quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

COMIGO

         Quero do homem
o íntegro saber: a entrega
na árdua paz
dos reencontros
               na aceitação
do esforço das infâncias
permanentes: quero
               a fraqueza sutil
               dos desatinos
                          o peso
               arcaico das histórias
               terminadas dos amores
                   impossíveis
                     o renascer
           da bruma fechando portas
           no convento enclausurado
                       ao mundo exterior

                          quero o amigo
na linha do tempo na suspensa
imobilidade onde afundo áreas
alagadas: a sensação de partir
em branco nos barafundados dias
de hoje em encontros demarcados.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

FALTAS

Horas faltantes
ao calendário:
minuto exaurido
na necessidade
de ir embora

(desconhecimentos fechados em regras
de convivência no momento errado:

              você levanta e vai embora
              quando eu chego)

horas escorrem vidas
na criação de tempos
ultrapassados.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ALFAIATES

Feita sob medida
a roupa
envolve o corpo
e o acolhe
na calma conduzida ao extremo
                       de medir
                         riscar
                         cortar
                         alinhavar
   o experimento é diretriz
   juntada à nuance

   costurar
   aparar
   reparar
   passar

sob medida a roupa
espelha o corpo
                     desnudado.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 19 de janeiro de 2013

GERAÇÕES

Crê na ressurreição
      da alma em outra forma
      e formato. Acredita
na interdependência
do homem no corpo
       espiritualizado
       pelo trabalhar
       constante
       das ideias.

Cobra dos filhos a inserção
no modelo universalizado
do comportamento: o carinho
                    o aborrecimento
                    o desejo
                    e o tédio.

Vê no crescimento a identificação
em que se reconhece: ser
    na continuidade a repetição
    da face e do nome.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O PASSAR DOS ANOS

Inúteis horas em pensamentos
menores de sobrevivências e amores
inacabados na falta de propostas:
o insucesso avesso do fracasso
diluído em eflúvios gases
na delicadezas e humores
antagônicos dos esgares.

O mútuo acrescentado dos juros
negados no pagamento revertem
ao capital exaurido o último
rasgo de generosidade
e se depositam
no final dos negares: atrás
do altar sob o pecado inútil
rezam cotovias do absoluto
e dos gritos explodem chamas
de calmarias: a inutilidade
se completa ano após ano
em mesmas histórias.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CRIANÇA

Na criança permanecemos adultos
na busca das vozes verdadeiras
das primitivas pinturas

que nos dizem do tempo
utilizado para o aprendizado
permitido pelo medo

ainda hoje: no calor da discussão
acadêmicas somos pronunciamentos
aleatórios de temas desnecessários

tal criança divertida em brincadeiras
nos dizemos brabos
                e argutos pesquisadores
das cores em que esquecemos os solos
estampados nas lanças quebradas

da criança trazemos a infelicidade
das histórias contadas como verdades.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 13 de janeiro de 2013

INTIMAR

Intimo o tempo
ao cabo
do trajeto: o escoar
ensandecido da montanha
exclui da intimação
a órbita do satélite
             (artificial)

não fico no escasso horizonte
da cidade (nascente) refém
do desconsiderado

     coerente ao instante
     fugidio da aparência
     recolho no tempo
          o reclame: sublime
          verso de poeta alheio
          ao castigo. Soprana
          voz implicada no tempo
                              em retornos.

(Pedro Du Bois, inédito)
              

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

SOBRE A MORTE E SUAS SENSAÇÕES

A sensação da morte
companheira e amiga
                         solidária

     a intenção da morte
     solitária na passagem

a compaixão da morte
na combinação irrecusável
do ser encerrado na extremidade
da corda suspensa sobre o nada

     a condição da morte
     no sentido trânsfuga
     da ilusão do início

a similitude onde a morte
é experimento no corpo
que cede ao cansaço.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

GASES

Na volatilidade o gás se desprende
igualado no ar circundante:

               o todo rearrumado
               em constantes empregos
               das propriedades

- na inércia da origem
 a ressurreição abomina
 a cisma: a chama consome
 na volatilidade a unidade
                e a devolve
                na configuração
                maior da espera:

o gás dispersado em ondas
penetra - feito maremoto -
o sentido e o expande
no desenlace

     - resta no ar a ideia
       incolor do abate.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

NASCER

Nos nacimentos
natais realizados
tisnam meu corpo
no aleatório desejo
de amor e glória:

     deposito minha vida
     nas mãos que envolvem
     o tempo ao vento

nascer e renascer
na coincidência
do extremo gesto

em que realizo em tintas
o que dos nascimentos pintam.

(Pedro Du Bois, inédito)

   

sábado, 5 de janeiro de 2013

CEDER

Cede o corpo à paixão: esquece
o sentido, doa o espírito, recebe
o impacto em que se divide: ter
e estar,  ser e conseguir, ver
e enxergar. No combate interno
cessam as questões engendradas
pelo medo: a paixão apavora
o sentimento e o envolve
em contagens regressivas.
Ouve o contido na receita
e se lança ao corpo
prometido: habita
o lado em frente
e o desfruta
em gestos. Selados
lábios, sedados habituais
nas descobertas. Sedentos
dentes sobre os lábios.
O corpo no ensaio e a paixão
no tempo do esgotamento.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

ÁGUAS

A onda sobrepuja o ar
e se lança

(o inconsciente busca
a amarra na intenção
inexistente: razões
perduram necessidades)

sobre a terra plana
encostada na água
em trajeto sinistro
de destruição
       e morte

(a onda não conhece no mistério
a sorte e na insensibilidade
se projeta em extremos)

o ar se recusa à onda
e a terra deslavada
emerge em destroços
de água sobre a terra.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

IMAGENS

Ao espelho
revolta a imagem
invertida (espelhos
       repelem vidros)

inventado
     o corpo se aproxima
     do limite do encontro
                 (ao espelho
                  cabe o outro
                                lado)

ser na imagem o conforto
                            confronto
o corpo solto no espaço bipolar
do esforço - aqui em carne e osso
projetado ao espaço inexistente -

          ao espelho conforta o tempo
          dos homônimos e aos nomes
          cabe a mesma imagem.

(Pedro Du Bois, inédito)