domingo, 30 de maio de 2010

O NOME

De todas as formas
o nome
é o significado
do entendimento

vezes mágico na atemporalidade
da surpresa acontecida

no tempo certo: o que se registra
como nome ou suspiro

no que me diz respeito
como âncora e ânfora
destampada exalando
o perfume reconhecível
do que não compreendo

nomes são segredos
antecipados aos poucos
refeitos dos seus apropriados
apelidos e alcunhas.

(Pedro Du Bois, AS PESSOAS NOMINADAS)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

16.10.1947

(com a ajuda de Miguel Bakum)

O corpo avisa a hora
há demora
e o nascimento ocorre
no final do dia
a noite abraça a criança

noutra cidade
na mesma data
um homem gesta suas horas
em desenhos

a árvores surge em seus traços
representativos e fortes
como a criança nasce em abraços
e esperam que ela tenha
sua vida
representativa e forte

o desenho resguardado sob o vidro
assegura ao menino
a vida desenhada.

(Pedro Du Bois, (DES)TEMPO)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

ENCOBERTO

...

XVI
Suave o aroma se desprende
o rosto mostra traços
a animação chega
como pássaros
ou frutas amadurecidas
é passado o tempo
de desânimo
em outras vidas
como lhe será entregue o selo
a ser rasgado e nele a sombra
se fará dia
como dia foi
a data da chegada

XVII
Pode não ter vindo inteiro
a arca trouxe o que foi encontrado
a marca das partes
na história repetida
em versos
localizados
do poeta
que dizem da chegada
até a morte consumida
em vida
e o apagar
das luzes
...
(Pedro Du Bois, VERDADES E MENTIRAS, fragmento)

sábado, 22 de maio de 2010

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

Simples desejos em altos patamares
de quereres; da imensidão a luz e o brilho,
jóias em coroas recurvadas ao séquito
dos servos não perfumados; simples desejos
de buscas incontestes da verdade
recoberta em panos toscos de mentiras,
o que reveste a memória e o sofrimento;
apenas desejos intercalados em cenas
de fins de mundos, o regozijo
ao reinício como pássaro ou espada;
apenas desejos entre ouvidos sons
de gorjeios e gritos, silêncios traduzem
épocas do que foi permitido, saliente
prova do acontecido; simples os desejos
e os simples desejos em ventos
levados ao longe: ao não contente.

(Pedro Du Bois, O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS, Vol. I, 4)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A LEVEZA DO TRAÇO

A estátua:
tridimensional
momento
lapidado

hábeis mãos
encaminham o corte

pote colocado no fogo
o forno recebe o molde

a estátua permanece
na repetição do gesto:
movimento estático
em que é colocada

fria testemunha
de mais nada.

(Pedro Du Bois, A LEVEZA DO TRAÇO)

terça-feira, 18 de maio de 2010

BAILARINA

I
Bailarina de pernas alongadas

e finas: fecha os olhos ao girar o corpo
de elastecidos músculos: sorri em gestos
ao receber o parceiro

esguio corpo de bailarina: criatura de luzes
em rápida corrida e parada na revoada em volta
revoltas águas completam a cena

na ponta dos pés avança passos
há graça nos braços levantados
metálico rosto retesado
ao contar os passos
lembrando o andamento
da música até a cortina cair

a bailarina em frente aos olhos cai
tem graça o seu cair: caio com ela
rompido elástico: rompido contato
quebrado dom.

II

... bailarina
estática
na cena
móvel

no estupor da plateia
o aplauso
se espalha
ao inusitado.

III
Quando nos fazemos esperança
em palco nu de panos
brancos
vemos a mulher caminhar
entre nadas
fosse o todo
o tudo
onde a alma trafega
trânsfuga de si mesma

esperança em motivo e sonho
branca
nuvem transformada na passagem
daquela mulher dançando
seu corpo
móvel

sabemos o sentido dos passos
e dos aplausos fortes e continuados.

(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA)

sábado, 15 de maio de 2010

PINTURAS

Sobre a novidade sobrepõe velharias

velhaco de sempre sorri esquinas
de desencantamentos

o novo refulge a ideia de mudança

nada disso se opõe ao risco
do som interposto em acordeões.

