domingo, 30 de novembro de 2014

CONQUISTAS


 
O além horizonte esconde
outro horizonte voltado
ao planeta restrito

quando o imperador
conquistar o último território
e se tornar dono do alcançável

seus olhos serão tristes
ante as luzes das estrelas

além do horizonte terrestre
acontecem horizontes estelares.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PRÊMIO

Refaço os cálculos
poucos os rendimentos

compram o pão
o transporte
a roupa
o retorno

a diversão
a opção
a canção
a tentação
ficam para os próximos salários
descontados em impostos
taxas
e do prêmio do seguro de vida.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

MEMÓRIA

Percorre distantes imagens

- desencontradas -

(não há como lembrar a paisagem)

confunde espaços
antes ocupados

não é a hora apropriada
nem tem sido assim

o erro avesso à demonstrações
e sentimentos guardam
visões interiores

(não há espaço para a memória).

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

AMAINAR

O amainar da violência da tempestade
no reencontro que não mais representa

estranhos personagens
em melancólicas operetas

a certeza dos corpos desacostumados
em gestos não compreendidos como antes


resta o desencanto
em que o estranhamento perdura
diante de olhos apáticos

a clareza retorna no dizer adeus
com as mãos recolhidas ao corpo

amainada fera em informe massa
de movimentos anônimos.

(Pedro Du Bois, inédito)


sábado, 22 de novembro de 2014

Leonardo Sodré

Dia, em:
http://www.leonardosodre.com/2014/11/dia.html

SOLIDÃO

solidão: ruas desertas
                           frio
                   horas impróprias
              vigilante na guarita

solidão: escuro da noite
             casa escura
             brilho da tela
solidão: através do vidro procura
            na amplitude da janela
            o passado desacordado
solidão: erros multiplicados
                 mentiras silenciadas
                         carne ressecada
                         não estarmos juntos
solidão: no riso nervoso dos instantes
             a seca despedida
             em notícias

(Pedro Du Bois, inédito)


       

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

PAIXÕES E AMORES

Seriam paixões
não fossem os obstáculos
iludindo sonhos desalinhados

amores objetos de romances
em que personagens procuram
encontros desencantados

apaixonados (não) fossem destinos
de agrupados seres em necessidades

amores perduram tempos
na eternidade efêmera das vidas
resultantes em nada: paixões e amores.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

MEDO

Tenho medo pelo inexistente
tempo mentido no desaproveitado

restante vivido no bastante
e no todo desaconselhado

silêncio percorrido na viagem
entrecortada em olhares vagos

tormento em lágrimas destituídas
de sentido e de muito obrigado

o conserto retribui a vida ao seu tamanho
na maneira sutil - atrevida - e consciente
(existir) de todos os dias.

(Pedro Du Bois, inédito)




domingo, 16 de novembro de 2014

Ares e Mares

Parar, em:
http://www.aresemares.com/index.php/materias-especiais/parar-pedro-du-bois/

Palhaço, em:
http://www.aresemares.com/index.php/materias-especiais/palhaco-de-pedro-du-bois/

Dia, em:
http://www.aresemares.com/index.php/materias-especiais/dia-de-pedro-du-bois/

GLACIAÇÃO

Desarvorado o homem cria
palavras onde esconde seus temores
em explicações e ordens de gestos
desmensurados fossem totens
e obeliscos sobre o solo: espantalhos
                                    de si mesmos
                     aumentam as distâncias
                         e o medo:transforma
                              a vida em ciência
                  na manutenção do corpo

a natureza segue ciclos
e a glaciação acontece.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

LIVRE

Não os sentidos
nos meandros trilhados
em passos dispersos
sobre as pedras

sem rastros
não há a volta
disposta no ato
da caminhada

ir em frente é desígnio
de quem se aventura em sonhos
e destinos avançam cenas
onde trafegam impunes descontentes

ao contentamento advém
razões estanques sob tetos
em repetições de estilo

o estio prenuncia o tempo
da jornada em seca estrada
antes enlameada em suspiros
saudosos (doces) da mocidade

a juventude inquieta permanece
em lamentações: a maturidade
prende e liberta pela escolha
no antevisto horizonte diuturno
de perdidas intenções

o mundo se mostra na natureza
específica dos elementos

tormentos artificializam
afastamentos do caminho
inicial das passagens
no destroçar velas
em apagadas luzes
de perdição

o recôndito aventureiro
(ou) a gameleira entre o verde
do gramado e o concreto avança
águas em cais de não chegar
nas partidas rejeitadas

sobre a cabeça o chapéu
na proteção em glórias
ditas aos deuses no medo
retirado ao gesto
de proteção


o líquido seca o copo
no vapor retirado
em instantes
de espera

a luz acompanha
o reflexo no trêmulo
passo do começo

recupera a distância
e se abre livre
ao próximo porto.

