domingo, 31 de julho de 2011

MÃES



Quando a mãe morre,

a terra treme independente

da idade dos filhos;

luzes são apagadas.



Quando mães morrem

a metafísica ressurge

e luzes são acesas.



Quando morrem,

as mães não desaparecem,

são lembradas.



Quando a mãe morre,

ressurgem pássaros negros

e apagam nossas luzes da infância.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

MUSICAR

Detalhes esparsos

recolhidos pelo pássaro

em bicos, pegar e levar

ao ninho: aninhar

o pássaro jovem e jorrar

o vôo futuro detalhado

no rascunho do esboço:

torço mãos nervosas

e águas são respostas

aos retalhos na imensidão

do ocaso: estar significa

o acaso das sereias

sobre futuros imitando

passos cadenciados

sobre as pedras



presente no espaço vazio

do pássaro: flutuar e subir.

Às vezes apenas musicar.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

FRIO



Tormento frio aguado tempo gelado

a alma provoca calor onde se guarda

espera atravessar a noite e o inverno

desperta sentimentos de lamúrias e lágrimas

deixa nas faces marcas da passagem da lágrima

furtiva da fome no desencontro do vazio

onde memórias lembranças e papéis

guardados em infames piadas criadas

contadas recontadas em cada frio e neve rasa

hora do desespero fustigante açoite da época

memorialista na definição gelada da história



fatos passados em direção ao centro

do universo na volta começo sonhos

medos a caverna responde

ao grunhido do primeiro bicho asilado

da fria intempérie com que inicio.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Mudança

Caros companheiros,

          por motivo de mudança de residência (física), ficarei cerca
de uma semana "fora do ar".
          Grato pela companhia e até.
          Abraços,

domingo, 10 de julho de 2011

DESCONSIDERAR

Ensaio versos
sorrio ao esquecer
a música

nunca fui bom
em decorar palavras

ensaio terços
na contrição
não haverá música

nunca fui bom
em acompanhar ofícios

não ensaio nada
e pairo longe
do começo.

(Pedro Du Bois, JOGO DO NADA, Edição do Autor)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A LUZ DESPOSSUÍDA

A busca incessante do princípio
energia
e luz
despossuídas
de lembranças

onde não estamos conscientes
e que estão conosco.

O riso da fera domesticada
em suave espécie. O retirar as garras
sobre a pele. O que sobra da argúcia.

O medo norteia as buscas e as freia
em fria interrogação que se enreda
no tecido esgarçado das colmeias.

Da energia nos solidificamos em corpos
não iluminados de verdades. Mero capítulo
acrescentado ao tomo literário.

(Pedro Du Bois, A LUZ DESPOSSUÍDA, Edição do Autor)

terça-feira, 5 de julho de 2011

OS OBJETOS EM ESCOLHAS

Odeio a escolha inflexivel
do substantivo: adjetivado
o mundo se conforma
                    ao todo

no espaço oferecido ao senso
                 refaço em orações
                 a sina: pertenço
                 aos que não decidem
                          sobre o mundo

(pintamos muros
 em teias ininteligíveis:
 traços atravessam
 e tempo e nos prendem

            - de novo as escolhas
               não participam).

(Pedro Du Bois, OS OBJETOS E AS COISAS, IV, Scortecci Editora)

domingo, 3 de julho de 2011

(DO QUE SEI)

...
avisto a terra prometida e outro me antecede
tomando posse aos gritos de avante a diante
de mim passam lembranças de perdas anteriores
na minha fragilidade do todo conservado
em invólucros fechados ao desconhecimento
com que me avolumo e me atraio diariamente

o sorriso com que ela me entrelaça
o gosto
          o tórrido desgosto com que me descarta
          no primeiro beijo e nos demais extratos
          a perfumar o percurso
                            não percorrido

retiro os barulhos com que me assusto em dias
anteriores ao ócio despersonificado
                             em gratidões
                             adquiridas
nos vãos entre as portas
e na luminosidade dos solários

o apagar das luzes
               o fechar das janelas
sejam os ambientes permeáveis
aos sentidos acobertados em camas
desservidas de amplitude
                     e consequência

o restante da história não contada
a música se avoluma em meus ouvidos
surdos ao complexo desabitado
da balbúrdia
          onde cego avisto o destino
          das coisas mal acabadas
                 fornidas ao relento
                 das vitórias em frêmitos
                 e horrores lançados ao mar
da hipocrisia: árvores derrubadas
no sacrifício em memória das vitórias
conquistadas pelo homem

arremeto o corpo ao compadecimento
furto-me aos embalos do rejuvenescimento
coercitivo da poesia não alavancada na hora
em que ouço o chamado e me calo
que o canto dos pássaros e o grito
das crianças em brincadeiras
não me assustam

confirmo meu desconhecimento como álibi
dos constantes ataques e à mudança das cores
que o arco-íris se esfumaça no firmamento

esterilizado o corpo perde a condição primeva
de se antecipar ao que afinal lhe cabe em remorso
na imensidão em que se esquece do começo
e da geração inócua da energia
desperdiçada pelo caminho

relembro castelos: sonhos da intimidade
na infância
           retirávamos o bastante para nos fazer
menores do que fomos e maiores do que vimos
a ser quando crescemos em tempos inofensivos
de estudos
            trabalhos
                  e famílias

acolho críticas e a elas dedico versos
de carícias não submetidas ao crivo
do desatino na passagem do cortejo
e nas flores abissais do pensamento
em que despedidas se apresentam.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. II, fragmento, Edição do Autor)