terça-feira, 28 de junho de 2011

A NECESSÁRIA PARTIDA

Aceno no reconhecimento ao adeus
do pranto: ir embora no rompimento
amigável e hostil do ato da partida

aceno e evito olhar o passado

esqueço o travo e desconsidero a hora:
partir é mergulhar o horizonte ao fosco
ao tosco ao cansaço do corpo no presente

refaço o trajeto em acenos
e revolto o corpo

(sonhos permanecem nas paredes
 onde insone passeio minha vontade)

não aguardo a chamada
desapareço na estrada
pago a passagem com o suor da espera
e me reconforto com o trajeto

(lembro a imagem errante do espelho
 e pergunto se há outra reflexo)

ir embora na culpa de não ficar: reflexiono
sentimentos e me faço inteiro ao dano
oportunizo o lancinante aspecto
e o despropósito inconstante: entrevejo
a bruma e a chuva e no escuro tempo
sou louco cego mudo ao desalento

(trancado em anos na vontade de sair
 da casca e fazer do pássaro o espaço
 na utilização do corpo como escopo)

volto ao tempestuoso dos que ficam:
felizes os estanques que é do andarilho
o erro do trajeto e a cristalização da terra

ao barranco ofereço os pés na escalada: caio
no esforço: levanto e sigo a necessidade
alterada das dificuldades

(deixo folhas ao veredicto
 da vontade: palavras não suprem
 a necessidade de ver o mundo
 com meus olhos)

cego de paixão ergo o punho em vingança:
sair avantaja o ser aos que ficam.

(Pedro Du Bois, A NECESSÁRIA PARTIDA, Volume II, Edição do Autor)

2 comentários:

  1. Lindo poema "Necessária Partida", o li por tres vezes agora e sente-se a mesma sensação a de que era necessária a partida.
    Ótimo.

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  2. Grato, Maria Luiza, pelas suas leituras incentivadoras. Abraços, Pedro.

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