A pintura guarda palavras desditas
em artimanhas.


(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

APALAVRADOS

Palavras brincam
papéis afora: folgam
significados e enredam
frases. Arremessadas
ao vento
retornam risos
ecoando montanhas
de sentidos: praguejam
futuros desafortunados
em rimas descompassadas.

Desprezam adjetivos
e evocam tempos subjuntivos
de vamos ver.

As mãos em movimentos sistemáticos
apagam letras: sobre a superfície
esvaziada desenham números
....................................decimais.


(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 11 de maio de 2010

SOBRE A DOR

Invenção

A observação do profeta sobre o nada.
Não ter o que dizer sobre o início
e estar tolhido - pela promessa -
em revelar o dia de hoje.

Entrever no estranho cruzamento
o rosto conhecido: desdizer
bom dia e voltar a face
à regressão do esteta.

Estar presente ao descoberto
espírito e me fazer carne
em dores de parto.


(Pedro Du Bois, SOBRE A DOR, 69, inédito)

domingo, 9 de maio de 2010

A PREVISÃO DO IMPROVISO

A noite em desencontros
ressoa horas de cantoria:

o silêncio perdura
no corpo
inerte
ao acontecido.

A sugestão da vidente
transposta ao passado
incomprovado: prevejo
consequências e estreio
caminhos demonstrados.

Improviso suspenso
em bandeiras desfraldadas.


(Pedro Du Bois, A PREVISÃO DO IMPROVISO 42, inédito)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ABSURDO

Absurdo tentar
tantas vezes
quantas
são
as oportunidades

alardeadas
em versos
propositais
em frases
desproporcionais
em silêncios.

O silêncio expande
o gesto: da janela
habito outra janela
de onde espio
a janela
contígua.

Contigo sei da ambição
covarde dos arremates
da vida encurralada
em ares de grandeza.

Tentativas revidam
o inoportuno sono
de estar cansado
ao relento.

O relento ambicionado
na tarde ensolarada
se desfaz em adjetivos
orgulhosos da cadeia
alimentar do pássaro
arrojado ao solo.

Descolo minha vingança
em beijos e abraços:
não sabem ao certo
da minha incerteza
e se dizem amigos.

Basto a mim mesmo:
organizo papéis
e sirvo alimentos
sobre a mesa
despojada de garfos
e facas. Traço as mãos
ao encontro do peito
penetrado em ordens
arrazoadas.

Como ingrediente súbito
da ambição absurda
da saudade.

Orei tristezas quando criança

retirei da carcaça
deixada às feras

a intervenção revolve
verbos: monstros odeiam ácidas
palavras. Sinônimos
e antônimos distraídos.

Ouço o absurdo da proposta
e me revelo no sentido
longitudinal do avesso.

Talvez a dúvida recomposta
em vértebras quebradas
na imobilidade do ataque.

Gosto de ouvir
a mulher amada: gritos
ironizam o espaço
despercebido em cela.

Gosto de me recostar
ao muro e receber
a frieza da pedra recoberta
em hera. Em eras anteriores
não me fiz apresentável
e fui despojado.

Ambiciono o dizer escasso
das entrelinhas. O estremecer
da floresta vislumbrada
na folha suave contra o solo.

Calo. O colo da mãe perde
a consequência e da criança
havida restam ralos cabelos.

Nada sobre a testa direciona
o canto. Nada sobre o conto
redireciona os olhos.

Durmo a absurda
razão de estar presente
ao desencontro.

O que me basta
por enquanto.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 4 de maio de 2010

SOBRE POESIA

Pode ser acromática
visão: enlevo
do eterno
(fugaz)

a intelectualidade
reprova a gentileza

paixão é arte
disposta em expressões
(naturalmente)

a luz reflete
a passagem do planeta
imerso em consentimentos

(fugazes)

pode ser cronometrado
o tempo disposto
ao sentir: a morte
revela o convite
não traduzido
(naturalmente).


(Pedro Du Bois, inédito)