quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A OBRA NUA

...

3
Diversificado, elevo paredes e cubro
a terra alicerçada em concretos atos.

O prédio simboliza a conquista do espaço
onde se materializam horas de regresso.
A prisão é o elemento apaziguador
da obra inconclusa: concluo a seriedade
da matéria não aproveitada. Entre janelas
sustento a nudez da espera.

4
Semibreve colcheia
entre pautas desafia
espaços em branco

(remeto o som ao intermediário
instante em que se criam
mitos
e se desnudam
histórias)

o som recorrente
das estátuas.

5
Pode ser a pedra
a tela
a madeira trabalhada
no dever do ofício.

O canto ressoa notas
elastecidas. O pássaro
alcançado
pela pedra
sobre a grama.

O animal selvagem decorre
horas em terras desiguais.

6
Sinto a hora em indistintas
cores e decomponho a paisagem
em cálculos: a operação
completada em números.

Inúmeros pares transitam
ímpares lugares.

O relevo do trabalho concede
atos de bondade no estupor
do corpo diante da cena
em desarmada
hora.

...

(Pedro Du Bois, A OBRA NUA, 1º Ato, fragmento)

4 comentários:

  1. Pedro!

    Essa "Obra Nua", está em sintonia com o universo.
    Inspira-me uma sinfonia que poderá ser acabada ou não. Melhor, não, para que essa beleza de poema seja eterno.

    Um forte abraço!

    Mirze

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  2. Abraço, Mirz, e mais uma vez, agradeço pelo retorno. Pedro.

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  3. Com saudades de te ler, em visita ao teu espaço, encontro a tua reconhecida qualidade.


    "Semibreve colcheia
    entre pautas desafia
    espaços em branco

    (remeto o som ao intermediário
    instante em que se criam
    mitos
    e se desnudam
    histórias)

    o som recorrente
    das estátuas."

    Dizem que o silêncio fala quando tudo já foi dito.

    Abraço

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  4. Caro Felipe, grato pelo retorno. Abraços, Pedro.

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