quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A NECESSÁRIA PARTIDA

Aceno no reconhecimento ao adeus
do pranto: ir embora no rompimento
amigável e hostil do ato de partida

aceno e evito olhar o passado

esqueço o travo e desconsidero a hora:
partir é mergulhar o horizonte ao fosco
cansaço do corpo presente

refaço trajetos em acenos
e revolto o corpo

(sonhos permanecem em paredes
onde insone passeio minha vontade)

não aguardo: ofereço a entrada
e desapareço na estrada. Pago a passagem
com o suor da espera e me reconforto ao trajeto

(lembro a imagem errante do espelho
e me pergunto se haverá outro reflexo)

ir embora na culpa por não ter ficado:
reflexiono sentimentos e me faço inteiro
na oportunidade do aspecto e no despropósito:
entrevejo a bruma e no escuro tempo
sou louco cego surdo mudo desalento

(trancado em anos esgano a vontade
e faço do pássaro o espaço vago
na utilização do corpo)

volto ao tempestuoso dos que ficam:
do andarilho o trajeto na cristalização da terra

os pés na escalada: cair e levantar
na necessidade alterada das dificuldades

(deixo as folhas ao veredicto: palavras
não suprem a necessidade de ver o mundo
com os meus olhos)

ergo o punho em vingança: sair
avantaja o ser aos que ficam.

(Pedro Du Bois, A NECESSÁRIA PARTIDA, Volume I, inédito)

5 comentários:

  1. Amigo Pedro Du Bois
    Sentimos uma emoção em ler e sentir seus lindos versos. Quando os escreve, sabe que ao ler teremos a sensação da primeira vez, e é inédito...
    Lindos, parabéns!
    Um abraço e tudo de bom.
    P.S.Onde encontramos seus livros?

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  2. Caríssimos Zilda e Antônio, tenho apenas um livro sendo comercializado, em Portugal, pela Corpos Editora. Nem eu tenho volumes disponíveis. Meus livros são - via de regra - feitos artesanalmente, ou seja, em casa, em tiragens mínimas, não comerciais. Mandem-me o endereço e remeterei. Abraços e grato pela companhia. Pedro.

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  3. Sempre um prazer passar por aqui.

    Parabéns pelo blog e pela belíssima produção.

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  4. Obrigado de sempre pela generosidade e palavras, poeta! Brax!

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  5. Caríssimo Poeta,

    Inicialmente, grata por seu comentário em meu artigo (site Debates Culturais), sempre há o que aprender com o outro.
    Passei aqui pra agradecer e li teus textos imediatamente.
    O poeta tem sede de poesia, ler a poesia, comsumi-la verticalmente e eu, abado de me fartar.

    Abraços em sua alma

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