terça-feira, 30 de março de 2010

DOS AMORES

porque te amo todos os dias
estou acordado
pensando nosso futuro

pensar o futuro
como apanhar estrelas
em firmamentos

o amor prescinde
certos tormentos:
a inveja
e a intriga
não participam

idealizar o futuro
sem abdicar do passado
na história repetida

o amor que nos seduz
nos conduz: e nos levará
em revoada na tempesteda
que se anuncia.

(Pedro Du Bois, DOS AMORES, 3)

domingo, 28 de março de 2010

A CASA DIVERSA

Do alto
avista

cidade presa
concretadas casas
enredadas ruas
nuas

há prisão maior?

(Pedro Du Bois, A CASA DIVERSA, dedicatória)

sexta-feira, 26 de março de 2010

O NOME PROVISÓRIO

Interessado em naus
naves
navegadores (mares permanentes
deixados ao espaço preenchido).

Nado ao encontro e a tormenta
foge vagas. O nome: vago.

(Pedro Du Bois, A PALAVRA DO NOME, I)

quarta-feira, 24 de março de 2010

ALGUMAS PALAVRAS

Palavra acalmada
suaves dizeres
sobre o que temos em comum

palavra apaziguada
breves murmúrios
após a carne sossegada

palavra assentada
sólidos conceitos
no que temos de certeza

palavra descoordenada
palavrões no susto do sofrimento

palavra rezada
mágicas orações
após a hora da chegada.

(Pedro Du Bois, ALGUMAS PALAVRAS)

segunda-feira, 22 de março de 2010

SURPRESAS

Das surpresas guarda o espanto
com que se descobre
além do mistério

ileso corpo
sobrevivente
ao instante.

(Pedro Du Bois, DESENREDOS)

sábado, 20 de março de 2010

SERES

Dignificar o nome repetido em ofensas e rearrumar a cama
em manhãs indolentes. Adjetivo e advérbio. Substantivar
o nome ao externo gosto do registro. Dialogar o cedo
ao tarde e se fazer mediano em mediocridade. Avançar
a perna à queda. Ser o anular como prova: ouro
significado e pedra inexistente. Cinzentas horas.
Extrair da memória o fato vendido ao fado. Renascer
na dignificação do nome da família.

(Pedro Du Bois, SERES, 2)

quinta-feira, 18 de março de 2010

RETRATOS

Quem retrata
o momento
apreende a cena
descortinada através da lente

não guarda
em outros ângulos

desfocados

não vê o sofrimento
e a alegria
dispersos em gestos

retratos não vivenciam.

(Pedro Du Bois, RETRATOS)

sexta-feira, 12 de março de 2010

NORTES

Da certeza traduz a dúvida em raios
espiralados aumentando o enfoque
com que a visão avista o corpo
sob a preguiça imensa do instante
traz o circunspecto, maneira escura
de soçobradas escunas em mares
de peixes alvoroçados em barulhos
e mentes devoradas pelas águas

organizado universo de onde somem
as lembranças, resumos e compêndios
traduzem em ilhas a parafernália aberta
aos encontros: nem sempre somos felizes
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. XI, fragmento)

quarta-feira, 10 de março de 2010

ESCREVER

Escrevo de oficío
na necessidade
da mão
ao segurar
o grafite
ao guiar
o grafite
ao riscar
o papel

escrevo fosse a última vez
e minha voz na imensidão do espaço
repete o não que não se avoluma
em sim e representa o fim

escrevo no ofício da repetição do tema
em que tremo a mão que me afirma
em texto tímido de retomada forma

escrevo na saudação do dia
e esse dia não tem fim.

(Pedro Du Bois, A MÃO QUE ESCREVE, I)

segunda-feira, 8 de março de 2010

COVARDIA

A covardia na agressão vazia
com que preenche o espaço tempo de vidas
loucas em opções baratas e embarradas
sujando a entrada e acertando o pássaro
sobre a antena da televisão

a covardia dos falsos profetas
e dos argentários da solidão
silenciosa dos túmulos ocos
sentidos do anoitecer e a rua
isolada em fitas amarelas de acidentes

a covardia dos cantos
em palavras suaves e melancólicas
fosse a oração de outrora
e o dia surgisse da sua vontade

a covardia em si fechada
agrilhoada ao penhasco em disputas
vãs onde se perde em restos de humanidades.

(Pedro Du Bois, O ESPAÇO VAZIO)

sábado, 6 de março de 2010

PRIMEIRO DIA

Primeiro sentido, barulho do corpo na água
com a suavidade do linho, papel transformado
em barco; quedas invertem o movimento
dos mares e as marés declinam; sentimento
conduzido por salas escuras de entretelas;
rebrilha a vontade de ir embora,
através da porta fechada ouve a voz
chamar; está chegando,
não indo embora; vontade espúria
dos contatos; entra na sala e vê
o papel sendo retirado: sua morte
selada recebe o não; está salvo.

(Pedro Du Bois, A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS, 1)

quinta-feira, 4 de março de 2010

A PEDRA DESCORTINADA

Não me desobrigo
das intenções
nem me exilo
em praias além
das imaginações
nem me recolho
ao simpático gesto das entrelinhas

as obrigações reverberam
músicas em prelúdios
ouvidos em exílios parcos
de recolhimentos

não me furto
aos olhos imagéticos
dos bruxos que me cercam
em pedras.

(Pedro Du Bois, A PEDRA DESCORTINADA)

terça-feira, 2 de março de 2010

RAZÕES

razões justapostas
ecoam ideias contrárias
nas mesmas vozes
do entendimento
reverberado

cegueira
distância
procura
ajuste
e glória

retornam
apertadas
sacudidas
sujas e rotas
rasgadas

em comportadas razões.

(Pedro Du Bois, COMPORTADAS RAZÕES, V)