sábado, 31 de agosto de 2019

HISTÓRIA

Aqueles antigos personagens
passaram pela história
que nos contam

nós jovens
nem história temos
para contar

(com que autoridade
 comandaremos o futuro?)

esses velhos personagens
da história: anteriores passagens
                   antigas verdades
                   em que a autoridade
flui do conhecimento por estarem
presentes ao acontecido

mesmo que agora
esquecidos nada mais
possam nos transmitir.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

FINAL

Alegava a sorte
madrasta
dizia do futuro
infortúnio
orava no sucesso
o medo do fracasso
chorava o que havia
passado

choro de desconexa
carpideira no ensaio
como as promessas

cantava o azar
nas pedras
murmurava segredos
nas pétalas
gritava o silêncio
na última hora.

(Pedro Du Bois, inédito)


Modus vivendi

Das Verdades, em:http://amata.anaroque.com/arquivo/2019/08/das_verdades

terça-feira, 27 de agosto de 2019

NEGÓCIOS

Não falam na sina do demônio
obrigado eternamente a negociar
com abjetos humanos loucos
para trocarem suas vidas
por alguns prazeres

o demônio sabe da factualidade
dos negócios: entende a efemeridade
dos prazeres: compreende o que terá
de volta no curto prazo

tudo lhe causa asco: o negócio em si
onde se apresenta quando chamado
: o livre arbítrio na grave omissão
da autoridade: a sem-vergonhice
que os obrigará para sempre

sempre chamado a negociar
almas penadas que nada
acrescentam à morte.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A ARS POETICA em MÁRCIO ALMEIDA


infelizmente o dizer não se coaduna
com as ações: basta-lhe a expectativa
de algo a acontecer. dizer é simpática
ideia recorrida antes do decurso
mesmo sem haver prazo para
conclusão. fosse a leitura
vesânica do mestre
márcio almeida
grafada em maiúsculas
que aqui se transforma
não por menoridade
ou inferioridade
ou desdita
ou desdizer
ou apenas
por querer lhe fazer as honras
pelas histórias (ainda) descontadas
fossem cheques voadores antigamente
utilizados para saques e pagamentos

dizer absurda o ser que se entretém
em negaças e fogos artificializados
como lareira cinematográfica
sem a necessidade de lenha
- decorativa – e fumaça
de olfato e lágrimas
mas o texto consentâneo
a tecer entretextos
sem a necessidade
de entrelinhas
e mazelas

vesânia ativa minha sensação
de perda no trabalho realizado
para a satisfação do patrão
mesmo sendo estado
e fisicamente estável
em promoções e salários
de hoje para amanhã

mas o autor sem qualquer vesânia
sabe – soube – bem traduzir o esvaziado
oco do santo em madeira carcomida
ao se referir ao entrópico acordo
a que nos referimos em almoços


porca miseria diriam uns e outros
advindos em busca de salvaguardas
que a misericórdia não transita
vales e morros e planícies
em botas e portaluppis

mestre almeida ao anunciar
o caos estremado em tantos
dizeres faz o dever de casa
sem que a casa deva impostos
e aluguéis: quem retorna sabe
do sacrifício em ter saído
que sair é transtornar o mito
e voltar atomiza o rito
sem passagem

des(d)enhar no signo
a verbalização em função
leitora na dessemelhança
cartograficamente poética
que deserda originalmente
na metragem angelical
da loucura que nos vigia
e assombra médicos
e enfermeiros assemelhados
no transitar cotidiano
antes da fama encenada
pelo fluxo desdobrado
no nome de quem
(ainda) vive o saber
conceituado ao ultraje
siliconadamente
significado na lógica
dos jogos e lúdicas
criações das verdades
que nos atravessam
pelo receio de sermos
- talvez – quem se vê
aurora obscura
em diálogos que teimam
o imaginário em que nos realizamos.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 25 de agosto de 2019

NADA

Rostos
dedos
voltados para o alto

não há acusação no gesto
                            nos olhos
        em angustiada espera

sérios semblantes
                       ricto
        olhos abertos

nada oferecem
em troca

não há quem se toque
não há qualquer toque

rostos
dedos
olhos cansados
retornam em esvaziada
cena que se encerra.

