sábado, 29 de setembro de 2018

MAGIA

Na madrugada a realidade
se transforma em magia

nela encontro o lado transverso
                               controverso
                                      reverso
                                      inverso
                                       avesso
                                      da vida

enfumaçado e recuperado
pela realidade no alvorecer

a magia necessita do mistério
que só a madrugada contém.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

ETERNIDADE

Quando disserem
                     morreu
retrucarei estar vivo
como sempre estive
enquanto por aqui

se insistirem na minha morte
tantas vezes retrucarei
com a minha vida

não há morte na felicidade
que se propaga
e se regenera
em novas gerações

(então) não dirão que morri
: reconhecerão em mim
  a chama eternizada
  a que nominarão
  lembrança

(e) viverei na saudade
dos que vierem depois.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Nós, Escribas (13)

N Ó S, E S C R I B A S (13)




                         De onde têm tido surgido
                           tantos versos, tantas rimas,
                             minhas doçuras-enzimas
                               vêm de algum reino perdido ?

                                                             (Silmar)




                                                   De onde surgem
                                                   os versos
                                                   tantas rimas
                                                   doçuras-enzimas
                                                   de algum reino perdido ?

                                                                 (Pedro Du Bois)
                                                     
Silmar Bohrer e Pedro Du Bois
Enviado por Silmar Bohrer em 25/09/2018

O QUE PODE

Do que reclama
diariamente
nada pode
alterar

não é sua
a solução
da vida

apenas participe
ordenadamente.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 23 de setembro de 2018

HIPOCRISIA

Roupas coloridas
fogem ao padrão

nenhum sorriso brejeiro
nenhum contato físico
nada de olhos nos olhos

roupas escuras
em lugares escuros
escurecem os amantes

nenhum segredo guardado
por muito tempo

escuras roupas vestem
os que sobram

no esquife: sorriso
brejeiro e roupas claras.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ESPAÇOS

Olho para o espaço
         para cima
        para baixo
       encantado com as estrelas
       planetas
       satélites
      apaixonado pela sensação
      do espaço finito
                    infinito

abaixo os olhos
para a terra
desencantado pelo antes
                      pelo agora
                      pelo depois

odeio a sensação de estar preso
                                enjaulado
                                solto

meço distâncias filosóficas
                           amorosas
                           religiosas
                           pragmáticas
                           dogmáticas
                           agnósticas

fecho os olhos
e esqueço o mundo
            fora de mim.

(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

DEPOIS

Quando atravessar
o tempo restante
no aroma adocicado
do incenso
terei o sentido
de que parto

na retina os olhos dos que choram
e no corpo últimos abraços e beijos

depois
o não tempo
mais nada
nem ninguém

nem eu
apenas lembrança
por (in)certo tempo.

(Pedro Du Bois, inédito)

DE MÃOS DADAS - meu último livro - capa


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

CANSAÇO

No primeiro amanhecer
souberam do alvorecer

cotidianamente
entenderam a repetição dos dias
pela caça
       pela pesca
              pelas mulheres e crianças

envelheceram em alvoradas
no cansaço do final dos dias.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 15 de setembro de 2018

VOLTA

Não devia ter vindo
vim
não devia ter ficado
fiquei
não devia ter ido
fui
não devia ter ficado
fiquei

na conversa
emergem fantasmas
: companhias de horas
  insepultas

insepultos vultos
          contraditórios
          em amor e ódio
          indiferentes
          ao passar do tempo
          na metamorfose

não devia ter vindo.

(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 13 de setembro de 2018

SILÊNCIO

Vozes anunciam
boas novas
em palavras
e sobranceiras
        maneiras

quietos escutamos
o que dizem

buscam significados
onde possam expressar
seus bons espíritos

buscamos o silêncio
: nenhuma palavra diremos.

(Pedro Du Bois, inédito)


terça-feira, 11 de setembro de 2018

SEMENTES

Mordida semente
amarga
boca

não há
multiplicação

encerrado ciclo
ressaca o restante

misturada
terra


mordida semente
ressecada
terra.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 9 de setembro de 2018

SEQUÊNCIAS

Primário mar a engolir
minhas rarefeitas palavras
que sem fôlego tentam
atravessar ondas: naufragam em mares
                            de textos desconexos

não faço melhor no proposto
propósito inicial: escrever
palavras desordenadas
em figuras atônicas
                  atônitas

esquinas de fins de rua: última
          casa deserta a despertar
        entre garagens e sacadas
        corujas adormecidas

secundários textos desabalados
nos olhos arregalados atrás
das cortinas: narinas entreabertas
           e coração descompensado.

golpes não libertários
na morte precoce: o final do dia
nas preces que carrego em vida.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

ILUSÕES

Iludido busca contexto
para o assobio do vento
através da janela

grande coisa
pensa

em mundos
mumificados
(como esse)
onde perambula
na busca das ilusões

disfarça o mau gosto
no gole da fina bebida
com que engrossa ilusões
despertadas em depressão.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

VISÕES

Primeira visão
tacanha
nada além das grades do jardim

segunda visão
tamanha
no banco da praça
escuta a chegada do homem na Lua

terceira visão
estranha
o trabalho fecha as portas
da imaginação

quarta visão
alcança
a família com novos ideais

quinta visão
sozinha
chegada a hora de aproveitar a vida
antes que se vá.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 1 de setembro de 2018

GESTOS

Retorna
para os seus
não devia haver saído

retornar
é o sacrifício

sem sorriso
sem paciência
sem dizer a verdade

mesmo assim
          retorna

seu retorno traduz
o amargo da derrota

ou
 o gosto doce da derrota
       o que dá no mesmo.

(Pedro Du Bois, inédito)