terça-feira, 30 de junho de 2020

MINHA VIDA












Minha vida é a travessia
a travessura
o atravessado

(do planalto
 à praia pela planície)

geográfico dos sentidos
ao ficar recolhido
nos abraços da amada

- ter ido embora
  sem medo
  do regresso -

no elementar direito de ser discreto
nas imediações do avesso e direto
em relação ao topo das esperas

o rosto acomodado
no travesseiro e os olhos
fechados em sonhos.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 28 de junho de 2020

Modus vivendi

o tempo/insinuar, em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2020/06/o_tempo_5

INSINUAR












Todos os passos em terra
e sobre as águas aguarda
o momento da travessia

em atravessado espaço
ri dos seres apreensivos

o tempo - ensina - é a insinuação
demoníaca na oxidação do corpo.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 26 de junho de 2020

BUSCA












Busco o exemplo da tentação
na vontade e no gosto
amargurado da perda

- ter o prêmio e merecer o castigo
  pelo crime ao incidir no erro -

pontes e rios
transformam portos
em pontos inseguros

- ter vencido a guerra
  e aguardar novas batalhas.

(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 24 de junho de 2020

PEDRA












Chuva em que mentalizo
        a face: deposito em mãos
        inábeis o processo: evadido
        corpo ao contrato: esqueço
        como me olho estátua.

Quieta forma polida
em ares sem saber
a pedra de que
faço parte: a chuva
    lava a passagem
    e me faz esquecer
    ser personagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

OLHOS












Olho a mão pintar
a tela: a tinta escorre
no rosto desenhado

desdenho a mão que escreve
o texto: espreito a palavra

o olho capta as imagens
onde mãos se confundem
em ordinários mundos

a tela expressa
palavras não ditas
e os olhos acobertam
as mãos agora imóveis.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 20 de junho de 2020

FACE












A face
escancara o riso:
          subsisto ao número
          ofertado como entrega
no desconforto de me dizer
isento de responsabilidade

maneira de me afastar
ao tempo inconcluso
da modernidade

a face escancara a imagem
e me abraça em olhos

não serei salvo
da sua vontade

(atávico)
o gesto se repete enquanto
o cão ladra a minha passagem.

(Pedro Du Bois, inédito)




quinta-feira, 18 de junho de 2020

AMAITÉ Poesias & Cia.

2 poemas, em:
https://amaitepoesias.blogspot.com/2020/06/aprendendo-voltar-pedro-du-bois.html?view=sidebar

SOBRE A BONDADE












Descubro a bondade inerente ao ato
de haver nascido - gente
                              gentio
                      selvagem - em vida
não programada: entrevejo
o sentido no primeiro abraço
                                     banho
                             cansaço
                             e fome

cubro a bondade com gestos
de progresso:        lanço a fera
ao encontro em descompasso.

(Pedro Du Bois, inédito)


terça-feira, 16 de junho de 2020

DOMESTICAR












Revejo o animal
no sofá

seus olhos dizem
da vida domesticada

suas garras agarram
o pano

rasgado
em selvagem
retorno.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 14 de junho de 2020

JOGAR












O jogo: chegar sem ser notado
             anotar o rito
                           ritualizar

sobre os mistérios expor
ideias ao longo do percurso

atrás do muro refletir
raios ensolarados
e se dizer profeta

do jogo: arrematar cartas de amor
em caixas empoeiradas do passado

sem pressa
na discrição do inverno.

(Pedro Du Bois, inédito)


sexta-feira, 12 de junho de 2020

APRENDENDO A VOLTAR XVI














a distância divisa o que resta
do trajeto: o horizonte fechado
ao acesso prenuncia o retorno

nada vejo
além
de onde
a vista
esconde
o resquício
da saudade

retornar é entornar a água
em que lembranças afogadas
se redimem na hora da partida

seguir após
a descoberta
torna obsoleta
a estrada

na entrada o túnel se bifurca
e o rosto se volta em acenos

(Pedro Du Bois)

quarta-feira, 10 de junho de 2020

FUTURO













Se na morte reparte o tempo
ido da vida sobre a cama
pela energia iluminando
a noite: regressa em passos
tênues em que lembranças
consomem e avisam

ressurge e apaga a noite
do fardo da partida
que a volta é o que leva
mentindo elogios e elegias

apaga o que o destino oferece
sabendo ser ingênua a troca
pelo errante caminho
inexorável que o presente
é cessado corpo aqui
sobre a mesa: frio em que
repousa o nada do tempo
em que está que do futuro
falará o quanto e agora.

(Pedro Du Bois, inédito)



segunda-feira, 8 de junho de 2020

ESPERA













A espera se faz amostra
de céu claro ao chamado
liberdade libertária ideia
na procura e no encontro
               
no fastio do corpo descansa
repousa as mãos nas pernas
fecha os olhos e não dorme
adormece o sonho da chegada

abreviada a espera encurta
o tempo passado ao seu lado
no abrir e cerrar a mente
no encerrado vento atravessado
na permanência da viagem

tem o sentido do instante
em que está acordada e ciente
do colorido que lhe é entregue.

(Pedro Du Bois, inédito)

Modus vivendi

Meus, em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2020/06/meus

sábado, 6 de junho de 2020

MEUS




Meu tempo literário
musas ao alcance
cavalos alados  
e ao lado descrevo
a chuva cobrindo
os morros: estou
sobreposto ao corpo
que se recosta
e descansa: lírico vaso
aporcelanado em cacos
pelo chão: corações
desesperados em antigas
formas cristalizadas

meus motivos na lira
em que escuto a canção.

(Pedro Du Bois, inédito)

Modus vivendi

O Medo (Medo), em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2020/06/o_medo_3

quinta-feira, 4 de junho de 2020

MEDO












O medo entranhado
no que conheço
começo marcado
na pele: mancha
das lembranças

sei do que sou capaz
tenho o medo estranhado
escondido na pele: sinceridade
                           e abnegação

o começo marca o espaço
delimita o gesto e no ato
conheço o corpo e a mente
em sentimentos aflora
no que guardo e o medo
explode na paixão.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 2 de junho de 2020

CIVILIDADE












Pela razões expostas
o pleito se afigura razoável

será recebido
analisado
contra-arrazoado
avalizado
desconsiderado em parte
que o tudo é muito
e não se faz de bom alvitre

será julgado no que foi pleiteado
menos no que for desconsiderado

da decisão caberá recurso
à superior instância
onde será protocolado
acolhido
analisado
no que restar do pedido
após as considerações iniciais.

(Pedro Du Bois, inédito)