terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

ELOS

Acorrentados
em amizades
indestrutíveis

ansiamos
a liberdade
dos inimigos.

(Pedro Du Bois, inédito)


domingo, 26 de fevereiro de 2017

LARGO

Não alargo
demasiadamente
o caminho

posso perder
as lateralidades.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

SER

quem se desvincula da família
e na solidão repete o nome
na exaustão do irreconhecível

destaca nas frases
os gritos de fadiga

quem entre parentes
nega o sangue na lividez
do encontro: sugere a fuga
transposta na imagem

usa em cada texto
as mesmas palavras

quem em casa abre as janelas
no balcão suspenso de raivas
acobertadas pelo nome
no sangue deletério

conserva o sentido inicial
do verso de forma conclusiva

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

PAIXÃO

O tempo da paixão
encerrada em portas
destrancadas: na rua
pulsa o inexato
no retorno

esgarçado amor movido
em abraços não recebidos

ecoa em série inconclusiva
a lágrima suspensa: o suspense
                 no rosto espelha
       a hora antecedente

a rua absorve na noite
os transeuntes que engole
em ritos de magia

na pardacenta paixão
irresolvível.

(Pedro Du Bois, inédito)


sábado, 18 de fevereiro de 2017

AVISOS

Aviso aos claudicantes: não existe o tigre
místico e suas manchas são falsas pistas
do mistério. Abro os olhos ao monstro
sob as cobertas: outro dia em que a rotina
é caminho traçado pelo minotauro

aviso aos navegantes: mares impróprios
no canto das tormentas vislumbrado
na sereia sobre a pedra atomizada
pela cristalização dos humores

aviso aos transeuntes: em noites de lua
transitam sombras em calçadas exatas
na agonia do cerco ao meio dia.

(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

ALÉM

longe a torre
anuncia vozes
na chegada

além a chuva
se estende na linha
do horizonte

a tudo assisto
calado

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

VEZES

Na primeira vez
nervoso
na estrada
acompanhei a sua passagem
senhora

voltei para casa
trêmulo
da sua visão

na última vez
não acompanhei
a sua passagem
senhora

nem voltei para casa
morto
em sua visão.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 12 de fevereiro de 2017

MAL

Da maldade
emergem sombrias
formas de desalento

tomam luzes
engolem cores
transformam dias
               em noites

despetalam flores
derrubam pássaros
caçam animais silvestres

predadora maldade
disfarçada em sorrisos
                         banais.

(Pedro Du Bois, inédito)


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

CIGANO

Cigano em si
reflete-se nas cartas
e risca na mão linhas
imaginárias do futuro

andarilho em linhas tortas
pede abrigo ao sedentário
de quem colhe os frutos

imagina o mundo permanente
em seu redor: sente o frio
verão das vendas escamoteadas

não tem o abrigo
e sob tendas remete
ao início: a música dança
em seus ouvidos e cartas
se abrem em jogos inconclusos

cigano em si
desatina desencontros
tardios de serenidade.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

FOTOGRAFIA

Confisco a fotografia
em relembranças
desbotadas: onde
o tempo fotografado
na imensidão ampliada
da saudade.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

RETORNAR

                                          Apuro o passo
                                          no retorno

minha noite finda
em relento: apressado
cruzo caminhos
reconhecidos
na aspereza

o retorno necessário
               indelével
               inalienável

chove sobre meu corpo exposto
o barro suja meus sapatos

                a água purifica a essência
                do que levo embora

                retorno sobre passos
                apurados
                acurados
                no acaso de estar ciente.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 4 de fevereiro de 2017

ARMAS

Despreza a arma
                   arma a tarde
                   oferece o pouco

a arma prende a mão vazia
da exigência: arma a proteção
alegada em defesa
                   arma a consequência
                   disparada no alarme
                   travado no resultado
                                     desconsiderado

a arma despojada na entrega
se oferece em pecado: dilema
consubstanciado na resposta

arma com desprezo o conteúdo
esvaziado da cidade: o resultado
aflora a flor da beira da estrada

despreza a arma sobre a terra
que a consome em oxidação.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

RITUAIS

Na ilusão a realidade se conforma
na escuridão ameaçada no inaudito
gesto de acobertamento: rápida a mão
que afaga o rosto enquanto esquece
as palavras. Iludido no retorno do peso
no corpo carregado fosse carga.
A irrealidade acompanha os passos
no refletir o instante onde me traduzo
no corpo desfeito: maneira cruel
de responder ao nada acontecido.
A recompensa se oferece ao tolo
iludido pela mágica: a cristalização
da cena completa a irracionalidade
do ato na desproporção anterior
ao momento. Momentaneamente
afastado escalo o ar rarefeito
da montanha e me incorporo
ao rito: ara irrespondível
no sacrifício diário.

(Pedro Du Bois, inédito)

TriploV Blog

(Des)importância, em:
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