Escrevo de oficío
na necessidade
da mão
ao segurar
o grafite
ao guiar
o grafite
ao riscar
o papel
escrevo fosse a última vez
e minha voz na imensidão do espaço
repete o não que não se avoluma
em sim e representa o fim
escrevo no ofício da repetição do tema
em que tremo a mão que me afirma
em texto tímido de retomada forma
escrevo na saudação do dia
e esse dia não tem fim.
(Pedro Du Bois, A MÃO QUE ESCREVE, I)
Anledningen
Há uma semana
Da mesma lavra temática...
ResponderExcluirLIRA PERDIDA
Na página adiante, a fria alvura
É um mar de tão branca secura
Que por tal palavra me faltasse
Na letra ausente eu me afogasse
E tateio, adivinhando a tessitura
Se dela inda estivesse à procura
Qual se a mim mesmo buscasse
Num travo à língua, um impasse
É que falta a cor, se oculta a face
E o próprio verbo criador descura
Qual se do fiat lux se ausentasse
E clama a metalingüística lisura
Na folha maculada, em sua alvura
Que eu a mim mesmo edificasse
Francisco de Sousa Vieira Filho
['sede oleiros de vosso próprio barro.']
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ATHENE NOCTUA*
Ah, poesia, linguagem caprichosa!
Do bom-ócio grego, o farto ventre
Dúbia e faceira, mansa e chorosa
Qual se nos achega quase sempre
Em sua dança geniosa não se curva
E se ao bel sabor o sentimento turva
Mal se presta a falar o que só pode
Cantar o coração em cifrado códice
Suas belas asas não deixa vergar
A quem só dela foge, se a pretende
Esforço vão, a vil noção conceituar
E em seus profundos olhos tende
Se co'a Filosofia alça vôo acúleo
A desbravar o horizonte cerúleo
Francisco de Sousa Vieira Filho
FONTE: VIEIRA FILHO, Francisco de Sousa. Lira Antiga Bardo Triste. Teresina - PI: Gráfica e Editoria O Dia, 2009. v. 500. p. 14.