quinta-feira, 31 de março de 2011

ALGUMAS PALAVRAS

A palavra tomba
em machucadas letras

deletério caminho despossuído
em significado irreconhecível

a quarentena sob telhados
de zinco esquenta as letras

imensa e imersa em pecados
silencioso tomba
e recupera o sentido da maturidade

a palavra é escombro
em escondidos textos
apunhalados.

(Pedro Du Bois, ALGUMAS PALAVRAS, Edição do Autor)

terça-feira, 29 de março de 2011

A MÃO QUE ESCREVE

Sobre a folha branca
no modo de negar
a paixão escondida

em torpe armadilha
o branco da recusa
no pobre recluso
em mim: mesmo

acorrentado ao vazio
na folha amigável
travo o travo

oposto ao presente
risco a consciência
e me desmancho em recados

tarde para consequências
maiores na folha rasgada.

(Pedro Du Bois, A MÃO QUE ESCREVE, X, Edição do Autor)

domingo, 27 de março de 2011

SERES

Vivo, se realimenta. Transforma o que o cerca em sobrevivência. Caça conduzida ao extremo crescimento. Maneira natural do desenvolvimento. Crescer é se apropriar das transformações originárias. Não há criação no que o corpo realiza. O batismo condiciona a crueza da aceitação do fato. (Pedro Du Bois, SERES, 6, Edição do Autor)

sexta-feira, 25 de março de 2011

NORTES

...
o norte delineado em passaporte e glória
reverte a imantada agulha perdida
em óbices e ódios acumulados, detalhes
de mortes não acontecidas em simulacros
de verdades: mentiras cadenciadas

ir além, surpresa e resposta, acolá
do destino acordar sem saber a origem
da música e transitar em mágico som
entrevisto na hora das palavras
ditas: amanhãs calados em perguntas
sem odiar o inconquistado; incertezas
sobre a geografia e a história, personas
de passagem, toscos arremates
desde sempre reiniciados
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Volume XI, fragmento, Edição do Autor)

quarta-feira, 23 de março de 2011

TUDO

Tudo o que produzo
esforço
carinho
.cabe em mero
arquivo de aço

tudo o que penso
aprendo
compreendo
empoeirados
.............livros
.............em altas estantes

ligo o televisor: sento
............................em frente.

(Pedro Du Bois, O LIVRO FECHADO, Edição do Autor)

segunda-feira, 21 de março de 2011

NOVOS VENTOS

Por onde entra
por onde sai
.............onde está

que só vejo
cortinas
de folhas
esvoaçantes

acompanhar
..............o sopro

fecho janelas
fecho portas
sufoco
na vã tentativa
em permanecer
preso.

(Pedro Du Bois, TANTAS MÁSCARAS, Edição do Autor)

sábado, 19 de março de 2011

RETRATOS

Na fotografia antiga
fantasmas habitam
........esquecidos tempos.

Lembranças: tarefa
de novamente esquecer
o passado tempo.

.....O passado não merece
.....a sorte.

Continuo como fantasma:
sócio em tempos ultrapassados.

(Pedro Du Bois, RETRATOS, Edição do Autor)

quinta-feira, 17 de março de 2011

LIBERDADE

Liberdade: pássaro
no espaço delimitado
pelas grades da gaiola

- cultura ocidental
de pesos e contrapesos
recompensas e castigos
direitos e deveres
família e amantes -

a homilia diz da redenção
dos pecados pela purgação
do corpo ao pecado original

a liberdade presa entre quatro
paredes
.........e a grade.

(Pedro Du Bois, O ESPAÇO VAZIO, Edição do Autor)

terça-feira, 15 de março de 2011

PRIMEIRO DIA

Raios iluminam o caminho; a fuga como arrimo,
o brilho e o fosco, a estrada aberta ao andar do corpo;
a criança sem seus braços chora espantos, a fome come
o interior do instante; para e alimenta a fera, antes surja
a face infeliz da amante; a posse é sua, não a certeza
do negócio; não acalma os cães que os perseguem.

(Pedro Du Bois, A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS, 5, Edição do Autor)

segunda-feira, 14 de março de 2011

A PEDRA DESCORTINADA e outros poemas

Por deferência do seu editor, Edmir Carvalho Bezerra, meus textos
no Ver-O-Poema.

Acessem, por favor:

http://www.veropoema.net/interna.php?page=5&action=show&id=1352

abraços,
Pedro.

domingo, 13 de março de 2011

A PEDRA DESCORTINADA

Pedra no sapato
pedras no caminho

caminhos de pedra
pedra no meio do caminho

pedra atirada
pedra fundamental
base de pedra

tu és pedra

sob a água
empedras.