(Pedro Du Bois, inédito)
                                

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Vale em Versos

Cárcere, em:
http://valeemversos.blogspot.com.br/2014/11/carcere.html

Raiz Online

3 poemas, em:
http://www.raizonline.com/duzentosecinquentaenove/nove.htm

Manoel de Barros, uma homenagem

Texto em homenagem aos 90 anos do poeta, hoje falecido, poucos dias antes de completar seus 98 anos:



MANOEL DE BARROS: “O grande poeta de pequenas coisas”
por Tânia Du Bois
           
          Faço desta, uma homenagem, para dizer algumas palavras de encantamento ao poeta Manoel de Barros que aniversaria em dezembro. Peço licença para homenagear o grande mestre. Peço licença, sim, porque sou amante da poesia e, entre os meus escritores, Manoel de Barros é um dos preferidos e, em tudo o que se escrever sobre ele, estaremos nos repetindo, mas a repetição será permitida por sua grandeza pessoal e pela grandiosidade da sua obra. É um prazer poder reler, rever e reviver o poeta dos “desacontecimentos”, o “poeta do pantanal”, o “lírico da ecologia”, o “virtuoso do realismo mágico”, “o grande poeta de pequenas coisas”. O que me permite repassar alguns fatos significativos da sua vida, como diz Pedro Du Bois, “... Escrevo histórias / recontadas em outros dias / de mesmas palavras.” e Orides Fontela, “a luz está em nós: iluminamos.” – podemos dizer que a luz está em Manoel de Barros: iluminando-nos.
         A seguir, cito alguns textos sobre o poeta e sua obra.
         Fabrício Carpinejar, em “Manoel de Barros: poesia para reciclar”, dezembro de 2006, conta que o poeta está casado há 58 anos com Stella, seu grande amor. Ela é a primeira e única leitora de seus originais. É bem crítica. Se ela não gosta, diz: “Sobe e vai trabalhar mais”. Ele só dá por terminado o trabalho quando ela define que está bom, pois, conhece o seu estilo. Manoel de Barros editava as suas obras em tiragens artesanais e de escassa circulação. Teve o reconhecimento na década de 80, por críticos e personalidades, como o dicionarista Antônio Houaiss, o escritor Millôr Fernandes e o editor Ênio Silveira.
            Manoel é poeta do simples e da delicadeza, que adota a autenticidade dos defeitos. Tem estima pelas coisas e homens jogados fora pela sociedade. Seu universo é o do cisco, dos gravetos, dos inutensílios e dos nadifúndios. O escritor atua no espaço faz de conta. Interessa-se pelos hábitos das lagartixas, lesmas e animais rastejantes. O poeta faz brinquedos verbais com osso de arara, canzil de carretas, potes furados, sabugos. A singularidade de sua poética reside em combinar a aguda percepção urbana com um repertório primitivo e rural. Para Barros, o que é descartado é jogado dentro do poema. E afirma que o verdadeiro conhecimento está na leitura do mundo.  “Poesia é voar fora da asa” (O Livro das Ignoranças).
         O editor Ênio Silveira, sobre o “Livro das Ignoranças“, mostra como o poeta nos toca pela magia de seus versos, o que nos leva a compará-lo na tentativa de defini-lo como: “grande poeta de pequenas coisas”, “o lírico da ecologia”, “poeta do pantanal”, “o virtuoso do realismo mágico...”. Deixamo-nos envolver pela sua poesia, em que nos encantamos, pela sua constante redescoberta das palavras.
          Adélia Menegazzo, sobre a obra “Concerto a Céu Aberto”, aponta que a leitura de seus poemas vem preencher os vazios e descobrir que o poeta entrega ao leitor um concerto de sons... audíveis apenas no silêncio entre uns e outros. Porque, antes de tudo, MÚSICA! Cada verso seduz pelo desvio, pelas dissonâncias e revela a revolução das palavras, “Do canto das aves está posto o concerto em pauta”.
            Paulinho Assunção, sobre “Poemas Rupestres”, apresenta este menino que “pegou um olhar de pássaro” e que “contraiu visão fontana”, este menino, sábio dos “desacontecimentos”, este é um menino-manoel. É um menino “com olhar – furado – das nascentes”, que gosta de atrelar palavras de rebanhos diferentes, com o intuito de “causar distúrbios no idioma...”. É preciso dizer: todos nós nos desabrimos em outras pessoas diante da poesia de Manoel.
             Adalberto Müller Júnior, a respeito de “Matéria e Poesia”, traz que a originalidade do poeta consiste em elaborar liricamente, com as coisas menores, verdadeiras relíquias de linguagem. Manoel de Barros é capaz de transformar a matéria mais desimportante em poesia. E, Pedro Du Bois no livro “As Pessoas Nominadas”, presta homenagem ao poeta: Palavras // Um, santo de barro /outro, Manoel de Barros / de comum,/andor/ ardor/ com que santificam / palavras / ditas / escritas /jogadas ao vento / que as reproduz.”
            Não posso deixar de expressar minha gratidão pela existência de Manoel de Barros, pois ele é palpitação em nossas vidas. O seu conhecimento vem através dos sentidos. Ele descreve os sons, dando-nos condições de, ao lê-los, poder ao mesmo tempo ouvi-los e senti-los. O poeta humaniza as coisas, o tempo e o vento. E mais, gosta das músicas de Chico Buarque e de Paulinho da Viola!
            Ao completar 90 anos, recebeu o prêmio Nestlé de literatura, pelo livro “Poemas Rupestres”. Também conquistou outros dois prêmios: Jabuti e da Associação Paulista dos Críticos de Artes. Mas, o seu maior prêmio é ter a sua obra distribuída em todo o país.
            Manoel de Barros se considera um “songo”, como fez constar em seu poema inédito de mesmo nome: “Aquele homem falava com as árvores e com as águas /ao jeito que namorasse //... Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos / pássaros / A gente acreditava por alto / Assistira certa vez um caracol vegetar-se /na pedra ////... Era muito encontrável isso naquele tempo./ Até pedra criava rabo!/ A natureza era inocente.”.          
         Discordo quando o poeta, em seu autorretrato falado, em 1994, disse: “estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis...”. Prefiro quando ele diz que a “Poesia tem que ter palavras, uma feira de ideias.”.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

