domingo, 3 de julho de 2011

(DO QUE SEI)

...
avisto a terra prometida e outro me antecede
tomando posse aos gritos de avante a diante
de mim passam lembranças de perdas anteriores
na minha fragilidade do todo conservado
em invólucros fechados ao desconhecimento
com que me avolumo e me atraio diariamente

o sorriso com que ela me entrelaça
o gosto
          o tórrido desgosto com que me descarta
          no primeiro beijo e nos demais extratos
          a perfumar o percurso
                            não percorrido

retiro os barulhos com que me assusto em dias
anteriores ao ócio despersonificado
                             em gratidões
                             adquiridas
nos vãos entre as portas
e na luminosidade dos solários

o apagar das luzes
               o fechar das janelas
sejam os ambientes permeáveis
aos sentidos acobertados em camas
desservidas de amplitude
                     e consequência

o restante da história não contada
a música se avoluma em meus ouvidos
surdos ao complexo desabitado
da balbúrdia
          onde cego avisto o destino
          das coisas mal acabadas
                 fornidas ao relento
                 das vitórias em frêmitos
                 e horrores lançados ao mar
da hipocrisia: árvores derrubadas
no sacrifício em memória das vitórias
conquistadas pelo homem

arremeto o corpo ao compadecimento
furto-me aos embalos do rejuvenescimento
coercitivo da poesia não alavancada na hora
em que ouço o chamado e me calo
que o canto dos pássaros e o grito
das crianças em brincadeiras
não me assustam

confirmo meu desconhecimento como álibi
dos constantes ataques e à mudança das cores
que o arco-íris se esfumaça no firmamento

esterilizado o corpo perde a condição primeva
de se antecipar ao que afinal lhe cabe em remorso
na imensidão em que se esquece do começo
e da geração inócua da energia
desperdiçada pelo caminho

relembro castelos: sonhos da intimidade
na infância
           retirávamos o bastante para nos fazer
menores do que fomos e maiores do que vimos
a ser quando crescemos em tempos inofensivos
de estudos
            trabalhos
                  e famílias

acolho críticas e a elas dedico versos
de carícias não submetidas ao crivo
do desatino na passagem do cortejo
e nas flores abissais do pensamento
em que despedidas se apresentam.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. II, fragmento, Edição do Autor)

2 comentários:

  1. Olá amigo, este seu poema, que é uma crítica, uma contestação, é fantastico. Alguns momentos parei para pensar e prosseguir, porque me remetia constantemente no que eu tambem sinto.

    Beijos

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  2. Incrível sua sensibilidade, Pedro!

    Lindo poema sobre o mundo atual. Externo e interno mundo nosso.

    Beijos, poeta!

    Mirze

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