segunda-feira, 30 de maio de 2011

ANSIEDADE

A mente
cansa
de pensar

hora
do descanso

a morte
não cansa
de procurar

horas
insones

alguns
apressam
o encontro.

(Pedro Du Bois, PASSAGEM PLURAL, Edição do Autor)

sábado, 28 de maio de 2011

SOBRE LEMBRANÇAS

Ao relembrar o verbo escuto
o silêncio dos significados.
Insignificantes. Obro
a eternidade sem respostas:
preso aos desejos de permanência
sonho a estada. Compreendo
a estátua afeita ao contexto
da sua saciedade.

A pedra é o restante
da fatuidade.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

LEITURAS

Quero a leitura
de palavras ocas
significando menos
que o necessário: literário
esboço da história 
mesmerizada em ritos
e passagens: deficiência
inerente ao definitivo dos olhos
sobre o papel em branco.

A literalidade da desavença
na mensagem declamada
em ódio e guerra.

Alvo da leitura
quero a obrigatoriedade 
do entendimento da poesia 
em prosa e verso

            na descoberta vazia
            das entrelinhas.


(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 24 de maio de 2011

VOAR

Tempo em que fico
         anômalo ao concreto:


          insinuação do corpo
          no espaço. A levitação
          sugerida ao carrasco.


(Mulher sobreposta à sombra
 na janela entreaberta: repetição
 do termo na oportunidade).


   O despertar do despertar
   e o sono correlato ao sonho
   dentro do sonho despertado
   em asas: tempo fluído
   ao tempo decorrido.


(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 22 de maio de 2011

SOBRE ILHAS E ARES

A ilha é o regresso da história
refundida em solo amadurecido.


         Basalto resfriado
         da memória calcária.


Recesso do espaço desocupado.


A chuva desfia a imobilidade
da pedra e a penetra em gotas
conspurcadas. A pedra explode
                        traços. Desafia
                        a gravidade e deposita
                        o verde em recomeço.


De todos os lugares o verde se anuncia
como novo: a arca na comiseração
das feras é ilha ensanguentada.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

FRENTES

Sou tempo desnecessário
ao convite: aceitação da fase
obscurecida no caminho.


   Voo cegado ao anjo
   sobre a morte. Longe
   carros passam retas
   e pontes. Desapontado
   enredo o desconsiderado.


Sou vento naturalmente
agitado pelo encontro: frente
fria na intromissão do oposto.


(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

SER

Sou da perda a continuidade: o que sempre
                                                                 fui.


                  Não aposto sortes.
                  Não recolho fatuidades.


Permaneço na ingenuidade
da finalização do pacto.


                  Não arrisco possibilidades
                                meço os passos
                                e coloco as mãos
                                em defesa. Indefeso
                      resto aos acontecimentos.


(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

HABITAR

Sem que cada canto da casa
me seja permitido em resgate
ocupo o centro e me desloco
em corredores ao atingir
portas colaterais.

     Habito o esboço reconstruído
     em lutas onde me fixo. Tenho
     por hábito conhecer o fato
     em telhados desprovidos
     de espaços.

          Em cada pedaço menor
          me encontro em escuros
          passados não confirmados.

A casa permanece em olhos futuros
da construção desfeita em novos
prédios habitados por pessoas
desconhecidas.


(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A RECRIAÇÃO DA MÁGICA

Quando olha o espaço
sabe da vertigem
na música
em tom menor

dança sobre o nada
e a orquestra em cordas
o sustenta

a maciez da voz do cantor
o embala no gravador

o espaço permanece abaixo
na ocupação do corpo
ao terminar a música

o silêncio comparte o vazio
onde se cala o corpo sustenido.

(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA, III, Edição do Autor)

terça-feira, 10 de maio de 2011

AMORES

autor
minto o que não sei
do amor

ator
represento o que não sei
do amor

cantor
elevo a voz e minto
o que não sei
do amor

amoroso pai
                 filho
                    marido
                       e amante
                       minto o que não aprendo
                       sobre o amor.

(Pedro Du Bois, DESENREDOS, Edição do Autor)

domingo, 8 de maio de 2011

BOLEROS

A espera perdura
pela minha eternidade
(de poucas décadas)

no barulho da máquina de lavar
o matraquear de metálicas
vozes

ímpar instabilidade
no ódio sob o carro
em velocidade
para a derrapagem

boleros desdramatizados
na frieza do intérprete

espanhol de botequim
e as cavernas do Madre Deus.

(Pedro Du Bois, OS SENTIDOS SIGNIFICANTES, Edição do Autor)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

PRESENTE

No alto
espaço fechado em nuvens
e gafanhotos predadores

em baixo o túnel: presidiários
fogem de seus crimes
em liberdades cercadas

ao lado a água tolhe a passagem
e a guarda-marinha inexistente
coíbe o pássaro e o lobo marinho

do outro lado a estrada
no ir e vir de lugar algum
norte e sul desabalado

preso em mim assisto
outro capítulo e o chocolate
desmancha em minha boca.

(Pedro Du  Bois, inédito)

domingo, 1 de maio de 2011

MENTIRAS

Arautos se apresentam
em grande escala
formigas passeiam
nas palavras
o fel escorre
pelo canto
e a boca
torta
troca a verdade

seja dito o que interessa
como negócio
seja o arauto
o prato feito de véspera

dispendioso arauto
recruta novos quadros
e se emoldura no discurso
onde nada sobra.

(Pedro Du Bois, inédito)