quarta-feira, 30 de novembro de 2016

HUMANO

Rejeito o auxílio
prometido: no desespero
da derrota grito
ao vento: o intelecto
recompõe o gesto
e no discurso absolvo
o verso consentâneo
dos envolvimentos

arrumo o corpo contra a janela
e no desdouro do ato vejo
a dimensão da espera

rejeito a mão amiga na tragédia
e retorno ao âmbito imensurável
da farsa: sou humano.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

OBJETOS

Objeto
barco acumulado
em formas dissemina
               vidas alteradas

- concreto na transfiguração
  riscada ao estrangeiro -

objeto recuperado na realidade
da cena: contas reforçam misericórdias
              na reapresentação

- correta maneira de recuperar
  o entorno feito algo
  desejado aos deuses.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 26 de novembro de 2016

PRESSÕES

A pressão da porta no espaço
                fechado na escuridão
do ato como conta a história
na metáfora sobreposta ao ato
realizado na cena inexistente

a pressão na resistência
da porta sobre o vazio
do quarto exige
na modernidade
o afeto simbolizado
em desencontros

a pressão da porta recupera o espaço
em destruída forma: formato
anteposto ao tanto encontrado
na palavra remetida ao todo
na pressão da porta intocada.

(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

APOSTAS

Aposto minhas fichas
na elucidação do mistério
em que me escondo

o jogo permanece
em disputa

minhas fichas
sobre a mesa

transgrido regras
e me coloco como vítima
do passado antecipado

meu jogo finda
no início do mistério.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

AUSÊNCIA

Quadros
telas nas paredes
mundos multiplicados nas visões
controversas                    enfeites
contemplam pedras e madeiras
lavradas: esculpidas em formas amorfas
        antropomórficas da mentira
        em que se transformam

flores em potes               vasos
                           sobrepostos no sentido
                           das cores recolhidas
                           no horizonte

     em cada cena retratada
     sou personagem ausente: olho
     e descrevo a cena na televisão
     anunciando comunicações
                        instantaneamente
                        (anti)presentes.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 20 de novembro de 2016

CAMINHOS

cavalo em ondas
         campos deslocados em terras
de aras no sacrifício imóvel
das vagas ausências sensíveis
no calor abrasivo das serpentes

o andar audacioso do tigre
           mancha desconheceres
urge respostas de questões anteriores
alças de mira no abatimento
           pela batalha na perdição da espera

o amigo na chegada
              atrasada no desencontro
              com o monstro em volta

razões telúricas de boas vindas
nos segredos agregados
na pedra do esboço do cavalo
                                 em ondas

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

NÃO

Não me comunico com deuses
inexistentes no medo adotado
pela condição primeva da história

no vago espaço intergaláctico
procuro nos acontecimentos
razões para estar aqui

caminhos desproporcionais
ao corpo em que a matéria
ilude os sentidos

deuses ausentes não servem
aos meus desígnios.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

TESTEMUNHA

permaneço viva
testemunha
de mortes acontecidas
em passo irrefletidos
nos olhos opacos
dos movimentos transmitidos
ao futuro

testemunho a passagem
degradada de ambientes
desencantados em caminhos
                              de desencontros

viva permanência
retenho a essência
no desconhecimento

aguardo a luz
              da escuridão
              na absoluta
              revelação
              das salvaguardas

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 5 de novembro de 2016

LIBERDADE

Livre do físico
corpo desencontrado
sou essência
          desconsiderada

(deixo a família
          os amigos
            o gosto
            o trabalho
           as leituras)

no desconhecido universo
             despersonalizado

                        sou nada.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

CONVITE


CESSAR

cessar o movimento das árvores
em ventos redemoinhados

cessar o voo dos pássaros
em ventos desconsiderados

cessar o caminhar dos homens
em ventos descontinuados

a estática
o estático
na imortalidade condensada
em gestos          não acontecidos.

(Pedro Du Bois, inédito)