domingo, 28 de fevereiro de 2010

A AUSÊNCIA INCONSENTIDA

A morte
decantada
esperada
refugada
em noites perdidas

acordado
evito a sua chegada

o contato:
prévia putrefação do corpo
na hora não apropriada
para a sua entrada

tudo direi a ela
antes complete a sua obra

bobagem, bobagens.

A morte lograda:
sua ação, vazia, termina
na morte: mais nada.

(Pedro Du Bois, A AUSÊNCIA INCONSENTIDA)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TODO

(...)

a segunda parte:
do holocausto ao renascimento
sofre a ternura e a espiritualidade
em que se afogam esperanças
e noites se fazem claras
em barulhos aero-rodoviários

três quintas partes:
o inconsciente tem parcela
de culpa no processo e o absolvo
pelo trajeto concluído em conluio
com as tropas adversárias

a penúltima parte:
motores de automóveis inventados
na facilitação das distâncias não percorridas
na juventude e a velhice de refestelados
corpos contra o espaldar dos bancos
e cadeiras colocados em lugares
de fácil visibilidade

a parte oposta:
como reclamar indenizações pejorativas
aos espíritos caricatos dos governantes
que nos despregam de cruzes
sempre que a necessidade
se opõe aos portões abertos?

(...)

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Volume X, fragmento)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

NÚMEROS

O número responde
a questão matemática
sobreposta à palavra

ao fundo cordas
tramam o universo
em que se contraem

números decimais me aproximam
do contexto: cores traçam o não finito
tempo de respostas: apostas sobre a mesa

ao fim do espaço
o recomeço
em nova forma

numerosas maneiras desconfortam
a certeza: ilusória razão angustia
o passageiro ao óbice estendido.

(Pedro Du Bois, A HORA SUSPENSA)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

HÓSPEDES

Sou hóspede da inutilidade: perco
a paciência em obviedades,
concentrado em responder aos anseios
interiores; rasgar paredes com palavras
alarmadas em milagres, refazer
a noite divulgada ao acaso: junto
o teor do expediente e o declino
em versos; o inverso da jornada
esquece a escala crescente
das necessidades:

hospedo a maldade
há tempos ultrapassada.

Sobram cicatrizes em calosidades:
esquecer ainda é o maior mistério.

(Pedro Du Bois, QUINTA POÉTICA, Casa das Rosas, 26.11.09)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

PRISÕES

O pássaro
perdido senso
bate contra o vidro

minha gaiola
o enjaula.

(Pedro Du Bois, PEQUENOS ESCRITOS)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ÉS

És o receio
recreio
tempo perdido
tentando descobrir
caminhos inexistentes

és o começo
início
tempo corroído
na lembrança
desagradável do porvir

és o recado
recato
tempo despercebido
onde ladrões agem
roubando a fé

és o que termina
finito
em almofadados chinelos
livros e óculos.

(Pedro Du Bois, O LIVRO FECHADO)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

TANTAS MÁSCARAS

Máscaras personificam
teorias variadas
por séculos mitificadas.

O medo salta
de cada personagem
na modificação dos sonhos.

Sonhar tragédias
de heróis humanos:
seres doentios em nós.

Doenças em cada máscara:
mais que mistério
pirraça dos deuses
reunidos em olimpos
de papel crepom.

A personificação nas máscaras
esconde as verdadeiras faces
de pessoas comuns
como nós.

(Pedro Du Bois, TANTAS MÁSCARAS)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

COTIDIANOS

A mulher chora os dias
passados em companhias
de olhares carinhosos mãos ternas
eternas palavras que sabe ouvir
música e letra paciência extrema
espalhando seu sorriso pela casa
palavras de fáceis entendimentos
busca do equilíbrio
o amor a paixão e o amanhã
próximo e belo anterior
ao tempo do encontro e despedida
porque chora dias existentes
e pensa novos em luzes
nas distâncias percorridas e o restante
caminhado em solidão e silêncio.

(Pedro Du Bois, COTIDIANOS)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NÍVEL

Planeja
o retângulo incontido em ângulos
inconclusos, sonha
e se arrepende
ao pensar a longitude
do esforço, recolhe
do compasso o espaço
entre as pontas
e se diz liberto
em paredes exteriores.

Conforma o desenho
na relação iniciada no olhar
pesaroso do cansaço: ângulo
convertido ao canto interior
do ocaso.

(Pedro Du Bois, A CONFIGURAÇÃO DO ACASO, X)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

PRAZER

A sobrevivência
preside os atos
a reprodução
ameniza a ideia
a futilidade
concede momentos
de alegria e prazer.

(Pedro Du Bois, DESENREDOS)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O NASCIMENTO DE LUÍSA

Produz o som da iniciativa:
a permissão da vida
na formação
do corpo. Retira de sua mãe
a essencialidade e no movimento
se declara ouvinte.

Tem a cobertura
a sente
as mãos macias que lhe acariciam.

O nome sussurrado:
aprende sobre o amor que lhe aguarda
em vida.

(Pedro Du Bois, LUÍSA, III)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ESCONDER

do guardião escondo os olhos,
espio, sei da voracidade

(como lobo estiro o corpo e ataco)

sou carniça estéril
no revigoramento dos contatos,
sou escrita permanente
das estátuas,
sou destemor inábil
dos acordes,
sou auditório mudo
ante a mágoa

olhos nos olhos distraio o instante
e no ataque recebo o golpe
onde me dobro na subserviência
estúpida dos que sabem.

(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS)