce
o príncipe. A história
e as pedras ficam
na enseada
como aviso
e recado.

(Pedro Du Bois, em A PEDRA DESCORTINADA)

HABITUAIS, em CINOSARGO

Um poema meu,

Habituais

em:

http://cinosargo.bligoo.com/content

quarta-feira, 22 de julho de 2009

BREVES GESTOS

Se as palavras encantam

o menino
sai a brincar com elas

comunhão entre corpo
e espírito

hora em que a bicicleta
libera o corpo
o vento no rosto
conduz o corpo
a história
é seu próprio corpo

no encantamento do menino
sintetizando milhares de anos
culturais
o princípio
se apropria e permanece.

(Pedro Du Bois, em BREVES GESTOS)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

VIR

...
vir como viesse do nada
e sempre estivesse a caminhar
sereno ante a tempestade
avizinhada em lágrimas
decompostas nas histórias
repetidas pela mulher que tece
seus panos e suas toalhas
e nelas repousa a face
serena dos desesperos

quando não há mais nada a ser feito
o desespero se mascara em finas teias
onde aranhas perdem o rumo
despencando sob as solas
dos sapatos que as pisam
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. VI, fragmento)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

LUÍSA

VIII

Júlia brinca: sabe da existência
do que não apreende (ainda).

Seus gestos ecoam
a solicitude do encontro.

Antes brinca sua inocência.
A avó sorri confianças

e eu
descrevo o acolhimento.

(Pedro Du Bois, em LUÍSA)

terça-feira, 14 de julho de 2009

CANTOS

1
Diversa na multidão
a criança, isolada,
canta em voz baixa:

"Água quente
água quente
passo molhado
passo pra frente."

A água cobre seus pés
e reflui o sorriso em sua face.

Cadenciadamente
repete o canto.

(Pedro Du Bois, em A OBRA NUA, 2º Ato, fragmento)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

APRENDENDO A VOLTAR

II

Revolta a água
teima em ficar
dentro da vasilha

ondas impedem
a visão
do fundo

revolto o tempo
ao aprendizado
e me digo
esquecido
das vinganças

esquecer o castigo
é começar a aprender.

(Pedro Du Bois, em APRENDENDO A VOLTAR)

domingo, 12 de julho de 2009

O LIXO REVOLVIDO

A permanência simula
o passar de olhos
objetivos escassos
de palavras, a cerimônia
de aproximação, oráculos
ensandecidos: os degraus da escada
conduzem passos, descompassados
no subir e descer, bifurcados
caminhos do desconhecimento,
o perigo do encontro, o cruzamento
como resposta, o passar os olhos

rápidos contatos e a fuga sobreposta
em ressacas: passado, desconsolo
pelo instante fugaz, não há nada
no amanhã: a permanência
dos papéis na lata de lixo.

(Pedro Du Bois, em O LIXO REVOLVIDO)

sábado, 11 de julho de 2009

RETORNO I

..
o peregrino aprisionado
pássaro em areias
charcos
florestas

a prisão se fecha
em si mesma
dos meus pecados

sou estranho personagem
aproximado aos poucos
na cautela dos passos lentos
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS VIII, fragmento)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

NEVAR

Nada sinto
diante da montanha

longe o branco
nada me diz

estrangeiro

sou por inteiro
o barulho
do condicionador
de ar

a montanha
longe

vaga lembrança
infeliz.

(Pedro Du Bois, em A INCERTEZA DA VIDA)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

COISAS

Continuo acordado
enquanto a casa dorme
e o sono
injusto dos instantes
se transforma no desencanto
de olhar as paredes
e a cidade imersa
em silêncio

os cães que latem
são as diferentes coisas
que me fazem perceber
a necessidade do sono
na restauração das imagens
diurnas das tragédias

não há tragédia na noite igual
ao silêncio elencado pelo corpo
na substituição do não repetido.