(Pedro Du Bois, A PEDRA DESCORTINADA, Edição do Autor)

sexta-feira, 11 de março de 2011

BUSCA

Deixa a criança na escola e segue
o caminho aprendido em épocas
de sustos e infâncias ultrapassadas
em surras de desconhecimentos
e altos planos iniciados
em quimeras
e sonhos solitários
de cavaleiros e princesas

o sinal fechado em frente, a sina
com que abafa o passado acintoso
em retornos desacompanhados
das circunstâncias. Ouve o sino
da igreja e concentra o olhar
ao nada. A buzina avisa
do verde abrindo passagens
rotineiras em dias cansados

o cumprimento em ligeiro aceno
inicia a jornada em olhares
de mera aceitação: conhecidas
filigranas onde mentiras soam
verdades despercebidas em prateleiras
acima da visão menor do diariamente

são generosas as formas de pagamento
em que juros não são cobrados justapostos
ao capital empregado: metades se conformam
aos interesses demonstrados em permissões
e devoções ao santificado ato dos calvários

retorna ao âmago e a questão inexiste
sobrescrita em envelope pardo: esconde
a que veio. O velho sentado à sua frente
pergunta sobre a possibilidade,
responde gestos de saudades

lembra o uivo dos animais selvagens
em filmes: o silvo dos motores
envenenados para a corrida
que não acontece

espaço intercalado em ruas e esquinas
desprovidas de calmas árvores
sobre canteiros intercalados: sons
da idade

...

recupera a noção do tempo onde
esteve ocupado em orações e frases
desprovidas de necessidade. O tempo
é rápido em desprover o passado.
Resultados precisam ser checados
antes da distribuição dos prêmios

volta em monossílabas palavras
descontadas ao ar em ressalvas
decoradas ao começo. Atrasa
a entrega. Atrasa a refrega.
Adianta o encontro: retorna
pela via onde a criança foi entregue
ao futuro apresentado na solução
do eterno sentir vontade de ficar

relembra o verso repetido em aulas
cautelosas de novidades. Seletas
palavras escolhidas para não saudar
o novo e reprovar o velho. Meras
colocações semânticas e solitárias

a criança aguarda sobre a calçada
enquanto seus colegas são apanhados
em beijos e abraços: sobram sorrisos
em seus rostos. Falta a imagem amiga
da chegada e a criança sabe
que não será buscada.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Volume X, Edição do Autor)

quarta-feira, 9 de março de 2011

AMORES

Entre amores
a mulher consumida
em cinzas.

A mulher
na janela entreaberta
em fogo.

Canções menores: mesmo
interesse e emoções.

(Pedro Du Bois, PEQUENOS ESCRITOS, Edição do Autor)

segunda-feira, 7 de março de 2011

COMPORTADAS RAZÕES

milhares de razões:
estrelas
......formigas
..........lugares comuns

poucas verdades
raridades escondidas
redemoinhos e ventiladores
ondas
.....marolas
............leve perfume
............indica a origem e o destino

tanto para dizer
enquanto não calam o cão
atrapalhado no sono
em que sonha
perolizados colares
em volta do pescoço
......................que apertam e esganam
......................quando a vontade explode.

(Pedro Du Bois, COMPORTADAS RAZÕES, IV, Edição do Autor)

sábado, 5 de março de 2011

A AUSÊNCIA INCONSENTIDA

Trôpego caminho. Sentido contrário.
Pontos de contato na indicação imprecisa
da esperança no rumo certo.

Difícil caminhada na tempestade.
Impossível sonhar a normalidade.
Os horrores da perda compreendem
o carinho da mulher amada.

Ciente da última morada: a sensação
do nada avança e derruba
minha linha de defesa.

A defesa possível: tapas
e simulações. Não a enfrento.
Apenas a espreito. Evito o embate.

Levo-a ao lado de fora no impulso
do que me resta em vida: a alegria
por me ver livre (por enquanto).

(Pedro Du Bois, A AUSÊNCIA INCONSENTIDA, Edição do Autor)

quinta-feira, 3 de março de 2011

SORTE

Na sorte busca realizar o sonho
ausente em anos de trabalho
a cartela
o cartão
o bilhete
escolhidos números
tirados ao sono:
pensado futuro

a sorte não ampara
mãos postas em oração
promessas contritam faces
na divulgação do resultado

sorte indigente
(pobre coitado)
pensa iludir o destino: errante
caminho cantados em cigarras
de efêmeros tempos

na sorte a espera da realização
do sonho: prêmio maior
de continuar avivado
entre tiros
armas
tombos
e escoriações.

(Pedro Du Bois, A HORA SUSPENSA, Edição do Autor)

terça-feira, 1 de março de 2011

PASSEAR

Do fim do mundo
..............- a rua -
..............vejo traçados
..............os limites do passeio
..............na distância necessária
..............à passagem do corpo

- o transitar no espaço
............................esvaziado -

na concretização
do traço: coberto em pedras
.................na massa
.................cimentada
.................o passeio se oferece
.................ao corpo: estanca
...................................a passagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

PASSEJAR

De la fi del món
..............-el carrer-
..............veig traçats
..............els límits del passeig
..............en la distància necessària
..............al pas del cos

-el trànsit en l'espai
........................buidat-

en la concretació
del traç: cobert amb pedres
.................en la massa
.................fonamentada
.................el passeig s'ofereix
.................al cos: tanca
.............................el pas.

(versão para o catalão, gentileza do poeta Pere Bessó i Gonzalez,
..http://perebesso.blospot.com)