segunda-feira, 30 de novembro de 2020

ESFORÇO

 

 


Depois do esforço o corpo cede em descanso

e aproveito o todo perseguido para me colocar

sobre o ladrilho: o lado de fora pesa o conforto

do regresso e atravesso ruas e ruelas. O beco

de saúdes tolhidas em muros enlevam os olhos

ao espaço: o cão me persegue e o labirinto

tranca suas passagens: a flor irrita o hálito

trazido da cidade: cansado ser renovado

em pequenos morros serpenteando estradas

e o aviso de chegada: estar comigo satisfaz

o ego e da parede desprendo o prego

que segura – sustenta – o espelho: a imagem

despercebida cede ao esforço da metáfora.


(Pedro Du Bois, inédito)

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sábado, 28 de novembro de 2020

BATALHA








Estive no campo de batalha

mentirosamente postado

junto ao corpo do astronauta

desbravador de novas terras

- escrevi terras podia ter usado

  outra palavra de mesmo significado.

 

Com o general imberbe e o beduíno

ausentado na movimentação da tropa

jantamos o suficiente para ficarmos 

acordados olhando as ruas sujas

e as pessoas tristes transitarem

sem sentido: a utilidade medida

em ouros sufragados ao ócio

das estrelas terráqueas em estéreis

embalagens e o sorriso soturno

com que a prostituta oferece o corpo

             ao degredo: no sorriso a luta

  se plastifica e correções eletrônicas

  obliteram os atos.


(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

CONFLITO

 








O homem traz o conflito de ser a imagem

acondicionada antes. O novo despreparado

negado na origem da altivez na fala

assumida pela estampa: reflexo calado

ao entrevisto. Conflitos atritam e luzes

esquecem ritos: gritos são escutados

ao longe que além da construção repousa

o bruxo e nele habita o homem em conflito.

 

                   Ser ele mesmo e o outro acreditado

                   em palavras e normas em números

e estatísticas em linguagens estrangeiras e livros

não abertos. Ter a cor e a descoloração dos anos

no adiantamento e carregar o atraso: por acaso

o homem aflito deixa na água cristalina do copo

o alívio por ser sedento em autonomia

e castigo: tem o conflito em geradas luzes

necessárias aos encontros no anacrônico

senso de o futuro despender o passado.


(Pedro Du Bois, inédito)

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terça-feira, 24 de novembro de 2020

DOMESTICAR

 

     
Domesticada, a vida

                           se oferece na ferocidade

                         dos dias

(meu pai tinha as feições

 preocupadas)

                   em que nos repetimos

                 em trajetos

                 e conversas recheadas

              com cafezinhos

(meu pai tinha o olhar

 preocupado)

           de onde retornamos com

         as portas  entreabertas:  o que

        nos assusta e nos assalta

(meu pai tinha a palavra

 despreocupada daqueles tempos).


(Pedro Du Bois, inédito)


domingo, 22 de novembro de 2020

TRABALHAR

 



 
Trabalho cada ideia como o todo. Refaço perguntas

machucadas e nego respostas conduzidas. Externo

a frieza do conhecimento. Recolho no solo a pisada

e a transubstancio no barro primitivo: tenho o molde

a distância e o sentido. Impeço a fragmentação

do pensamento: sou do ocaso o guardião da cena

repetida em olhos encerrados: o ocaso do dia

contabilizado. Resisto. Dou força ao vento

derrubado em lembranças inúteis  e ao som

que vem da rua – pessoas passam –

devoro as palavras ditas: falo em democracia

no alterar o sujeito da sentença e alterno inocentes

e culpados: recupero a malemolência extremada

dos profetas e discurso de porta em porta  uma

ideia de cada vez: apenas uma porta aberta.

(Pedro Du Bois, inédito)

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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

GOSTO

 








Atravesso o átrio

tropeço na pedra

divisória irregular

do trajeto: penso a música

que me envolve em Janis

 

o átrio iluminado das noites

inacabadas: ter mais idade

não me retira o gesto

                     o gosto

                    o engodo: a música

                    transparece na agonia

                    da presença: sinto

                    o amor no átrio

                    emudecido do passado.