(Pedro Du Bois, em OS CÃES QUE LADRAM)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

PROMESSAS

...
o quarto desfeito
em camas desarrumadas

a luz acesa e a mala junto à porta:
promessas de infelizes maneiras de ir embora

o pássaro entra pela janela e se apavora:
se debate no que entende ser seu trajeto

sangra a ave: sangram corações infelicitados
que não podem cobrar as promessas

sangram corpos atingidos pela arma
cruel
e sanguinária

necessária ao alcance dos cumprimentos.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, vol. VII, fragmento)

terça-feira, 7 de julho de 2009

PASSOS

Escuto o som
decifrada rua
nua a pedra
onde trafego
tropeço
sério
seco passo

o som traz a lembrança
antecipa a desconfiança
com que se mostra ao novo

indecifrável a rua muda o passo
de quem passa
escolhendo a pisada
trôpega séria empertigada

o som completa o quadro
onde o medo esconde
o sentido e o fracasso.

(Pedro Du Bois, em A ILUSÃO DOS FATOS)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O POETA E AS PALAVRAS

Poesias
transcendem
as palavras:

amizade
realização
amor
esperança
perdão.

Polir a pedra:
primeiro poema.

(Pedro Du Bois, em O POETA E AS PALAVRAS)

domingo, 5 de julho de 2009

DEFENDER

Do metal, a têmpera
com que forja a arma

alma irresolúvel
onde a montanha
desbastada, destruída
mostra das entranhas
a terra restante

sua alma
arma inviolada
das defesas.

(Pedro Du Bois, em DESENREDOS)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A LUZ DESPOSSUÍDA

A luz solar
o luar
o lume
o vaga-lume
a lamparina

as sombras do acontecido
na urgência da emergência

a lâmpada utilitária
acesa na noite
insone.


(Pedro Du Bois, em A LUZ DESPOSSUÍDA)


terça-feira, 30 de junho de 2009

AVISTAR

visto o espaço percorrido
faço contas, escorregam
e o barulho sobre o papel
enlouquece: nenhum resultado
absorve a culpa de estar vivo
amedrontado da possibilidade
de não corresponder aos anseios
do carrasco. Atender ao pedido
expressado em ofensas e oferecer
a outra face: bíblica face exposta
ao tempo mensurado do ataque

como pássaro ultrajado
calo a voz, escureço o choro
e no canto da peça me separo
entre o hoje e o ontem:
ao contrário do esboço
ouço a ordem em reparos.

(Pedro Du Bois, em A CASA DAS GAIOLAS)

domingo, 28 de junho de 2009

CIÚME

O rosto
demonstra
desassossego
no que vê
internamente
no que lhe contam
inutilmente
no que entende
antes do tempo
tenso rosto
e a janela
cortina
aberta ao futuro
que não retorna
a esquina se faz longe
o rosto tenso
aprisiona o ciúme.

(Pedro Du Bois, 6° Concurso Nacional de Poesias “Poeta
Nuno Álvaro Pereira”, Editora Valença, RJ)

sábado, 27 de junho de 2009

SILÊNCIO

O vestido de noiva
usado
no silêncio
do quarto
guardado
como troféu
do momento
não acontecido

o dia seguinte escurece
o trato feito
no despeito
do ato não acontecido

o vestido de noiva guardado
dos olhos de quem
se perpetuou
na solidão do quarto.

(Pedro Du Bois, em SEMPRE MULHER)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

PRÊMIOS

...
realizou seu sonho de menino
espantado aos anos posteriores
na reclusão espúria das centelhas
não luminosas da tardia hora
em que as batalhas são suspensas
para a retirada dos cadáveres

sua guerra instestina germina
a colheita derradeira do vindouro
tempo desaconselhado
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. III, fragmento)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

CHUVA

Pergunta o cego sobre a chuva
nascente escura

só o gesto retém a água
em gotas

como explicar?

A mão estendida recolhe
o que sente o corpo

não há resposta
para a dúvida persistente.

(Pedro Du Bois, em AS MÃOS EM CENA)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

TRAJETO INVERSO

Seríamos juntos
fortes
separados
fortes
adversários

perdido o jogo
voltamos juntos para casa

na derrota nos reconhecemos
irmãos.

(Pedro Du Bois, em TRAJETO INVERSO)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MAR ABERTO

Aportado
Ancorado
Atracado

Na beira mar
Meu cais de tranquilidade

O sargaço impede a saída

Sarcasmo com que o barco
Flutua

Preso
Para sempre.

(Pedro Du Bois, em MAR ABERTO)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

FLORES & FRUTOS

A seca árvore
rebrota na época própria

secos sentimentos

desbotam o ser
no passar do tempo

sem volta

a natureza se recompõe
em ciclos regulares

o homem fenece
em amores terminados.

