domingo, 31 de maio de 2009

FICAR

...
esquinas se repetem onde quer que esteja.
No início conviveu com elas: cansou
e as deixou para trás, foi alcançado
em cada abandono: escolhas requeridas,
olhares atravessado, a raiva
de não exercer a negação: nenhum
caminho é o destino
e em passos calmos
se afasta;
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Volume X, fragmento)

sábado, 30 de maio de 2009

COTIDIANOS

Lixadas unhas
irregulares
cantos carcomidos
em mordidas

desprezadas cutículas
mal tratadas

no cumprimento
olha
avalia
quem lhe estende
a mão

como aprendeu em casa
sobre unhas limpas
e bem tratadas.

(Pedro Du Bois, em COTIDIANOS)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

AFAGAR

Afago o rosto
que olho agora

em outros olhos

escolho o caminho
traçado na pluralidade
dos conflitos e debates

dialeticamente

estorvo a passagem
de outros pássaros
negros

simples, afago o rosto
que agora me olha.

(Pedro Du Bois, em DAS DISTÂNCIAS PERMANENTES)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

40.
estar aqui e lá
ser o verde e o azul
o pássaro e o réptil
a escrita e a fala
visão e tato
o claro escuro das histórias
de amores irrespondíveis
em desejos tolos
o talo das plantas
ressurgido em seivas
capturadas ao solo

presença e ausência
lembrar e esquecer
ter você e lhe perder
como predador e presa
pedra e plástico
o amanhecer traz a luz
que não se esgota e aguarda
a outra volta

a semelhança e o desconforto
do não reconhecimento.

(Pedro Du Bois, em O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS, Volume II)

terça-feira, 26 de maio de 2009

CIRCUNLÓQUIOS

...
esquecer os erros repetidos resulta
em complicações estéreis sobre a natureza
e a aritificialidade como tratados os direitos
e os haveres dos investidores: anualmente
são publicados balanços e gráficos
com informações pertinentes e o trabalho
é auditado interna e externamente: estranho
seria se não fossem encontrados erros: todo
trabalho conduz imperfeições e o resto
é resultado do esforços em fazer o certo:
os acertos demoram: são tentativas; não há
vontade, desídia ou má fé; mandatários não
respondem pelos erros no exercício dos cargos,
lá estão para responsabilizar na linha de montagem
- e nos estanques cubículos e saletas -
os que se opuseram de maneira acintosa
aos destinos dos negócios: aos desatinados
cabem os arrependimentos e o contrangimento
de serem mandados embora
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, vol. IX, fragmento)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

(DES)TEMPOS

Certezas
nossas pequenas
pontas da verdade

o que nos tranquiliza
na travessia
das incertezas diárias.

(Pedro Du Bois, em (DES)TEMPO)

domingo, 24 de maio de 2009

A CASA EM PROCURAS

Fomos os filhos
não pródigos
nem sectários

duráveis e compreensivos
não como filhos
mas como pais que fomos

nossas casas permanecem
aonde vamos
nossas casas nos acompanham
onde ficamos

somos filhos
inocentados dos crimes
originalmente cometidos

não carregamos pecados
nem escutamos sermões

permanecemos no cadafalso:
curvadas, nossas costas nos acompanham
no martírio da passagem.

(Pedro Du Bois, em A CASA EM PROCURAS)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

ARMAZÉM DAS PALAVRAS

Poder
detido

poder
contido

repartido

quando se solta
incontido

em tantos
poderes

populares

uns e outros
todos

(Pedro Du Bois, em ARMAZÉM DAS PALAVRAS)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

(DO QUE SEI)

...
lamentável ausência ressoa vagamente
na lembrança despossuída em divagares
descompassados das cassandras
lentas em não profecias
ágeis nas mãos que me aprofundam
a pele em contatos atípicos
das relações menores

esquecido em minha base transformada
em mares singrados nas velas firmes
dos ventos calmos: calmarias esquentam ódios
de onde provêm o agudo grito das sereias
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, vol. II, fragmento)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

NÚMEROS RECONTADOS

Em três atos
o palco
resume
a vida

no entreato
as luzes
iluminam
os corredores

pessoas saem
para fumar

luzes apagadas
cortinas cerradas

permanece a vida
resumida
em cada um
de nós.

