quarta-feira, 26 de março de 2014

PASSADO

Armazeno as coisas
 desprovidas de matéria: acode ao cego
                                  a bengala
                                      o cachorro
                                 acorre ao surdo
                            em sinais e gestos
escondo na criança o crescer e a seriedade
em gavetas trancadas
                  o mistério transparece
                  na mão conduzida em chaves

apelo ao senso
           o desuso e a catraca
arrepia o sujo
           a água e a macela
ausentam o corpo
           a matéria e a ilusão
roubam do portador a entrada

forço a gaveta
            minha mão é forte
e avanço lerdo o caminho no instante
atravessado ao mundo
            a conversa e o barulho
acendem o fogo
            na imagem e gosto
jogados aos mortos

a ventura recupera meu medo
em conversas baixas

           o silêncio impera.

(Pedro Du Bois, inédito)

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