(Pedro Du Bois, em FLORES & FRUTOS)

terça-feira, 9 de junho de 2009

OS DIAS INDIFERENTES

Quarta-feira

1
Obscuro homem
sentado na cadeira
voltada para fora
da sua vida e da minha

sem pensamentos e lembranças
descompromissado e incógnito
no preguiçoso passar dos dias
em que as horas são apenas
o voo do pássaro e seus gritos

2
nenhum sentido em vista
e da vida terá respostas
a preguiça e a desavença
a profecia cercando
a noite de estrelas frias

os olhos fechados ao mundo
sumido sorriso esboçado
as mãos segurando firme
as guardas da sua cadeira.

(Pedro Du Bois, em A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

AMARES

Há o mar
Amargo em Sais
Molhado em águas
Recorrente em ondas

Há o amar
Amargos sais
Molhadas águas
Recorrentes ondas.

(Pedro Du Bois, em AMARES)

domingo, 7 de junho de 2009

CRER

XXXII

não creio que a história
em farsa renovada
seja o esqueleto no armário

o buraco da agulha se oferece à linha
e o camelo passa na repetição
do refrão da garrafa aberta
ao convite, a conformidade
em me saber aprisionado
na rede tecida em aranhas
representa o amanhã fechado
ao acaso lamentado das repetições;

a farsa gera o riso dramático
da exposição do corpo ao ridículo

a grade embaçada se transforma
em partes musicais e do silêncio
retiro o histórico adormecido.

(Pedro Du Bois, em A CASA DAS GAIOLAS)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

PALAVRAS

...
feito assim desfeito em passos
decorridos dos dias em que as roupas
se ajustam e o corpo pede o silêncio

somos da música
o silêncio
e o gesto guardado
de outros dias

descruzamos as pernas
com que sustentamos
o corpo familiar
em palavras ocas
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. IV, fragmento)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

MARINA

A mulher
gesta
o filho (a filha esperada
no corpo
que se transforma)

conduz o feto à transformação
da forma: o último utilizado
como espera, o cordão inernaliza
os seres.

A mulher
gesta
o corpo (a filha se desenvolve
no espaço necessário

permitido ao rebento
que cresce na opção
da vida).

(Pedro Du Bois, em Júlia)

terça-feira, 2 de junho de 2009

XLVIII - A Coisa Condicionada

Ordeno ao objeto sua funcionalidade
e me resguardo em corpo humanizado.
A tendência e a transcendência
da coisa considerada. Do que me alimento
retiro a essência da coisa combinada.

Objeto transmitido em ondas
sou o corpo despertado: coisa
concretada.

(Pedro Du Bois, em OS OBJETOS E AS COISAS)

domingo, 31 de maio de 2009

FICAR

...
esquinas se repetem onde quer que esteja.
No início conviveu com elas: cansou
e as deixou para trás, foi alcançado
em cada abandono: escolhas requeridas,
olhares atravessado, a raiva
de não exercer a negação: nenhum
caminho é o destino
e em passos calmos
se afasta;
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Volume X, fragmento)

sábado, 30 de maio de 2009

COTIDIANOS

Lixadas unhas
irregulares
cantos carcomidos
em mordidas

desprezadas cutículas
mal tratadas

no cumprimento
olha
avalia
quem lhe estende
a mão

como aprendeu em casa
sobre unhas limpas
e bem tratadas.

(Pedro Du Bois, em COTIDIANOS)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

AFAGAR

Afago o rosto
que olho agora

em outros olhos

escolho o caminho
traçado na pluralidade
dos conflitos e debates

dialeticamente

estorvo a passagem
de outros pássaros
negros

simples, afago o rosto
que agora me olha.

(Pedro Du Bois, em DAS DISTÂNCIAS PERMANENTES)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

40.
estar aqui e lá
ser o verde e o azul
o pássaro e o réptil
a escrita e a fala
visão e tato
o claro escuro das histórias
de amores irrespondíveis
em desejos tolos
o talo das plantas
ressurgido em seivas
capturadas ao solo

presença e ausência
lembrar e esquecer
ter você e lhe perder
como predador e presa
pedra e plástico
o amanhecer traz a luz
que não se esgota e aguarda
a outra volta

a semelhança e o desconforto
do não reconhecimento.

