terça-feira, 7 de junho de 2011

A NECESSÁRIA PARTIDA

Aceno no reconhecimento ao adeus
do pranto: ir embora no rompimento
amigável e hostil do ato de partida

aceno e evito olhar o passado

esqueço o travo e desconsidero a hora
que partir é mergulhar o horizonte
ao fosco cansaço do corpo presente

refaço trajetos em acenos
e revolto o corpo

(sonhos permanecem nas paredes
 onde insone passeio minha vontade)

não aguardo: ofereço a entrada
e desapareço na estrada. Pago a passagem
no suor da espera e me reconforto no trajeto

(lembro a imagem errante do espelho
 e me pergunto se há outra reflexo)

ir embora na culpa de não ficar:
reflexiono sentimentos e me faço inteiro
na oportunidade do aspecto e no despropósito
entrevejo a bruma e no escuro tempo
sou louco
         cego
           surdo
              mudo desalento

(trancado em anos esgano a vontade
 e faço do pássaro o espaço vago
 na utilização do corpo)

volto ao tempestuoso dos que ficam
em andarilho trajeto na cristalização da terra

os pés na escalada: cair e levantar
na necessária alteração da dificuldade

(deixo folhas em veredicto: palavras
 não suprem o necessário ver o mundo
 com meus olhos)

ergo o punho em vingança: sair
avantaja o ser aos que ficam.

(Pedro Du Bois, A NECESSÁRIA PARTIDA, Vol. I, Edição do Autor)

4 comentários:

  1. "(trancado em anos esgano a vontade
    e faço do pássaro o espaço vago
    na utilização do corpo)"

    E eu engasgo diante de teu poema.
    Belo.
    Bravo!

    Um abraço

    Marlene Edir Severino

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  2. Grato, Marlene e Andel por suas leituras e retornos. Abraços, Pedro.

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  3. Há uns tempos atrás diria que não há partidas necessárias ou necessárias partidas, mas agora, eterno aprendiz de vida, concordo que há momentos difíceis, custosos, onde temos de deixar tudo pra trás e nos despedir até de nós mesmos.

    Pedro, numa viagem pelo site da Corpos vi que você já editou um livro com eles. Também eu em 2008 firmei contrato com os ditos quando da publicação de meu primeiro livro. Acontece o seguinte, desculpe se o incomodo, eu perdi o contrato em causa e agora estou com umas ligeiras divergências com a editora. A minha questão era se me podia tirar umas dúvidas sobre algumas cláusulas, visto que o seu contrato deve ser igual ao meu.
    As minhas dúvidas são, por exemplo, quando eles se comprometem a falar com o autor em relação às vendas do livro (a mim desde 2008 nunca me disseram nada, não sei se vende, se não vende), e qual a duração do contrato (se, por exemplo, ao cabo de um determinado tempo volto a ser detentor de plenos direitos sobre a obra e posso editar a mesma noutra editora).
    Ficar-lhe-ei muito agradecido se me puder ajudar. Já pedi à própria editora que me enviassem uma cópia do contrato por e-mail, mas não obtenho sequer resposta. No fundo, meu caro, quem escreve (mal ou bem) é muito pouco respeitado.
    Se preferir responda-me para o seguinte e-mail: ricardoalex_78@hotmail.com
    Muito obrigado.

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