(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

DORES

Dor da mãe
       filho na guerra
esquecida infância
       brincadeiras
esquecida adolescência
       puberdade
esquecer que houve o sorriso
        triste esgar
                 agora

dor da mãe
        filho na terra
esquecida infâmia
         bebedeiras
esquecido passado
          amarrotado
esquecer que houve o filho
          triste lembrança
                          agora

dor da mãe
           filho da época
esquecido infante
           sorrateiro
esquecido homem
           transformado
esquecer que houve a esperança
           triste passado
                        agora.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

ANTIGOS

Anteriores deuses
   cerimoniosas figuras
   impávidas sobre montes
   descobriam as cidades
   de perdidas ruas
   sem fim e futuro

estradas: trajetos curtos
onde homens e mitos
se encontraram na primeira
volta do rio sem pontes

na porta o símbolo do medo
pela não realização na imagem

na desfaçatez do sonho o sono
pesado do escriba: mão calosa
fosse agricultor que na terra
cede à sede argentária

luas passadas
caminhantes perdidos
            ao irem embora
            confiando palavras

divindades caladas
                     mudas: confinadas
                     e confiantes na força
da forca: forcado restante ao corpo.

(Pedro Du Bois, inédito)


                 

sábado, 17 de agosto de 2019

ESCURO

Angústia no escuro quarto
olhos abertos
              fixos
         insones
         esféricas dúvidas

o som do carro distrai
o espírito retraído
em busca do repouso

o travesseiro amacia
o norte da história
e adormece espíritos
                        vagos

a angústia permanece
o escuro permanece
o dia amanhece.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

VENTOS


o vento
geme
entre portas

só o vento
teme outras
portas

só o vento
externa
as portas

só o vento
porta
o futuro
na passagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 13 de agosto de 2019

PRIMEIRO

Quero ser o primeiro
desta geração
a receber a graça
de ter a revelação
do começo
e do sentido
em regresso
sentido

quero ser o primeiro
desta última geração
a receber em desgraça
a confissão
do início o pecado
da sequência o amor
da frequência o sentido
da constância o fim.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 11 de agosto de 2019

TEU

Sou tua companhia
não te acompanho pelo caminho
pairo em lembranças
não te seguro as mãos
sigo teus passos
não te conforto na dor
choro teu pranto
não te vejo acima do bem
sou teu mal

sou teu destino
aquele de todos os dias
lado a lado
aquele de todas as horas
entre as sombras
aquele de todo o instante
amigo e amante

serei tua última hora
não quem colocará as mãos postas
aquele que abrirá o novo caminho.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

VIDA

Juízo feito
nega o recurso

nada sobra
que possa (ainda)
        ser discutido

o perfeito juízo
retoca a sentença

o ponto
a vírgula
a articulação das palavras

a vida
   a vida
      a vida
a vida não participa
não se enreda em papeis

nascida livre
não se prenderia
                  agora.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

QUEM

De quem o silêncio no quarto
de dormir ao ler o romance
sem palavras: escurece a peça
anoitecida em sortilégios: bruxo
de remediada hora em que se encontram
as verdades cabisbaixas entre mesas

de quem escureço as pálpebras
de inocentes olhos que fogem ao noticiário
de um dia a outro dia: repetidos em crimes
e em roubos e em quem esquece
o começo: para onde me levam
                  agora os de sempre.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

PRISÕES

Sou minhas correntes
grilhões
  abutres
sou minhas mentiras
fábulas
  raposas
sou minhas dores
náuseas
  leões
sou minhas vidas
mortes
  corvos
sou minhas estradas
onde permaneço
  domesticado

minhas feições de raiva
minhas feições de espanto
minhas feições de tédio

avanço sobre a mesa
 paro
 sento
 recito a oração do dia
    calado
    como a minha parte.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 3 de agosto de 2019

PESCADOR

O remo impele
a água sobre a pele

avança o barco
encapela

na capela
a mulher reza

a volta se realiza
em outro dia
acalmado.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Revista Cerrado Cultural

Temas, em:
https://revistacerradocultural.blogspot.com/2019/08/temas.html

Erro, em:
https://revistacerradocultural.blogspot.com/2019/08/erro.html

IR EMBORA

Seria só esperar
era demora
seria só chegar
era ir embora
seria só esclarecer
era obscuro
seria só enlouquecer
era princípio
seria só esmorecer
era finito
seria só escutar
era fazer
seria só esconder
era desaparecer
seria só vender
era comprar e entregar.

(Pedro Du Bois, inédito)