(Pedro Du Bois, em O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS, Volume II)

terça-feira, 26 de maio de 2009

CIRCUNLÓQUIOS

...
esquecer os erros repetidos resulta
em complicações estéreis sobre a natureza
e a aritificialidade como tratados os direitos
e os haveres dos investidores: anualmente
são publicados balanços e gráficos
com informações pertinentes e o trabalho
é auditado interna e externamente: estranho
seria se não fossem encontrados erros: todo
trabalho conduz imperfeições e o resto
é resultado do esforços em fazer o certo:
os acertos demoram: são tentativas; não há
vontade, desídia ou má fé; mandatários não
respondem pelos erros no exercício dos cargos,
lá estão para responsabilizar na linha de montagem
- e nos estanques cubículos e saletas -
os que se opuseram de maneira acintosa
aos destinos dos negócios: aos desatinados
cabem os arrependimentos e o contrangimento
de serem mandados embora
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, vol. IX, fragmento)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

(DES)TEMPOS

Certezas
nossas pequenas
pontas da verdade

o que nos tranquiliza
na travessia
das incertezas diárias.

(Pedro Du Bois, em (DES)TEMPO)

domingo, 24 de maio de 2009

A CASA EM PROCURAS

Fomos os filhos
não pródigos
nem sectários

duráveis e compreensivos
não como filhos
mas como pais que fomos

nossas casas permanecem
aonde vamos
nossas casas nos acompanham
onde ficamos

somos filhos
inocentados dos crimes
originalmente cometidos

não carregamos pecados
nem escutamos sermões

permanecemos no cadafalso:
curvadas, nossas costas nos acompanham
no martírio da passagem.

(Pedro Du Bois, em A CASA EM PROCURAS)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ARMAZÉM DAS PALAVRAS

Poder
detido

poder
contido

repartido

quando se solta
incontido

em tantos
poderes

populares

uns e outros
todos

(Pedro Du Bois, em ARMAZÉM DAS PALAVRAS)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

(DO QUE SEI)

...
lamentável ausência ressoa vagamente
na lembrança despossuída em divagares
descompassados das cassandras
lentas em não profecias
ágeis nas mãos que me aprofundam
a pele em contatos atípicos
das relações menores

esquecido em minha base transformada
em mares singrados nas velas firmes
dos ventos calmos: calmarias esquentam ódios
de onde provêm o agudo grito das sereias
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, vol. II, fragmento)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

NÚMEROS RECONTADOS

Em três atos
o palco
resume
a vida

no entreato
as luzes
iluminam
os corredores

pessoas saem
para fumar

luzes apagadas
cortinas cerradas

permanece a vida
resumida
em cada um
de nós.

(Pedro Du Bois, em NÚMEROS RECONTADOS)

terça-feira, 19 de maio de 2009

SERES

1
Ser o incompleto arcabouço; silêncio da música,
desavença e amor descontrolado; paixão manifestada
no signo reapresentado como novo; o incômodo
e a honestidade perseguidos. Ser ainda e depois
na visão antagônica. De repente não ser apenas
a semente em vida para vingar a morte aproximada.

(Pedro Du Bois, em SERES)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

entropia



a vida
nasce
da vida
e cresce

esbarra
escuma
escora
esfola

e
escava
a cova

que
a morte
arruma

Domingos da Mota
http://fogomaduro.blogspot.com

domingo, 17 de maio de 2009

FRÁGEIS

São sensíveis os livros
impressos com os sentidos
estudos históricos
e a vida do escritor

por isso ficam
protegidos das vitrinas
e das prateleiras da frente

o burburinho os agitam
e seus textos imóveis
sofrem a pressão dos dedos

o dedo acompanha
a leitura e os lábios
repetem as palavras
escritas

sofrem os livros frágeis
escondidos nos espaços
escuros das prateleiras

onde brilham
e são encontrados.

