terça-feira, 30 de junho de 2009

AVISTAR

visto o espaço percorrido
faço contas, escorregam
e o barulho sobre o papel
enlouquece: nenhum resultado
absorve a culpa de estar vivo
amedrontado da possibilidade
de não corresponder aos anseios
do carrasco. Atender ao pedido
expressado em ofensas e oferecer
a outra face: bíblica face exposta
ao tempo mensurado do ataque

como pássaro ultrajado
calo a voz, escureço o choro
e no canto da peça me separo
entre o hoje e o ontem:
ao contrário do esboço
ouço a ordem em reparos.

(Pedro Du Bois, em A CASA DAS GAIOLAS)

domingo, 28 de junho de 2009

CIÚME

O rosto
demonstra
desassossego
no que vê
internamente
no que lhe contam
inutilmente
no que entende
antes do tempo
tenso rosto
e a janela
cortina
aberta ao futuro
que não retorna
a esquina se faz longe
o rosto tenso
aprisiona o ciúme.

(Pedro Du Bois, 6° Concurso Nacional de Poesias “Poeta
Nuno Álvaro Pereira”, Editora Valença, RJ)

sábado, 27 de junho de 2009

SILÊNCIO

O vestido de noiva
usado
no silêncio
do quarto
guardado
como troféu
do momento
não acontecido

o dia seguinte escurece
o trato feito
no despeito
do ato não acontecido

o vestido de noiva guardado
dos olhos de quem
se perpetuou
na solidão do quarto.

(Pedro Du Bois, em SEMPRE MULHER)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

PRÊMIOS

...
realizou seu sonho de menino
espantado aos anos posteriores
na reclusão espúria das centelhas
não luminosas da tardia hora
em que as batalhas são suspensas
para a retirada dos cadáveres

sua guerra instestina germina
a colheita derradeira do vindouro
tempo desaconselhado
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. III, fragmento)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

CHUVA

Pergunta o cego sobre a chuva
nascente escura

só o gesto retém a água
em gotas

como explicar?

A mão estendida recolhe
o que sente o corpo

não há resposta
para a dúvida persistente.

(Pedro Du Bois, em AS MÃOS EM CENA)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

TRAJETO INVERSO

Seríamos juntos
fortes
separados
fortes
adversários

perdido o jogo
voltamos juntos para casa

na derrota nos reconhecemos
irmãos.

(Pedro Du Bois, em TRAJETO INVERSO)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MAR ABERTO

Aportado
Ancorado
Atracado

Na beira mar
Meu cais de tranquilidade

O sargaço impede a saída

Sarcasmo com que o barco
Flutua

Preso
Para sempre.

(Pedro Du Bois, em MAR ABERTO)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

FLORES & FRUTOS

A seca árvore
rebrota na época própria

secos sentimentos

desbotam o ser
no passar do tempo

sem volta

a natureza se recompõe
em ciclos regulares

o homem fenece
em amores terminados.

(Pedro Du Bois, em FLORES & FRUTOS)

terça-feira, 9 de junho de 2009

OS DIAS INDIFERENTES

Quarta-feira

1
Obscuro homem
sentado na cadeira
voltada para fora
da sua vida e da minha

sem pensamentos e lembranças
descompromissado e incógnito
no preguiçoso passar dos dias
em que as horas são apenas
o voo do pássaro e seus gritos

2
nenhum sentido em vista
e da vida terá respostas
a preguiça e a desavença
a profecia cercando
a noite de estrelas frias

os olhos fechados ao mundo
sumido sorriso esboçado
as mãos segurando firme
as guardas da sua cadeira.

(Pedro Du Bois, em A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

AMARES

Há o mar
Amargo em Sais
Molhado em águas
Recorrente em ondas

Há o amar
Amargos sais
Molhadas águas
Recorrentes ondas.

(Pedro Du Bois, em AMARES)

domingo, 7 de junho de 2009

CRER

XXXII

não creio que a história
em farsa renovada
seja o esqueleto no armário

o buraco da agulha se oferece à linha
e o camelo passa na repetição
do refrão da garrafa aberta
ao convite, a conformidade
em me saber aprisionado
na rede tecida em aranhas
representa o amanhã fechado
ao acaso lamentado das repetições;

a farsa gera o riso dramático
da exposição do corpo ao ridículo

a grade embaçada se transforma
em partes musicais e do silêncio
retiro o histórico adormecido.

(Pedro Du Bois, em A CASA DAS GAIOLAS)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

PALAVRAS

...
feito assim desfeito em passos
decorridos dos dias em que as roupas
se ajustam e o corpo pede o silêncio

somos da música
o silêncio
e o gesto guardado
de outros dias

descruzamos as pernas
com que sustentamos
o corpo familiar
em palavras ocas
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. IV, fragmento)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

MARINA

A mulher
gesta
o filho (a filha esperada
no corpo
que se transforma)

conduz o feto à transformação
da forma: o último utilizado
como espera, o cordão inernaliza
os seres.

A mulher
gesta
o corpo (a filha se desenvolve
no espaço necessário

permitido ao rebento
que cresce na opção
da vida).

(Pedro Du Bois, em Júlia)

terça-feira, 2 de junho de 2009

XLVIII - A Coisa Condicionada

Ordeno ao objeto sua funcionalidade
e me resguardo em corpo humanizado.
A tendência e a transcendência
da coisa considerada. Do que me alimento
retiro a essência da coisa combinada.

Objeto transmitido em ondas
sou o corpo despertado: coisa
concretada.

(Pedro Du Bois, em OS OBJETOS E AS COISAS)