sexta-feira, 30 de julho de 2010

DISTÂNCIAS

...
não meço distâncias em propriedades
corrigidas das ameaças
onde homens se enredam
como seres aperfeiçoados
de maldades e maldições

afeições encerradas em camada
de reservadas encenações
não reveladas das peças
apresentadas nos estertores
dos romances recomeçados
entre os intervalos

desce ao solo e recupera a imagem
desgastada dos que vieram antes
e a projeta ao depois de quando
os últimos tiverem a oportunidade
de irem embora

correta maneira de se medirem
as distâncias: construções desfeitas
na decomposição abissal dos defeitos
em respeito ao ápice das passagens
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IV, fragmento)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

TRAJETO INVERSO

Que faz o cão
junto ao portão?

Espera.

Levanta: último olhar
antes de retornar para dentro de casa.

Como fazemos
ao desistir da espera.

Fechamo-nos em nós mesmos
dispensamos os animais
e habitamos apartamentos:

andares altos.

(Pedro Du Bois, TRAJETO INVERSO)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

DESPEDIDA

O olhar inicia a despedida
espaços preenchidos
com palavras trocadas
entre rios de vidas
.......................avança
na certeza de quem está
indo embora

adeuses rasos acenados:
voltar o rosto...............estender o braço
as mãos acenam e a visão se apaga
no embarque

o olhar se fecha na despedida
antes da passsagem a porta
tranca o sentimento bate
acelerado coração sabe
o passado e o futuro
.....................no estar
e não estar mais aqui e agora

até logo murmurado: quentes
verões em ventiladores
e o frio inverno interno
de infernais despedidas.

(Pedro Du Bois, VI Conc. Nac. de Poesias
do Clube dos Escritores Piracicaba, SP)

sábado, 24 de julho de 2010

BRIGAS

Não brigamos sobre nós
..................................mesmos

............................cada aspereza
............................e distração

.................nos remete ao outro
.................- melhor: à ausência
.................do outro
.................em nós
.......................mesmos

não me contém em seus gestos
obscenos, como não a tenho
..................................em ranços.

..................Dormimos a inadequação
..................da separação: temos sonhos
..................incomuns em reencontros.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

FLORES

Na parede repousam emolduradas
flores repintadas na irrealidade
das mãos: na possibilidade
dos olhos reconhecerem
na forma as cores
exaladas em perfumes.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

ENVELOPAR

O envelope contido: palavras
documentam o sensato: desdobram
tempos em cumprimentos. E se afastam.

Levados temas
ao inconclusivo: outro
envelope contem respostas.

A grafia insiste em revelar
ao tolo o insuficiente:
desprendido ao gesto
o olho enlouquece
sobre papéis riscados.

- O envelope rasgado em bordas
revela o conteúdo na insensibilidade
do que dizem vírgulas e parágrafos.

(Pedro Du Bois, Inédito)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MINHAS

Minha separação ultrapassa
o movimento do corpo

estende a suavidade
ao alcance da discórdia

o desdobrar da instância
na mesma coloração
deixada ao esmaecimento.

Minha ultrapassagem separa
desentendimentos: criança
refeita ao abandono em adulta
desforra de corpos esmiuçados.

A quem corroboro o iniludível
em frases
e falsos oásis.

(Pedro Du Bois, Inédito)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

AMO EM TI

Amo em ti a energia
ao defender teu bem querer

a candura imensa
ao pedir perdão

amo em ti a força
que te faz mulher

a graça imensa
em permanecer criança

amo em ti o amor.

(Pedro Du Bois, SEMPRE MULHER)

terça-feira, 13 de julho de 2010

LEMBRANÇAS

Quando a saudade
passa a ser lembrança

mera lembrança

parece que tudo passa
com naturalidade

mentira

como doem as poucas
vezes em que lembramos.

(Pedro Du Bois, A ILUSÃO DOS FATOS)

domingo, 11 de julho de 2010

MAR ABERTO

Embebido em espumas
ameniza o caminhar
cambaleante

não está sobre o mar
e a terra firme
o embala

tênue imagem
esbranquiçada do horizonte:
sereias onde não há pedras

corpo embebido de saudade:
volta o rosto ao início
e sorri a certeza
do regresso.

(Pedro Du Bois, MAR ABERTO)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A PRIMEIRA CASA

A casa reside sobre a casa.
Construída na solidez hermética
das obras sobrepostas nas modificações
ancestrais da espécie: no começo
a simplicidade da defesa, o pensar
a ordem, o absurdo dos palácios:
a casa repete o emblema: não olha
o espaço aberto. A casa sustentada
na lembrança da casa dos pais.

(Pedro Du Bois, A CONCRETUDE DA CASA, 1)

terça-feira, 6 de julho de 2010

AMARES

nem os silvícolas
nem os indianos
nem os europeus

perdiam seus dias
sonhando mares

navegar impreciso
tempo passado em formas
estratificadas de guerras
e conquistas esgarçando impérios

a navegação alterou o futuro
de civilizações obrigadas a mudar
o rumo singrando mares em oceanos

passaram a sonhar águas
de viagens e mistérios
na efemeridade
da pouca fortuna.

(Pedro Du Bois, AMARES)

domingo, 4 de julho de 2010

EXPECTATIVAS

Se somos bons
somos cobiçados
se somos fortes
somos usados
se somos livres
somos aprisionados
se nos rebelamos
somos exterminados

a terra continua seu caminho
inexorável
ciclos se completam
inexoráveis

não adianta a vitória
a derrota chega sem ser anunciada

não interessa o que somos
fomos e ainda esperamos ser.

(Pedro Du Bois, A INCERTEZA DA VIDA)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

AUSENTE

Trate de convencer a todos
de que você não esteve aqui
nem sua mão em aceno
disse adeus

o sono confunde as pessoas
mitos escapam ao controle
e sua mão acenou adeuses
inexistentes

faça com que percebam sua mão
junto ao corpo
tenso do exemplo
com que fez sua vida

o acordar das luzes da manhã
o orvalho sobre a grama
o vento frio

meras ilusões
você não esteve com eles
aqui.

(Pedro Du Bois, AS MÃOS EM CENA)