(Pedro Du Bois, em O LIVRO FECHADO)

sábado, 16 de maio de 2009

SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS

Fronteiras
se destacam
em desigualdades: ambos os lados
se ofendem em salvaguardas

a diferenciação dos corpos
sobre mentes distantes
uma cerca
um rio
uma ponte
um sorriso
e uma morte

a ilusão de que a diferença
sobreposta ao gesto
gosta do que vê

ouvir hinos diferentes:
considerar verbos
e saber que a distância
se estende em capitais
além da compreensão
de leis
e ordens

desordenadamente
repetidas na singularidade
das roupas sóbrias
na sobriedade do acaso
no ocaso das dificuldades

a quantificação entre possibilidades
permite acompanhar olhos dispostos
na linha de defesa: o ataque solidário
dos animais indistintos em sotaques

afrontar a terra ao lado
ladear a conquista do território
tornar terra inconquistada

quando olhar ao horizonte desprezar
a cerca
acercar-se
do que pode ser a igualdade

talvez os deuses sejam os mesmos:
a contrição igual
o pecado original
a culpa acidental

não se remoer pelo outro
nem reacender a chama
nem rescender o perfume
da fruta aqui
e ali
perpetradas
em árvores
singulares

fronteiriça: a linha imaginária
se realiza na alça de mira

olhares alcançam horizontes
humanamente desprovidos
da largura
da profundidade
do aprofundamento
naturalmente
colocados
pela ação
da terra
ante
o tempo
assim considerado

seus olhos repousam sobre os meus olhos
seu corpo disposto em alinhamento
seu sexo ocultado em uniformes

a uniformidade conduz o desgosto
no sofrimento pela (não) passagem

conserva a esperança de ser irmão
e irmã: sem servidão destacada
na aridez do solo
na serventia do caminho
na solidão

frente a frente: em frente ao consolo
repousam mãos elevadas em entrega

consumir o espaço: cada dia entender
(ou sonhar) o despropósito: descoser
a linha: esgarçar a distância
em romperes de aurora

acordar ao lado e saber-se
estrangeiro.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O COLETOR DE RUÍNAS

13
Onde esteve escondido: o interior do nada
sob águas de primaveras - o acasalar
dos insetos e o despertar das folhas:
esperanças guardadas em fortalezas

por onde andou entre comidas
e festas: a fresta da janela
entreouvida em dúvidas
pelos pássaros recém
chegados.

Pensa retornar ao quarto prazeroso
e o estilo habitual se acomoda
entre sujos lençóis: a cabeça explode
dores em pensamentos inócuos.

Repassa papéis assinados
e os joga ao lixo: desaproveitados
como documentos.

(Pedro Du Bois, em O COLETOR DE RUÍNAS)

terça-feira, 12 de maio de 2009

AMORES

O amor em périplos de esperas
guarda a paixão; o abraço
dos haveres; a face do desejo
inconsumido; a oração desmerecida
ao carrasco: o vaso contém da folha
a flor em pétalas: quando o amor
floresce e o tremor sobressai
ao corpo. A dama repleta
de hospitalidade: aos filhos
cabe ressarcir os anos atravessados
em lutas de adjetivos: o amor
desmerece o exílio, exige regressos
e evita as condenação indigestas
dos julgamentos: o estar ausente
ao futuro, o desdizer do grito
em comédia, a oferta
das promessas: o amor
desdobrado em ameaças.

(Pedro Du Bois, inédito)


segunda-feira, 11 de maio de 2009

O JARDIM DO LABIRINTO


Ser do jardim o caminho

entremeado em flores


folhas decompostas

ao solo, tardio

em geometrias: teu

o labirinto onde formigas

carregam o destino recortado

e o medo avassalado: nada

se compara ao jardim

destruído em pedras

e inços: o jardim

das maravilhas perdido

em curvas indecifráveis.


(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 7 de maio de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

...
do vento, invente as próprias glórias e as declare
de utilidade pública: votos depositados
em casamatas escuras; rápidos
gatilhos acionados, a saraivada
de tiros, balas perdidas em paredes
ocas, corpos sobre calçadas de transeuntes
embebedados em medos: receios infundados
e o traçado do grafite delimita territórios;
podem os temores serem recorrente
das limpezas: marmóreo olho ainda aberto,
corpo despedaçado em amores, lembranças
sobre mesas desarrumadas: restos. Sextantes
apoiam a viagem não programada: fugas
dos territórios amigos desconhecem
as pessoas, barreiras humanas
na explicitação das ideias; arroubos
juvenis na recepção aos convivas
oficiais; cena remetida à integração
entre palco e plateia: os primeiros
desencontros: falar e ouvir, reticências
e a promulgação da lei: falácia em código
onde atos são tipificados e o nada
é inexistente; presentes e cientes
longínquo e do perto amor: crisálidas,
beijos e abraços; a traição cega
a inteireza do ser.


