sexta-feira, 13 de agosto de 2010

RETORNO I

...
o irmão que me acolhe
sabe das bolhas em meus pés
e dos cabelos ralos

mal enxergo o futuro
em privações passadas
malgrado estar de volta
me revolto por ter voltado

meu gesto
de desespero
e raiva

sou sujeira retornada
do passado esquecido
reaquecido
em frágil pessoa
assomando a porta

esqueço o tormento
no único instante
em que enxergam meu corpo

outro é o corpo na entrada
de quem foi embora
em tempos piores

a serpente sibila segredos
e a pedra amassa a sua cabeça

não mentira minhas verdades
na pele retirada em oferenda

quero o regresso
o retorno ao tempo passado
o espaço e o tempo recuperados

no soluço reconheço a perda
(todas as perdas são detalhadas)
e como peregrino me liberto
em choro e provações diversas

nenhum paraíso permite o reencontro
entre os que partiram na bruma
e na chuva retornam

a lama dificulta o caminho
mascara os pés
indefinidamente

sou o estranho que retorna
ante os olhos atônitos
dos que ficaram.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. VIII)

Um comentário:

  1. Pedro!

    Somos estranhos, mesmo à nós que nos sabemos.

    Belo poema!

    Abraços!

    Mirze

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