sábado, 7 de agosto de 2010

ADORMECIMENTOS

Na repressão em que escondem as coisas
boas da vida: imagem negativa e obstáculos
ao despropósito dos hiperbólicos
discursos de palavras esvaziadas
em entendimento: reprimendas
contadas no espaço negado
ao crescimento. O sadio encoberto
em pecados não praticados. Medos
de horas escuras de adormecimentos

a bola e a boneca: o estrado e o gramado
desbastados em ácidos dribles e comidas
feitas no faz de conta: escolhas antecipadas
das deformações estéreis. Horrores contados
em histórias infantis de adormecimentos

a sociabilização e o anacoreta disputam
bagagens em frágeis ombros
de empregados destituídos de conhecimento:
levam e trazem notícias. Fecham as portas
após a passagem não parcimoniosa
das horas resguardadas em adormecimentos

a paz fragilizada em desencontros: os fortes
batem nos fracos e a situação se inverte
quando a fortaleza se prevalece em moedas
e aos fracos cabe a subserviência ilusória
de que tudo se resolve em adormecimentos

mentir e esconder as palavras malditas aprendidas
no meio da rua e ter respaldo em antigas orações
de corações compungidos: cordeiros e lobos
restabelecidos em espúrios adormecimentos

nada dizer sobre ânsias e angústias que destroçam
pensamentos até que reforços se esgarcem e ceda
o piso onde se sustenta a calma e a paciência: irmãs
acorrentadas em tristes histórias de adormecimentos

ao sentir o perfume das paixões ter desacordado
o corpo para não sofrer a inação da apatia:
o tempo ao amainar das expectativas possa
voltar o todo ao que era em adormecimentos

ter a certeza sobre os féretros e os nascimentos: fins
e começos irrelevantes para a raça: desgraça familiar
ampliada na mesma mãe: sentir no passar dos anos
o ir embora e o vir chegando dos adormecimentos

calculada maneira de dizer que omissões precedem
a participação em ilusões e venturas acabadas
no troar das armas não lisonjeiras das intenções
onde se fundem vazios e mentes em adormecimentos

rasgar e colar pedaços presos aos cantos e desfolhar
o caderno na procura da página onde registrados sonhos
e fazer a bússula tardia aos viajantes: desistir da busca
deixando na estante o volume em adormecimentos

sufocar e resfolegar: afogado e enforcado corpo acetinado
de mãos macias que o retém em prisão dissolvida em sonhos
e vigílias de lembranças de esquecimentos enaltecendo
a vista encoberta em noites de adormecimentos

demônio responsabilizado: dores e alegrias, risos
e lágrimas, encontros e desencantos: o espelho reflete
a emoção como forma a fornecer os entalhes
onde se registram passos e aconteceres adormecidos.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. VII)

Um comentário:

  1. Forte, Pedro!

    O adormecimento, como se fuga da realidade, da hipocrisia etc...

    A bola e a boneca, deformações estéreis. E a paz que também supõe-se resolvida no adormecimento!

    Muito BOM!

    Um forte abraço!

    Mirze

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