quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2011

O ANO NOVO

o branco incide
sobre a rosa
e a descolore:

o vermelho apaixonante
prejudica
o fogo exalado
pelo corpo

o branco insiste
esclarecer o desprazer
do processo

o sangue borbulhante
encarna o sentido ávido
com que os corpos se instalam

o branco ameaça
aclarar o mundo.

(Pedro Du Bois, inédito)

Caros amigos e companheiros
de jornada: que em 2011 possamos
concretizar nossos sonhos
literários e pessoais.

Abraços, e até lá.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A RECRIAÇÃO DA MÁGICA

Dança: passos
compassos

corpos dançam
o instante do encontro

dançam mundos
imaginários

a dança conduz
os passos: corpos
acompanham

cessada a música
param os passos:
corpos permanecem.

(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA, II, Edição do Autor)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

PEDRAS

Debaixo da pedra
terra úmida

sobre a pedra
o calor do sol

na pedra
os minerais
em composição

pedras
são (apenas)
pedras
em sua finitude.

(Pedro Du Bois, JOGO DO NADA, Edição do Autor)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Os Riscos do Objeto

Da coisa vista retiro o brilho e o peso
..................................opaca e leve
.................................................flutua

.................................................(não diz coisa
...................................................com coisa)

...........................recoloco o peso: cai
...........................reponho o brilho: arde

as feridas cicatrizam
a pele: as coisas
.............permanecem
.............em seus
.............riscos.

(Pedro Du Bois, OS OBJETOS E AS COISAS, III; Scortecci Editora)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A LUZ DESPOSSUÍDA

Sob o sol
frutificados
amores
vivem

há calor
e luz

desglorificada palavra
seca entre folhas
armazenada

sob o sol sente
no calor a luz
que o alucina.

(Pedro Du Bois, A LUZ DESPOSSUÍDA, Ed. do Autor)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

(DO QUE SEI)

...
a ironia com que sobrevive o campo
em desprezados verdes e pássaros
pousados em galhos destruídos
como utensílio de cozinhas primitivas
onde fogos consomem paixões
apresentadas como novidades

repouso os olhos por instantes
e me sinto confortado em saber
que a imperfeição vigora sobre o fechado
hábito de me pensar diverso dos modelos

dias passam rápidos entre entusiasmos
de aprendizados e desconhecimentos
acobertados em belas palavras
de significados amorfos e confortáveis
temas não considerados ao lado órfão
e abaixo do instante em que a cena
termina em aplausos

flores condensadas entre secas folhas
de confissões ingênuas e largas escalas
não musicais de destroçada juventude:
revisito as palavras
e retiro o engodo
viscoso sobre a pele

calores e frios alternam temporadas
de caça e desafios em armas brandas
onde estou à espera da partida
animada em beijos e abraços

tempo em que a memória foge
ao descontrole e animais domesticados
ouriçam peles e se escondem sob as mesas
no estrondo longínquo e belo da tempestade
eletrificada na passagem: lembro os segundos
desconsiderados em relação aos recordes
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. II, fragmento; Edição do Autor)

domingo, 5 de dezembro de 2010

(DES)TEMPO

São flores
secas
permanentes
entre folhas
áridas
do caderno

passado revisto
em mitos
medos
esperanças
e certezas

flores secas
em desbotadas folhas
onde escritos
dizem de outros
tempos.

(Pedro Du Bois, (DES)TEMPO, Ed. do Autor)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ARMAZÉM DAS PALAVRAS

Homens-de-palha disseminam
pânico entre pássaros predadores
em quintais hortas pomares lavouras:

braços estendidos e cabeças eretas
miram horizontes restritos.

Por gerações pássaros não compreendem
a passividade dos espantalhos.

Homens estaqueados defendem o que não
lhes pertence: convencidos da imponência
em estáticas majestades.

Misturados tipos de nossos dias
vagam entre a majestática
coisa alguma de empregos vagos:
escancarado em medos infantis.

Carcaças empalhadas: aves que não arribam.
Coisificação do atraso: sem apoteose.

(Pedro Du Bois, ARMAZÉM DAS PALAVRAS, Ed. do Autor)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

APRENDENDO A VOLTAR

Distingo a distância
como me fiz longe
nos anos de progressos
como me fiz perto
das linhas de regresso
como distingo
no traçado do caminho
a rota percorrida
em fugas

estendo o passo
ao horto
de onde se desprendem
cheiros ultrapassados

meço em distâncias
o tempo: tenho
o que mereço.

(Pedro Du Bois, APRENDENDO A VOLTAR, IV, Ed. do Autor)