Verdades
ritos perpetuam o sentido
em oferendas podres
pobres
do renascimento
e no ressarcimento
dos danos infligidos
inverdades
trocadas em miúdas notas
de dinheiro sujo
no contato diário
das mãos
toscas com que o artesão
empreende seu trabalho
de imitação da arte
descola a realidade
e a diz imprecisa
no juízo
que se declara
suspeito
na sentença
o físico avantajado do atleta
vergado sobre o peso
do corpo
endurecido
pelo tempo
na verdade sobra quase nada
de tudo o que é dito
e o violão seco e rascante
é maior do que a música
por isso o canto
ecoa
na voz da mulher
não amada
triste na passagem
rápida da fama
e do descaso
avança as palavras
a dizer da essência
e retorna ao anonimato
onde a ciência pesquisa
novos gritos
cores
pássaros em substituição
aos extintos
ressurgidos
fênix encontrados
na próxima feira
de abjetos
mente os olhos que não veem
concorda com a visão
e retorna em ondas
toma o leito da estrada
o veio da entrada
a mina oferecida
na escuridão
da galeria
onde os passos
se ouvem ao longe
enternece a música
a voz se cala
o final da fala
afina o fim
princípio
em versos
inanimados espantalhos
ante a porta
atentos espalham
pássaros ao vento
verdades
óbices de imagens
aplainadas de destinos
incultos e nem tão belos
palavras espalhadas
em folhetos pobres
podres textos
verdades
mudam o ritmo da festa
infestam a casa em asas
correm as madeiras
que sustentam o solo
onde a casa desaba
sobre o sentido
da língua entre elementos
desconhecidos
filósosos dizem
sobre tecidas
lãs cardadas
encordoados tons
sobre outros tons
sobre diversos tons
atonais
mínima hora de lembranças
fecham as janelas
antes entre a luz
e o vento desmanche
o castelo sobre a mesa
em última frase
e crise
mentiras destravadas em tiros
metralhas ilógicas
dos desencontros
onde um está
o outro falha
fartos estão
em si mesmos
o dia finaliza em carros que voltam
dos trabalhos e trazem os restos
e o cheiro ruim daqueles locais
guardados em mofos e focos
de insetos
o ganha pão
e o galã no café da esquina
destila sua última dose
avança a senha digitada
e asteriscos criam formas
prontas para entrar na tela
e a transformar em outro mundo
de desnudada alma
presa na cadeira
na escrivaninha
no guichê
onde o sujo dinheiro
transita o dia
mente a sensação de outrora
e a voz se repete na música
sendo outra a letra
a diva e a dúvida sobrepostas
ante ouvidos poucos
para tantos barulhos
trazidos de fora
é dever de casa
ficar calado
e ouvir o outro
ameniza a situação na baforada
com que apaga
o pouco da saudade
restam cigarros
antes que a doença
anunciada resplandeça
e retire sua paz
na tosse e na dor
com que se refugia
da fúria instalada
no que propaga
mente para si
o acaso do encontro
acasalado casal
acometido do sexo
limpo e fora de casa
seu desejo de encontrar
a amante sobre a cama
verdades
apenas verdades.
(Pedro Du Bois, VERDADES & MENTIRAS, Edição do Autor)
Anledningen
Há uma semana
"...e o violão seco e rascante
ResponderExcluiré maior do que a música"
Muito maavilhoso a tua poética!
Obrigada pelo envio de tuas obras para o meu e-mail, Amigo!
Parabéns, sempre! Cris:)