OLHOS

Tem olhos aos acesos
espaços irresolúveis
de cálculos infinitos
nas esperas paralelas

posso dizer da face amada
a diagramação primeva
ao alcance das minhas mãos

esquece o tempo: hora repetida
em dias de estações alternadas
no cansaço básico dos planetas

relembra o olhar ante a face
da permanência na fixação do tempo

o tempo (esquecido amante) resulta
reencontros em olhos cabisbaixos

o pecado extingue o sorriso
                          no contato.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

DIZER

Penso melhor no que digo
- palavra encoberta em interesses

a primeira palavra em confissão
- as demais gritadas ao vento

não escolho o tom
nas palavras ditas: o teor
da conversa amena (ácida)
redobra cuidados

nada de definitivo digo
nas amenidades de sempre.

(Pedro Du Bois, inédito)


sábado, 8 de novembro de 2014

PESTE

Do que tenho medo:
a peste assola os lados
e a entretela protege
o fio onde me escondo

vidros azuis: vitrais
e aparelhos condicionadores
de ares escusos sopram
contra o vidro da janela

através do vidro assisto ao riso
sobreposto: máscara de um e outro
caminhante em passos lentos de bravura
estivessem em antigos livros: o que temo

a raiva explícita no rosto fechado
com que me deparo nas esquinas
com estranhos de todos os dias

a peste alça as asas: garras de coragem
arranham braços: ninguém diz do destino
encontrado em ruas iluminadas.

(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

INICIAR


Na obra começada recomeçam horas
de angústia onde cores formam a base.
Sabem em nuance o destino do piso
ao topo no recorte azul amarelado
em vermelhos verdes e cinzas pálidos
de economias despreparadas. Portas
unem os quartos durante os dias
e arquivos restabelecem ordens
desamparadas dos escuros. Obras
repetem temas abandonados
e repostos. Cores enfraquecem
temas incomuns nos estados
espirituais de práticas e teorias:
cidades se dizem aprazadas
em compromissos. Surgem verdades
desmontadas na obra anterior: espaços
retornam ao âmago de maternos seios
no corpo sentado sobre as cores.
Toda obra inicia no plano geral
da base colorida de verdades.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 2 de novembro de 2014

Leonardo Sodré

Parar, em:
http://www.leonardosodre.com/2014/11/parar.html

ENCONTRO


último encontro
fruto em árvore
formigas

relva e grama
de verdes cores
onde corpos repousados

sombras vicejantes
de formas espúrias

sabem da lealdade
explícita dos recados

no desencontro a certeza
do que a verdade retrata

formigas são na grama
encontro e passagem.

(Pedro Du Bois, inédito)