segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

DISTÂNCIAS

...
história contada pela mãe antes e durante
o estado hipnótico antecedente ao sono
e cansaços aparentes ludibriam a criança

ilusória aparência sobreposta ao estado abstrato
dos acessórios dispostos em ângulos arredondados
de idênticas formas anteriores

(a serpente descreve o oposto
ao pensado e faz sua simulação
externa aos dispensados amantes)

a identificação do corpo amarrado
amordaçado e jogado fora: espécie
submetida ao erro das escolhas

instante em que a folha
virada no sopro e na não leitura
revela o rosto de quem compõe
o gesto no tédio da montanha
antes e após o gelo descer
sinuoso em trilha decomposta
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IV, fragmento, Edição do Autor)

sábado, 29 de janeiro de 2011

O POETA E AS PALAVRAS

Poema de palavras simples
rimas livres
expressam sentimentos
exploram sentimentos
sentem o fazer feliz
e o deixar viver

poema de palavras certas
em significados

perto de cumprir o destino
ler os textos e gostar:
ficar comigo.

(Pedro Du Bois, O POETA E AS PALAVRAS, Edição do Autor)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

SONHOS

Mulher linda
sei ser

sorriso cativante
sei haver

olhos enervantes
sei ter

a voz rascante
desfaz o sonho

quero acordar.

(Pedro Du Bois, SEMPRE MULHER, Edição do Autor)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

TRAJETO INVERSO

As mudanças
a casa demolida
a família transformada
os amigos dispersos

eu e a saudade
eu e a melancolia
eu e a vida como devia ser

estou em outra casa
convivendo com a família
em caminhos construídos
ao recolher os amigos
na passagem

não tenho lembranças
tristezas
e melancolia.

(Pedro Du Bois, TRAJETO INVERSO, Edição do Autor)

domingo, 23 de janeiro de 2011

A PRIMEIRA CASA

A casa abre espaço ao corpo:
o portão rememora a chegada;
não prende, liberta na imensidão
das peças: reconhece cada canto
de encerrados encantos; espaço
delimitado ao corpo: cama, roupeiro,
cadeira, escrivaninha; a casa
demarca seu território: espaço
comum na divisão da história.

(Pedro Du Bois, A CONCRETUDE DA CASA, 2, Edição do Autor)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

VITÓRIA

Apenas significa
que estamos vencendo
a batalha pelos espaços
vitais do planeta

que morre
por conta disso.

(Pedro Du Bois, A INCERTEZA DA VIDA, Edição do Autor)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ILUSÕES

A notícia na ilusão do fato
não acontecido

como o teatro em atos
transcreve a vida sobre o tablado
e o espetáculo em números
transfigura a vida no palco
e a mentira em repetições
identifica a vida em percalços

descalço o homem inicia a margem
marginalizado o homem titubeia

o homem é sua verdade
em todas as fases do sonho
e na ilusão da realidade.

(Pedro Du Bois, A ILUSÃO DOS FATOS, Edição do Autor)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MENINOS

Do menino onde me vejo
menino onde me quero
menino de onde me espreita
o passado do menino
ultrapassa o espaço
e se apresenta
ao menino que olho
nos olhos meninos
de antigamente

do menino onde sorrio
em menino de onde venho
como menino animado
olhando estrelas inalcançáveis
em mistérios

do menino pela metade
adulto e jovem menino
esquecido de quando o menino
tinha seu menino ameno
em pensamentos meninos
e menino ao esperar a vida

do menino trazido junto
aos meninos de outras eras
meninas de faz de ocnta
e meninos jogando bola

do menino refém do crescimento
diluindo o menino em águas
acrescentadas ao menino
em jornadas de reconhecimento

do menino além do menino
atravessado em lanças
imemoriais onde os meninos
de sempre e sempre
se tornam crianças adultas
sem deixarem de ser meninos

do menino agora adulto
escutando histórias
contadas sobre ele mesmo
enquanto menino permanente.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Volume III, Edição do Autor)

sábado, 15 de janeiro de 2011

MAR ABERTO

O mar não rende
homenagens
à praia

os pés na água

o mar mostra
o caminho
de volta

corpos submersos

o mar incita
passo
corpo
face

a vida não volta
à praia
em lembranças.

(Pedro Du Bois, com Tânia, MAR ABERTO, Edição do Autor)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

DESCULPAS

Desculpas
pelo mal feito

súplices olhos
e as mãos postas

esfarrapadas desculpas
pelo mal feito

o suor das mãos
e os olhos baixos

desculpas atiradas
sobre os ombros

fulminante olhar
e o dedo em riste.

(Pedro Du Bois, AS MÃOS EM CENA, Edição do Autor)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

AMARES

Caminho na praia
com os pés n'água
fria em invernos frios
da minha idade
penso vidas enquanto passos
me acompanham em corpos
de lembranças esquecidas
de águas anteriores:
tenho consciência do risco
de pensar a vida e a compartilho
com gaivotas que me fitam
da areia à água e aos barcos
que ao largo da enseada pescam
peixes submersos e frios
de invernos sob meus passos
a transitar areias
de finas recordações e de peixes
retirados em redes de pescadores
sôfregos do trabalho por onde passo
em vidas desligadas de águas frias.

(Pedro Du Bois, AMARES, Edição do Autor)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

JÚLIA

Em líquido aguardada
....................aguardas o tempo
....................de te fazeres presente

.....................aparentas tua jornada
.....................em leves toques
.....................inocentes

o organismo vivo
multiplica as células
e te iguala ao lado
...................de fora

(a mão da mãe toca o local
.exato, a mão do pai toca
.o local exato, as mãos tocam
.o local exato).

..............................(21.01.2005)

(Pedro Du Bois, JÚLIA, Edição do Autor)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CIRCUNLÓQUIOS

Não encontra o espaço da lembrança
sufocado em notícias de desencontros
e preguiças: armas necessárias à luta
açulada diariamente pela imprensa
e imprensada em cartazes
nos corredores da impresa

ontem é o hoje dos negócios onde
clientes são amadurecidos em ideias
sobre humanas de desprazeres: a melhor
oferta considerada ofensa
ao que pode ser oferecido

basta a boa vontade de esperar um pouco
para que completem o atendimento

ressoam passos pesados de futuros
enfileirados em bandeiras não desfraldadas
de novas conquistas na gélida impressão
de ser conduzido ao nada
e não poder se livrar: preso
à corrente não solidária dos amantes
o todo colocado sobre as costas
em disposições de entremeios
onde transita os dias

não há espaço para viver com a família
famigerado espírito esportivo presente
em cada homilia: fosse a palavra agora
demoníaca dos vendilhões que se insurgiram
nos tempos de acobertamentos
e negócios escusos

democraticamente escolhe entre
quem se apresenta como candidato
e do geral ao particular sente o mesmo
impacto de quando não havia nenhum deles
e as soluções impostas em caricatas
cassandras revoavam céus ainda varonis

passos ressoam perto
e altos os sons despendidos
em desacordo ou desacerto
na impossibilidade do gesto de ternura
como assumiria as responsabilidades
familiares: ao filho cabe o mesmo caminho
despreparado na imaterialidade
e da pobreza com que os intelectos
são impregnados na passagem alhures
de (não) misteriosos elementos
em aceitações e pagamentos

...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IX, Edição do Autor, fragmento)