(Pedro Du Bois, em NÚMEROS RECONTADOS)

terça-feira, 19 de maio de 2009

SERES

1
Ser o incompleto arcabouço; silêncio da música,
desavença e amor descontrolado; paixão manifestada
no signo reapresentado como novo; o incômodo
e a honestidade perseguidos. Ser ainda e depois
na visão antagônica. De repente não ser apenas
a semente em vida para vingar a morte aproximada.

(Pedro Du Bois, em SERES)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

entropia



a vida
nasce
da vida
e cresce

esbarra
escuma
escora
esfola

e
escava
a cova

que
a morte
arruma

Domingos da Mota
http://fogomaduro.blogspot.com

domingo, 17 de maio de 2009

FRÁGEIS

São sensíveis os livros
impressos com os sentidos
estudos históricos
e a vida do escritor

por isso ficam
protegidos das vitrinas
e das prateleiras da frente

o burburinho os agitam
e seus textos imóveis
sofrem a pressão dos dedos

o dedo acompanha
a leitura e os lábios
repetem as palavras
escritas

sofrem os livros frágeis
escondidos nos espaços
escuros das prateleiras

onde brilham
e são encontrados.

(Pedro Du Bois, em O LIVRO FECHADO)

sábado, 16 de maio de 2009

SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS

Fronteiras
se destacam
em desigualdades: ambos os lados
se ofendem em salvaguardas

a diferenciação dos corpos
sobre mentes distantes
uma cerca
um rio
uma ponte
um sorriso
e uma morte

a ilusão de que a diferença
sobreposta ao gesto
gosta do que vê

ouvir hinos diferentes:
considerar verbos
e saber que a distância
se estende em capitais
além da compreensão
de leis
e ordens

desordenadamente
repetidas na singularidade
das roupas sóbrias
na sobriedade do acaso
no ocaso das dificuldades

a quantificação entre possibilidades
permite acompanhar olhos dispostos
na linha de defesa: o ataque solidário
dos animais indistintos em sotaques

afrontar a terra ao lado
ladear a conquista do território
tornar terra inconquistada

quando olhar ao horizonte desprezar
a cerca
acercar-se
do que pode ser a igualdade

talvez os deuses sejam os mesmos:
a contrição igual
o pecado original
a culpa acidental

não se remoer pelo outro
nem reacender a chama
nem rescender o perfume
da fruta aqui
e ali
perpetradas
em árvores
singulares

fronteiriça: a linha imaginária
se realiza na alça de mira

olhares alcançam horizontes
humanamente desprovidos
da largura
da profundidade
do aprofundamento
naturalmente
colocados
pela ação
da terra
ante
o tempo
assim considerado

seus olhos repousam sobre os meus olhos
seu corpo disposto em alinhamento
seu sexo ocultado em uniformes

a uniformidade conduz o desgosto
no sofrimento pela (não) passagem

conserva a esperança de ser irmão
e irmã: sem servidão destacada
na aridez do solo
na serventia do caminho
na solidão

frente a frente: em frente ao consolo
repousam mãos elevadas em entrega

consumir o espaço: cada dia entender
(ou sonhar) o despropósito: descoser
a linha: esgarçar a distância
em romperes de aurora

acordar ao lado e saber-se
estrangeiro.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O COLETOR DE RUÍNAS

13
Onde esteve escondido: o interior do nada
sob águas de primaveras - o acasalar
dos insetos e o despertar das folhas:
esperanças guardadas em fortalezas

por onde andou entre comidas
e festas: a fresta da janela
entreouvida em dúvidas
pelos pássaros recém
chegados.

Pensa retornar ao quarto prazeroso
e o estilo habitual se acomoda
entre sujos lençóis: a cabeça explode
dores em pensamentos inócuos.

Repassa papéis assinados
e os joga ao lixo: desaproveitados
como documentos.

