quinta-feira, 29 de setembro de 2016

SOSSEGO

O sossego é final do tempo
                                 permitido

perco a hora
reabilitando o instante

na rede armada
na varanda
relembro a luta
da chegada

a permanência
na constância
de me dizer presente.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

DESDOURO

Escondido
o desdouro
não tem serventia

              execrado
              em pública praça
              objeto de troça
                              trocadilho
letras garrafais tingindo
muros e paredes

folhetos apócrifos contam
o desmoronamento da classificação
em que entranhas são encontradas
trancadas pelo lado de dentro

na coesão de ideias cimentadas
o opróbrio viceja altos brados

o desdouro
duradouro epitáfio
sobre a tampa ainda suspensa
                            em delírio.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 25 de setembro de 2016

PODER

Conserve a ideia de possuir o todo
ao esquecer as promessas da campanha

na mentira cristalize o tempo
das verdades necessárias

apague os rastros no deslizar o corpo

saiba apartar os amigos das tristezas
ao ver em espantados olhos
as igualdades indiferentes

toda ideia carrega seu fardo
na humilhação desproporcionada
pelo hábito de se fazer aparente

o poder embriagado ressaca mentes
no absurdo abrir mão das consequências
em poderes inconsequentes de desculpas.

(Pedro Du Bois, inédito)


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

NASCER

Ter o leite
negado ao filho
na dor do peito
o parto
partido
o leite negado crime
ao filho trôpego
partindo o corpo
o leite negado ao filho
rasgado ventre
chorado no nascimento
o leite ao filho negado
reproduzido na cena
de vir ao mundo
no susto elementar
do corpo antecedido
na dor no peito
o leite dado ao filho
destrancado corpo
no nascimento
em que dói o peito.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

RESTRITO

Restrito: peça invadida
em móveis: cadeiras
                dispostas
                em volta
                da mesa
                posta: disposição
da fome. Engulho
da comida requentada.
Esbulho. Cortinas
encerradas na artificialidade
das luzes decompostas
em imagens. Armário
alto de copos e pratos.

             Vidro quebrado no canto
              inferior direito: restrição.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

CHEGAR

No extremo
descubro o espaço
abaixo
dos olhos
pespegados
em sólido
preconceito

retorno ao início
do jogo perdido
desde o começo

aos extremos não se concedem
espantos em estranhos gestos:

               apenas
               o estático corpo
               suspenso.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 13 de setembro de 2016

CALMA

após a calmaria da viagem
não repito a paisagem
e me lanço à terra
na banalização
do gesto

(procuro a briga
 e me retiro surrado
 na cansativa reprodução
 em cenas de sangue e morte)

viagens cansam corpos desprovidos
dos sinais luminosos de fraquezas
nas histórias decompostas em capítulos
aproximados entre chegadas e partidas

a frequência corrigida dos lamentos
retira das frestas históricas a alusão
aos regressos: tenho a calma sensação
do ocaso no me reconhecer menor
do que o destino acrescentado:

               banalizações atravessam
               vidas ignoradas de fracassos
               em campos opostos.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 11 de setembro de 2016

SEQUÊNCIA

Na interminável sequência
lances se sucedem em último
e definitivo achado: única vitória

sucessivas jogadas esquecidas
em alternâncias e desabafos

o instante amedrontado pela desconfiança
                  faz o corpo lembrar a fome
      indiferente no retirar o sustento

breve: o retorno ao foco silencia
na escuridão a hora gerada
pela conscientização do espírito
em necessidades mercadejadas

interminável sequência indemonstrável
nos atos de prosperidade de afogados
sentidos em quase nada.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

HÁBITOS

Quando habito
              hábitos
               em retrógradas figuras
                                        esmaeço

pergunto
sobre tempos não chegados

não percebo a imutabilidade
do caos na repetição do discurso

                o hábito me faz crente
                das obviedades.

(Pedro Du Bois, inédito)


TriploV Blog

Ter / To have, em:
https://triplovblog.wordpress.com/2016/09/08/poema-18/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+wordpress%2FYcoP+%28TriploV+Blog%29

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

PERSONAS

personificamos desigualdades
estratificadas em nos deixar emparedar:
     corpo e mente unidos no invisível fio
     enredado ao pé da história: negamos
o novo
e o próximo: amamos na adoração
                     abstrata das estrelas

no peso incontrolável da incerteza
dizemos sim ao nada travestido

o pior emerge na clandestinidade
que o poder suporta na eventualidade

aos sonhos acrescentamos fumaças
estéreis de progressos: inócua sensação
de estarmos juntos na iniquidade
com que o futuro se afasta
em antigos horizontes

(Pedro Du Bois, inédito)

 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A DELICADEZA

Delicadeza com que respiro
a vida
       ávida de reconhecimento
       ressurge tópicos inconclusos
       em verdades desditas pela idade

             ideia de ser o mesmo
             corpo inexorável ao tempo
             na respiração ofegante
             das entregas amantes
:amanheço cada razão perdida
em encontros: a avidez abandona
o rosto encoberto pela mão da ajuda
e do suspiro
                   respiro a delicadeza permitida
                   na escoriação deixada encoberta
                   pela escuridão do futuro acenado

acerto alvos na ressurgência
da pétala ressecada entre folhas
em desdobramentos: delicadeza
com que vestimos os cadáveres.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 3 de setembro de 2016

O PIOR

pior: esqueço o futuro no mergulho
a lugar algum do passado e me revejo
fantasma em mim mesmo na repetição
insana dos erros cometidos. irreconhecível
no plano abjurado das serpentes agouro
o destino de quem me diz cliente e sócio.
ócio indeterminado na autoridade ilusória
em que me enredo: sou o pagador da conta
em irrisório acessório: troco desconsiderado
no volume do desgosto em que não me sinto.
inibo. arranco do outro o direito na fera solta
contra o obstáculo. a dor reconforta o tolo
no todo abstraído da memória: a escória
aplaude o gesto e me despreza.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Revista Cerrado Cultural

Amantes, em:
http://revistacerradocultural.blogspot.com.br/2016/09/amantes.html

Lovers, em:
http://revistacerradocultural.blogspot.com.br/2016/09/lovers.html

Nada, em:
http://revistacerradocultural.blogspot.com.br/2016/09/nada.html

Nothing, em:
http://revistacerradocultural.blogspot.com.br/2016/09/nothing.html

Finales, em:
http://revistacerradocultural.blogspot.com.br/2016/09/finales.html


RESTAR

Sou o restante do tempo
                        do espaço
                        do traço sobre o papel
                                      em último aviso
                                            último recado
                                            última despedida
       ao ir embora: uso o restante do caminho
                                                          do som
                                                      do gesto
                                              desprendido
até restar em espírito
nas músicas cantadas em língua estrangeira
alheias ao sentimento ditado em linhas
geográficas onde resto sentimentos
                                          sentidos

                                voltado
                      contra a porta.

(Pedro Du Bois, inédito)