quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CIRCUNLÓQUIOS

Não encontra o espaço da lembrança
sufocado em notícias de desencontros
e preguiças: armas necessárias à luta
açulada diariamente pela imprensa
e imprensada em cartazes
nos corredores da impresa

ontem é o hoje dos negócios onde
clientes são amadurecidos em ideias
sobre humanas de desprazeres: a melhor
oferta considerada ofensa
ao que pode ser oferecido

basta a boa vontade de esperar um pouco
para que completem o atendimento

ressoam passos pesados de futuros
enfileirados em bandeiras não desfraldadas
de novas conquistas na gélida impressão
de ser conduzido ao nada
e não poder se livrar: preso
à corrente não solidária dos amantes
o todo colocado sobre as costas
em disposições de entremeios
onde transita os dias

não há espaço para viver com a família
famigerado espírito esportivo presente
em cada homilia: fosse a palavra agora
demoníaca dos vendilhões que se insurgiram
nos tempos de acobertamentos
e negócios escusos

democraticamente escolhe entre
quem se apresenta como candidato
e do geral ao particular sente o mesmo
impacto de quando não havia nenhum deles
e as soluções impostas em caricatas
cassandras revoavam céus ainda varonis

passos ressoam perto
e altos os sons despendidos
em desacordo ou desacerto
na impossibilidade do gesto de ternura
como assumiria as responsabilidades
familiares: ao filho cabe o mesmo caminho
despreparado na imaterialidade
e da pobreza com que os intelectos
são impregnados na passagem alhures
de (não) misteriosos elementos
em aceitações e pagamentos

...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IX, Edição do Autor, fragmento)

Um comentário:

  1. Palavras ditas “sem rodeios” e que todos gostaríamos de “vomitar”, descreve bem o nosso tempo. Gostei!

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