(Pedro Du Bois, em O COLETOR DE RUÍNAS)

terça-feira, 12 de maio de 2009

AMORES

O amor em périplos de esperas
guarda a paixão; o abraço
dos haveres; a face do desejo
inconsumido; a oração desmerecida
ao carrasco: o vaso contém da folha
a flor em pétalas: quando o amor
floresce e o tremor sobressai
ao corpo. A dama repleta
de hospitalidade: aos filhos
cabe ressarcir os anos atravessados
em lutas de adjetivos: o amor
desmerece o exílio, exige regressos
e evita as condenação indigestas
dos julgamentos: o estar ausente
ao futuro, o desdizer do grito
em comédia, a oferta
das promessas: o amor
desdobrado em ameaças.

(Pedro Du Bois, inédito)


segunda-feira, 11 de maio de 2009

O JARDIM DO LABIRINTO


Ser do jardim o caminho

entremeado em flores


folhas decompostas

ao solo, tardio

em geometrias: teu

o labirinto onde formigas

carregam o destino recortado

e o medo avassalado: nada

se compara ao jardim

destruído em pedras

e inços: o jardim

das maravilhas perdido

em curvas indecifráveis.


(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 7 de maio de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

...
do vento, invente as próprias glórias e as declare
de utilidade pública: votos depositados
em casamatas escuras; rápidos
gatilhos acionados, a saraivada
de tiros, balas perdidas em paredes
ocas, corpos sobre calçadas de transeuntes
embebedados em medos: receios infundados
e o traçado do grafite delimita territórios;
podem os temores serem recorrente
das limpezas: marmóreo olho ainda aberto,
corpo despedaçado em amores, lembranças
sobre mesas desarrumadas: restos. Sextantes
apoiam a viagem não programada: fugas
dos territórios amigos desconhecem
as pessoas, barreiras humanas
na explicitação das ideias; arroubos
juvenis na recepção aos convivas
oficiais; cena remetida à integração
entre palco e plateia: os primeiros
desencontros: falar e ouvir, reticências
e a promulgação da lei: falácia em código
onde atos são tipificados e o nada
é inexistente; presentes e cientes
longínquo e do perto amor: crisálidas,
beijos e abraços; a traição cega
a inteireza do ser.


(Pedro Du Bois, em O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS,
Volume I, fragmento)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

TEMPOS

Reduzido
ao outono
- tempo presente -
me ofereço ausente
de retornos
- tempo presente -
tangente exposta
sou aposta: apontado
ao destempero vicejo
invernos desiguais
- tempos aparentes.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A LEVEZA DO TRAÇO

Frutas
vasos
toalha
mesa

a mão do artista
plasticamente
percorre o ambiente

na combinação das peças
nos remete ao mundo
da admiração consciente

estendo a mão sobre a tela
e aproveito o contato.

(Pedro Du Bois, em A LEVEZA DO TRAÇO)

domingo, 3 de maio de 2009

DIAS

Dias em que nuvens superam os horizontes
e voltamos para dentro: caramujos caseiros
desdenhamos as luzes e nos recolhemos ao sal
que nos desmancha os corpos: poderíamos enfeitiçar
o verde que da mata nos observa: silencioso silvo
da serpente nos acorda em lágrimas
silvestres de amostras e os telhados pontilham azuis
celestes: do outro lado gargalham vozes
sem sentido: fazem do encontro o acordado
em sutis toques com que se fecham as conchas.
Mostram os dias no infinito ardor emparedado
aos bilionários anos de sagrações e esperas: antes
fossem transformados na liquidez da espécie
e retirassem as demonstrações de afeto e graça
...

(Pedro Du Bois, em POETA EM OBRAS, Vol. V, fragmento)

sábado, 2 de maio de 2009

MANDAR E FAZER

Do que foi dito
memória

jogos de lembrar

do que foi feito
história

jogos de mandar

dizer e fazer

próximo
distante

na materialiação do verbo
na desfragmentação do ato.

(Pedro Du Bois, em TANTAS MÁSCARAS)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

CURITIBA


Leminski
tinha razão
muito mar
passou por aqui

Leminiski
tinha razão
sobre a eternidade
da juventude

Leminski
não teve razão
ao ir embora
antes que o mar voltasse

antes findasse
sua eterna juventude.

(Pedro Du Bois, em AS PESSOAS NOMINADAS)