terça-feira, 26 de março de 2013

LIBERTAÇÃO

No silêncio da cela
imposto ao corpo
descansa e pensa

não há retorno
a vida em seu entorno
se modifica e asfixia
na vontade de voltar

o corpo sabe da decisão
nos olhos fechados: não
há orações nem murmúrios
em seus lábios

a vida cobra o preço
em que o preso se liberta
do que não lhe diz respeito.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 25 de março de 2013

ALTURAS

Lírico desenho
transformado no concreto
arcabouço a subir
naturalmente aos ares

os pés das sapatas
sólidas estátuas
sustentadas no chão

no alto a vista
controla o espaço
em redomoinhos
de ventos e Sol

os pés em sapatos
deslocam o corpo
em que o insólito
se sustenta.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 23 de março de 2013

VIVER

Na vida parada
o velho pensa
    (imóvel)
guardar o corpo

trêmulo pavilhão
envolto em ventos

agita a vida
   (aviva)
na oxidação do corpo
em que perdura

avista
sua bandeira
trêmula

dispensa a paragem
      (parada)
no que estende os braços
e apanha a vida que passa

no alto do mastro
a bandeira vive.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 21 de março de 2013

DORES

Sei o caminho
que os espinhos mapearam
meu corpo

fácil
disseram os velhos
em que os rasgos
estão cicatrizados

não lembram o caminho
de espinhos guardados
como troféus

onde a dor se apresenta
em aviso
e preço: insisto na passagem
nostálgica do que não vivi

sou meu íntimo espinho
onde o caminho
transita dores
que não esqueço.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 19 de março de 2013

PREGUIÇA

Apenas olha como se em volta flutuasse a vida
não mexe o corpo o músculo atrofia no esgar
do sorriso inerme olhos fechados sente o dia
chegada a hora desconsidera o compromisso
vence no langor do quarto desarrumado
as razões do mundo utilitário desconsidera
o aviso onde preso o relógio escondido
tem as mãos sobre a mesa e a espera
na resistência e na distância está fora
dentro os avisos se multiplicam a porta
se abre no chamado está virado para o outro
lado onde pode pensar o futuro cansado
lar não constituído em regras descumpridas
cede aos encantos no sono repete o sonho
o braço pende sobre a cabeça não escuta
a sirene despertando a rua e alguém pensa
depressa atravessa a rua e o esquece.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 17 de março de 2013

Das Certezas

desdigo a certeza
apago as pistas
enredo o espírito
em novas conquistas
com que me jacto
da certeza em levar a vida

esperada
a incerteza se sobressai
e provas somem nos castelos
construídos em sangue

desfaço a certeza
derrubo as evidências
faço com que o processo
seja desconstruído aos poucos

desesperada
a verdade se transforma
nos castelos que permanecem
em intactas ruínas.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 15 de março de 2013

LASCÍVIA

tens a lascívia não és pedra
água corrente ondas desandado
castelo arenito no calor das mãos
em afago teu o corpo que se apresenta
indócil no gesto e os olhos fixam outro
ponto longe estás presente o ambiente
propicia a sede escolhe a maneira
e persegue o que te olha sexo
e morte ter e perder anuncias
a não entrega e estendes a mão
moeda de prova e pecado inconcluso
que não há o toque e a vontade presa
no fio da garganta diz obrigado

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 13 de março de 2013

CIÚME

O sucesso o aplauso o cumprimento
no reconhecer a raiva entranhada

ciúme

nada mais querem de você
nessa hora de glória
em que o mundo vem abaixo
e você somente agradece.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 11 de março de 2013

IRMÃOS

Onde nos separamos
ou nunca estivemos juntos?

O que não sabe de mim
e o que eu não quis saber de você?

Em que palavras fomos separados
ou não falamos a mesma linguagem?

Que pais nos foram comuns
ou de quantos fragmentos
são as nossas imagens?

Quanto do passado guardamos
em dobrados papéis esparsos?

(Pedro Du Bois, inédito)



sábado, 9 de março de 2013

CONSTRUIR

O homem destrói
a casa
e a refaz
em prédios
maiores

a magnitude da obra
indica o poder
a fortuna
   a capacidade
      a determinação
o descaso com o que está feito

o terreno ao lado
permanece vazio
                  vago
                desocupado.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 7 de março de 2013

NOVO ANO

Displicente
       o homem só
diante da vitrina
olha eletrodomésticos

             televisor
             fogão
             forno
             refrigerador
            
(detém o olhar sobre a tábua
 de armar: passar a roupa
 amarrotada que está usando)

não há pressa no olhar
na curiosidade em saber
sobre estar ali
sozinho
absorto
diante da vitrina iluminada
em artigos para a casa: o uso da casa
poderia alterar a noite do novo ano.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 5 de março de 2013

NORMAL

A normalidade
busca na igualdade:

crescer
estudar
arrumar emprego
casar
ter filhos: descender
                ascender
           ao cargo maior

descansar
envelhecer
perder

desesperar os filhos
na frustração da vida
igualada na normalidade.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 3 de março de 2013

RISOS

O riso
adulto
repassa
a criança
em vida

o velho sorri
sua estrada
em repouso

longe
o vulto
próximo
ao contato

o riso permanente
na razão que completa
as horas de espera.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 1 de março de 2013

LUZES

     O fulgor
        refulge
         - significa
           estar avivado
           no extremo

      enuviado no espaço
      descalço sobre a grama
      lavado em corpo ácido -

o dourado poente
aponta vésper
e a noite antecede
o amanhecer

               no globo
               que se repete.

(Pedro Du Bois, inédito)