Falamos de loucuras acontecidas antes do tempo
da seriedade abocanhada na graça dos corpos
inúteis em camas desarrumadas
amantes onde fomos enamorados
cada um olhou seu lado futuro
aberto ao nada dos exames médicos
inúteis seres não desabrochados: erros cometidos
em guindastes levantando honras aos méritos
preteridos, quisemos falar da hora
sem sentido, não o murchar
das flores no vaso, da água
que as apodrece ao contato, jovens
imitamos comportamentos adultos, adúlteras
formas de nos dizermos exatos cúmplices,
obra desfigurada ao expressar em palvras
o não sentimento, vontades eruptivas
de corpos quentes e nenhuma saudade
incompletos, evitamos olhares e vidraças
fechadas em câmaras que escureceram o quarto:
coberto, o espelho não nos refletiu, a opacidade
oportunista rendida aos medos
encontrados em gestos, toques e silêncios
voamos ares desconsiderados, como efígies
nos mostramos, um e outro lado,
faces intercaladas: tivemos pressa
e o rápido encaminhar do caso
nos trouxe acessos, raros instantes
de quase calmaria: poucas madrugadas
não devemos relembrar as loucuras,
cenas arrumadas, postiças, fora do tempo,
enredos mal anunciados, gritos lancinantes
tornados arremedos de conversas:
deslustramos histórias ao racionalizar
a época, circunstâncias, eventos e mentiras
desdobradas além da possibilidade
e encerramos nomes, locais e datas
refizemos em minutos anos desconexos
em tramas: não devíamos nos encontrar,
ficados distantes em vidas acontecidas
quando significados se reproduziram
em chamas consumidas ao todo: nada.
(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. XI)