(Pedro Du Bois, inédito)

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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

DESCOBRIR

 







 

Ao verificar o seu sexo

como sexualidade

pela primeira

vez

o menino

soube haver descoberto

o início: bolas e terras

             passarinhos e pedras

             segredos e mentiras

                         em compromissos.


(Pedro Du Bois, inédito)

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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

(RE)INICIAR

    



Sou o som

inercial

do começo

 

resíduo modulado

na invenção da vida

em naturezas frígidas

e quentes caldos

de cultura

 

retribuo o esforço

do conhecimento: milhares

de arcos despercebidos

em aprendizados

 

permaneço o som

habitual da vida

onde me entrego

em recomeços.


(Pedro Du Bois, inédito)



sábado, 14 de novembro de 2020

RAZÕES

 








Porque o menino se fazia astro

entre animais e dos ninhos

retirava a vida em ovos

jogados no riacho

 

sua mãe (adulta)

desconhecendo

o tempo de criança

 

ameaçava com castigos

em masmorras atrás das portas

em celas de quartos abafados

em vidas de luzes apagadas.


(Pedro Du Bois, inédito)

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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

VIVER

 








Tenho medo do infinito e da eternidade

por estarmos aprisionados ao corpo.

Soluço orações em promessas sagradas.

Reafirmo a fé na integridade e do orvalho

recolho o sentido: estou vivo e estou morto

ao encontro da insubmissão e do castigo.

Rejeito o acontecido e me afirmo no amor

da mulher com quem convivo: a divisão

da cama a conversa franca o carinho diário

o mistério revelado no primeiro dia: no carnal

e no simbólico somos o todo e nos separamos

em corpos nas manhãs em que recordamos.

Não conversamos sobre a permanência.

Permanecer é o silêncio dos que sabem

da efemeridade: percorrer distâncias

em guarda contra a eternidade

a oxidar os atos diariamente.


(Pedro Du Bois, inédito)



terça-feira, 10 de novembro de 2020

TriploV INFO

 Círculo, em:

https://triplovinfo.wordpress.com/2020/11/10/poema-63/

SOBRE CONSTRUÇÕES

 








 

Construo minha casa com a argamassa

dos dias cinzentos e coloridos. Inicio

pelo detalhe de viver e ter a certeza

da necessidade da construção.

 

Cerco o terreno em flores e crio 

frutos proibidos: minha alimentação

enquanto a obra avança ao teto.

 

Obro portas e janelas oxigenadas

ao interior dos ranços trazidos.

 

Refaço os móveis na quantidade

dos dias em que morarei na casa

acerto na maciez do assento a saliência

do colchão e na tepidez da pedra o correr

da água na escuridão do quarto.

 

Completo a mudança

e me retiro: toda casa prende

os corpos em martírio.


(Pedro Du Bois, inédito)

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domingo, 8 de novembro de 2020

CÍRCULO

 








Habito o abismo no primeiro círculo

: concêntrico hábito onde me repito

  na constante libertação da alma

 

receio a espiral inconstante

na segurança inibidora dos sentidos

em concêntricos hábitos de repulsa.

 

Rasgo a máscara e me exponho

no centro do reflexo: revejo o tempo

estático na concentração de estrelas

consumidoras em círculos

 

    no abismo tenho o eco da voz  

    pertinente em que me projeto.


(Pedro Du Bois, inédito)



quarta-feira, 4 de novembro de 2020

SENTIR

 


Árido sentir: seco

                     ressecado

                     assustado do próximo

                     passo na aproximação

 

         abro a porta e permito o ingresso

          do desassossego

        abro as janelas e consinto a entrada

          da avalanche

        solto as amarras e tenho o encontro

          dos corpos.


(Pedro Du Bois, inédito)



segunda-feira, 2 de novembro de 2020

TER

 








Concebo a visão

tenho o sentido

                 falo:

 

    a chuva transforma a paisagem

    em brilhos e armadilhas

 

                  a vida permanece

                  sob guarda-chuvas

 

        alcanço a mão

        refaço o passo

                   o corpo cede

                

a esperança de rever

        além do tempo

        em rápidas passagens

 

                 descanso o espírito

                 e durmo a eternidade.


(Pedro Du Bois, inédito)

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