(Pedro Du Bois, em O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS,
Volume I, fragmento)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

TEMPOS

Reduzido
ao outono
- tempo presente -
me ofereço ausente
de retornos
- tempo presente -
tangente exposta
sou aposta: apontado
ao destempero vicejo
invernos desiguais
- tempos aparentes.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A LEVEZA DO TRAÇO

Frutas
vasos
toalha
mesa

a mão do artista
plasticamente
percorre o ambiente

na combinação das peças
nos remete ao mundo
da admiração consciente

estendo a mão sobre a tela
e aproveito o contato.

(Pedro Du Bois, em A LEVEZA DO TRAÇO)

domingo, 3 de maio de 2009

DIAS

Dias em que nuvens superam os horizontes
e voltamos para dentro: caramujos caseiros
desdenhamos as luzes e nos recolhemos ao sal
que nos desmancha os corpos: poderíamos enfeitiçar
o verde que da mata nos observa: silencioso silvo
da serpente nos acorda em lágrimas
silvestres de amostras e os telhados pontilham azuis
celestes: do outro lado gargalham vozes
sem sentido: fazem do encontro o acordado
em sutis toques com que se fecham as conchas.
Mostram os dias no infinito ardor emparedado
aos bilionários anos de sagrações e esperas: antes
fossem transformados na liquidez da espécie
e retirassem as demonstrações de afeto e graça
...

(Pedro Du Bois, em POETA EM OBRAS, Vol. V, fragmento)

sábado, 2 de maio de 2009

MANDAR E FAZER

Do que foi dito
memória

jogos de lembrar

do que foi feito
história

jogos de mandar

dizer e fazer

próximo
distante

na materialiação do verbo
na desfragmentação do ato.

(Pedro Du Bois, em TANTAS MÁSCARAS)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

CURITIBA


Leminski
tinha razão
muito mar
passou por aqui

Leminiski
tinha razão
sobre a eternidade
da juventude

Leminski
não teve razão
ao ir embora
antes que o mar voltasse

antes findasse
sua eterna juventude.

(Pedro Du Bois, em AS PESSOAS NOMINADAS)

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A RECRIAÇÃO DA MÁGICA

VII

Não posso me desobrigar
das intenções
nem me exilar
em praias além
das imaginações
nem me recolher
ao gesto das entrelinhas

as obrigações reverberam
músicas em prelúdios
ouvidos em exílios parcos
de recolhimentos

não posso me furtar
aos olhos imagéticos
dos bruxos que me cercam
em pedras.

(Pedro Du Bois, em A RECRIAÇÃO DA MÁGICA)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

VERDADES & MENTIRAS

...
enternece a música
a voz se cala
o final da fala
afina o fim
como o princípio
dito em versos

inanimados espantalhos
ante a porta
atentos espalham
pássaros ao vento
...

(Pedro Du Bois, em VERDADES & MENTIRAS, fragmento)

terça-feira, 28 de abril de 2009

A AUSÊNCIA INCONSENTIDA


águas salgadas
buscam corpos
brancos
no banho

águas turvas
buscam
vítimas
em dourados corpos

águas tépidas
convidam corpos
a dormirem o sono
que se inicia

águas movimentam
corpos que já
lhes pertencem.

(Pedro Du Bois, em A AUSÊNCIA INCONSENTIDA)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A LUZ DESPOSSUÍDA


Porque a vela
consome sua cera
e resina

o pavio
no que queima

resta informe
a cera
e a resina

do pavio o cheiro
que se espalha
e cessa

a luz se acaba e se multiplica
no que alcança
e incendeia.

(Pedro Du Bois, em A LUZ DESPOSSUÍDA)

domingo, 26 de abril de 2009

DOR

Pensa em repartir
o pão na ceia
dividir o vinho
que beberá
entre sorrisos
cúmplices

falar sobre o amor

dispensar a dor
na hora
em que o assaltante
se anuncia
e a arma faz derrubar
o copo e o pão
sobre o piso frio
onde os pés
esmigalham
conversas de amor
e a dor
comparece.

(Pedro Du Bois, em DAS DISTÂNCIAS PERMANENTES)

ACOMPANHAMENTOS


A música em espiral
amplifica sons que se repetem
em novas voltas e renovam
a amplificação da música.

