sexta-feira, 7 de maio de 2010

ABSURDO

Absurdo tentar
tantas vezes
quantas
são
as oportunidades

alardeadas
em versos
propositais
em frases
desproporcionais
em silêncios.

O silêncio expande
o gesto: da janela
habito outra janela
de onde espio
a janela
contígua.

Contigo sei da ambição
covarde dos arremates
da vida encurralada
em ares de grandeza.

Tentativas revidam
o inoportuno sono
de estar cansado
ao relento.

O relento ambicionado
na tarde ensolarada
se desfaz em adjetivos
orgulhosos da cadeia
alimentar do pássaro
arrojado ao solo.

Descolo minha vingança
em beijos e abraços:
não sabem ao certo
da minha incerteza
e se dizem amigos.

Basto a mim mesmo:
organizo papéis
e sirvo alimentos
sobre a mesa
despojada de garfos
e facas. Traço as mãos
ao encontro do peito
penetrado em ordens
arrazoadas.

Como ingrediente súbito
da ambição absurda
da saudade.

Orei tristezas quando criança

retirei da carcaça
deixada às feras

a intervenção revolve
verbos: monstros odeiam ácidas
palavras. Sinônimos
e antônimos distraídos.

Ouço o absurdo da proposta
e me revelo no sentido
longitudinal do avesso.

Talvez a dúvida recomposta
em vértebras quebradas
na imobilidade do ataque.

Gosto de ouvir
a mulher amada: gritos
ironizam o espaço
despercebido em cela.

Gosto de me recostar
ao muro e receber
a frieza da pedra recoberta
em hera. Em eras anteriores
não me fiz apresentável
e fui despojado.

Ambiciono o dizer escasso
das entrelinhas. O estremecer
da floresta vislumbrada
na folha suave contra o solo.

Calo. O colo da mãe perde
a consequência e da criança
havida restam ralos cabelos.

Nada sobre a testa direciona
o canto. Nada sobre o conto
redireciona os olhos.

Durmo a absurda
razão de estar presente
ao desencontro.

O que me basta
por enquanto.

(Pedro Du Bois, inédito)

4 comentários:

  1. Pedro, que belo grito poético. Li, reli e vou reler muitas vezes, pois em cada estrofe me encontro e talvez seja esse desencontro que me faz estar menos absurda e aqui presente em palavras.

    Parabéns!!!

    Um beijo amigo e companheiro

    Carmen Silvia Presotto
    www.vidraguas.com.br

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  2. em absurdos assim, sentidos e ditos, se vê menos absurdo o contorno em contraluz que separa e une o havido e o querido, nenhum bastar bastando ao absurdo bastante da lucidez diluída em verso, para não doer tanto...

    ;_)))

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  3. Basta nada...
    Ai Pedro, poderia ter continuado...
    Lindo,
    lindo,
    lindo,
    emocionante
    útil,
    providencial,
    alerta,
    necessário,
    lindo,
    etc .
    Uff!

    Um beijo, poeta Pedro, e muitos aplausos!!!
    Outro beijo para as mães da sua família.

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  4. Belo e poderoso: eu n esperaria menos da catarse de um poeta consumado. Parabéns, Pedro.

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