domingo, 30 de agosto de 2020

LINHAS













Realinho a linha de defesa
                  quero o combate
                  onde corpos
                            livres
                            das convenções
                                      se abatem

ataco o sentimento imorredouro
da liberdade: sinto o debate
arrefecer em tantos embates

(Longe as luzes do circo
 anunciam o espetáculo
 de noites repetidas).

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

MAGMA













Sobre o assunto
assunto o oráculo
no feérico instante:

sem resposta
sou oposto ato

reflito na pedra
o veio estratificado

sei da vida inacabada
da montanha magnífica
quando aflora.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

LOUVAR












Louvar as armas
            (signo referenciado)
            a carne
            (sinal diferenciado)
            o cerne
            (animal introspectivo)

desconsiderar o crime
                       anoitecido
                       e nas horas claras
                                      implorar
                       ao indireto objeto
                       o seu desejo
                       (intempestivo).

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

ABISMO




Abismo: o gesto repetido acaricia
o corpo solto entre o começo e o final
do enredo: último suspiro

abismo: excede na música o silêncio
e se alarma: a constante invariável
da entrega se refaz no gesto repetido

abismo: refeito em gestos se aproxima
em queda e no fundo sabe do encontro

abismo: afoga sua mágoa em águas
translúcidas e na coragem cria instantes
arvorados e empedrados: solidificados.

(Pedro Du Bois, inédito)

Modus vivendi

Bondade, em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2020/08/bondade

sábado, 22 de agosto de 2020

Pavilhão Literário Cultural - Singrando Horizontes

7 poemas, em:
https://singrandohorizontes.blogspot.com/2020/08/pedro-du-bois-poemas-escolhidos-7.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+PavilhoLiterrioCulturalSingrandoHorizontes+(Pavilh%C3%A3o+Liter%C3%A1rio+Cultural+Singrando+Horizontes)

BONDADE













Sobre a bondade. Reflexo espelhado
                              do tempo: roubo
                              o espaço e o detenho
                              à frente do espectro:
                              esperto agente gentios
                              expostos gêmeos
                              separados no aporte
                              do barco ao porto: deslizo
                              remos em águas
                              de malefícios: o mal estar
                              da bondade na fronte franzida
                              por estar sozinho na gravidade
                              da presença reposta ao ato.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

INVENÇÕES













Invento o tempo das respostas: respondo
todas as perguntas: interpreto no texto
o avesso do poeta: a publicidade escapa
do controle na pergunta e se faz verdade
consumida em tolo dia de respostas

altero o sentido em respostas
amplas de argumentos parcos
                                 restritos
                                aos sofrimentos
                               aflorados
                              à mente

minto as perguntas banais
da sobrevivência e me auxilio
da leitura quando nas respostas
                a invenção consome a hora
                em que devia estar dormindo.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 18 de agosto de 2020

DO PÃO












O pão que repartimos
é mais que o pão: alimento
diário por estarmos juntos
no tormento de limparmos
do chão os farelos

estar contigo é o pão
repartido: farelos caídos
e cascas em pedaços

contigo o pão se transubstancia
em nós e nos alimentamos
um do outro

retiramos as cascas
e nos esfarelamos
ao solo.

(Pedro Du Bois)


domingo, 16 de agosto de 2020

PRESENTE












Apenas
o presente
ultrapassado
no instante
seguinte:

        o presente é passado
        inalcançável ao gesto
        de retenção e gosto

o desgosto solidificado
no que guardamos
como lembrança.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

MINHA












Na terra desconheço o homem
que passa: hirta flor
                  despetalada

apresso o passo
em reconhecimento
a terra espaça
o desconhecimento

pátria: exílio involuntário
no desterro não comprometido
aos saberes

ultrapasso lugares idênticos
e ouço as vozes alteradas
em meses desvirtuados
em dias aumentados
de horas definitivas

na minha terra o desconhecimento
ensina mazelas na miséria exposta
pela falta probatória da cidadania.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

ABALO












No abalo do planeta
tremem corpos
abandonados

seres irreconhecíveis
transitam
suas pragas
        praguejam
        a memória
        existente

céus e terras
fogo e água

elementares consequências
sobrepostas ao latir do cão
preso no apartamento.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

DIZER












Digo: luz dos meus olhos caminho acesa
vela do desvelo olhar absorto dos amores
comida em beijos subtraídos corpo
desvalido em ofertas reforçadas
ao tédio do dia de ontem

digo: estrela vespertina estrela
matutina estrela beijo recebido
beijos possuído no calor da noite
noite benfazeja em dormires e
acordares recentes na madrugada

digo: refrega esfrega obriga o destino
         em testamento consome os trinta
         e nove dinheiros em diárias baratas
         dos hotéis desfeitos em novembros

digo: luz dos sentidos olhos sobrepostos
mãos inseridas em profundos bolsos
seios oferecidos corpo retesado
consumo excessivo de inverdades.

(Pedro Du Bois, inédito)


sábado, 8 de agosto de 2020

LATIR













No latido o cão em fantasias
sofre a descontinuidade

(o olhar assume a sua condição)

latir a carência anuncia o medo
irrestrito ao fechamento

(cães presos gritam a liberdade
 vislumbrada pela memória).

(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

CHEGAR


Roupas sapatos artigos
de primeira necessidade
o caderno entreaberto
na página demarcada

o esquecimento pressupõe
vontade: esquecida
no esmaecer
da imagem

não reconheço a pessoa
que fala assuntos desconexos
não compreendo a amplitude
do relógio: refaço a bagagem
e a deixo sobre a cama

o que esqueço se transforma
em futuro reencontro.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 4 de agosto de 2020

VOZES












Sons anunciados nas tempestades
argumentam frases concatenadas
                               : convergência

calo o tom amadurecido
e me anuncio em textos
           : vozes diuturnas
          lamentam a sorte

(nada falo da sorte calada
 na fortuna com que ouço
     as vozes se afastarem)

argumentos assinalam a tentativa
: a divergência atenua a igualdade.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 2 de agosto de 2020

ENCERRAR












Encerro o riso
entorno o pão
esfarelo o vinho

gotas despossuídas
cercam o pano
deixam marcas

destampo a vasilha
e o cheiro realimenta
o instinto: do que sou feito
                 ressurge a ideia
                 primitiva no pão
                 e no vinho
     de tingido espírito.

(Pedro Du Bois, inédito)


Modus vivendi

Desengano (e ainda), em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2020/08/e_ainda