...
O som melancólico anuncia
na noite o que deixo
de fazer durante o dia.

...
O sincopado som
que se aproxima
e diminui o ritmo
na dúvida da partida
e da chegada.

...
A suavidade implícita
na clareza do som
anunciado como anjos
de celeste céus
na sagração da vida.

(Pedro Du Bois, em OS SENTIDOS SIGNIFICANTES)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O QUE DEVE SER FEITO

...
queria refazer a dor

duvidar da integridade
com que se apresentam
rostos restritos
na contrição das mãos
sobre o corpo

destroços recolhidos
em restos plásticos
do todo fragmentado
na dúvida em que
repete os gestos
suspeitos da noite
...

(Pedro Du Bois, em POETA EM OBRAS, Volume I, fragmento)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ESPAÇOS DESOCUPADOS

Na profundeza do rio
a água esconde o lodo
sacrificado de antigos caminhos
de águas na travessia
com que me anuncio
em dias repetidos

sei dos amigos envolvidos em projetos
de vidas consequentes: compromissos

a água se renova aos poucos
nos intantes em que o leito
recupera a cobertura e se destaca
em esteiras de espumas

há vida entre amigos
e as águas refluem
ao começo: permaneço.

(Pedro Du Bois, em ESPAÇOS DESOCUPADOS)

SUBURBANO

Da selva conheço
pouco

suficiente saber
que não me diz
respeito.

(Pedro Du Bois, em POUCAS PALAVRAS)

terça-feira, 21 de abril de 2009

DORES



O que dói não é a dor em si
nem o ponto atingido

dói saber que nada fiz para que doesse
que a dor é maior que o acontecido

dói
apenas.

(Pedro Du Bois, em PEQUENOS ESCRITOS)

domingo, 19 de abril de 2009

TRAJETO INVERSO

isones horas

passeio
palavras
silêncios
pensamentos

desesperadas lembranças
melancólicas

a saliva espessa
o assobio na rua
(alguém passa
indo para casa?)

no quadro escuro da janela
vejo o carro na rua

em disparada
fosse eu indo embora.

(Pedro Du Bois, em TRAJETO INVERSO)

sábado, 18 de abril de 2009

MAR ABERTO

Aportado
Ancorado
Atracado

Na beira mar
Meu cais de tranquilidade

O sargaço impede a saída

O sarcasmo em que o barco
Flutua
Preso
Para sempre.

(Pedro Du Bois, em MAR ABERTO)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

FORMAS


Desprezo a representação
enganosa dos extremos
traços que me importam
verdadeiros os objetos
abstraídos ao espaço

os prefiro ausentes em limites
e distintos aos objetos existentes
como máquinas
e maquinarias diversas
em reconhecimentos

a representação deforma a ideia
traduzida em olhos distintos
e corrompe as maneiras difusas
dos entendimentos abertos
à compreensão da verdade

a forma tracejada
permite aprisionar a liberdade
anteposta aos julgamentos e risos.

(Pedro Du Bois, em LIBERDADE)

IDEIA SOBRE ESPAÇO

A ideia de ocupar
o mesmo espaço: dois corpos
interpostos

(o sentimento
e o consentimento)

o espaço vago
ampliado
no entrelaçamento

(um corpo dentro
do outro).

(Pedro Du Bois, em O ESPAÇO VAZIO)

terça-feira, 14 de abril de 2009

A CASA DIVERSA



CasaRio
desarmado concreto
em seu leito

areias soltas

margens fechadas
onde habito
o que levo
na passagem

águas paradas
onde deixo
minha vida
estabelecida

profundas águas
de casarios
estanques.

(Pedro Du Bois, em A CASA DIVERSA)

A OBRA NUA

Prólogo

Despido em entranhas
na estranheza do contato
refluo ares. O erro predispõe
corpos ao delírio e a fantasia - amiga
e desconfiada arma - embute ideias
consagradas.

A nudez clarifica a massa
de manobra onde desculpas
cedem esboços ao cansaço.

Contrafeito, desfaço a inocência
em luzes de povoadas sombras
emparedadas aos acontecimentos.

Por isso, começa a girar
o estupor do dia amanhecido.

(Pedro Du Bois, em A OBRA NUA)

GESTOS

Aos horrores concedo o entrevisto
choro da criança desacostumada
ao novo.

(Pedro Du Bois, inédito)