domingo, 20 de junho de 2010

DÍVIDAS

Sobre o dinheiro recebido em pagamento
nada diz
nada disso
é importante não fosse o troco
a ser recolhido como óbolo
para fazer crescer o todo
o bolo
o ódio ressentido das moedas
tilintando em bolsas
sacolas
carteiras
moedeiras
mãos vazias de atividades
reconhecidas em pagamentos e recebimentos
externados em recibos firmados
sobre estampilhas
e assinaturas
ilegíveis

sobre a obra feita
a compra efetuada
o trabalho composto
o sangue o suor e as lágrimas
derramadas durante a jornada
conta das derradeiras trapaças
com que os destinos suprem
os lugares vazios de significados

diz quem é e se destaca dos demais
e jamais pede socorro
ajuda
auxílio
esmola porque sabe
seu valor acima dos bens
imateriais das auroras
acontecidas ao sair de casa

sobre ir embora sem levar o dinheiro arrecadado
simula conceitos e algaravias onde recompostos
os sentidos originais dos pagamentos efetuados
e opta por saldar suas dívidas urgentes
em função do estado crítico dos credores
dos agiotas
dos financistas
dos plantonistas de bocas
infernais onde queimam as melhores
intenções e o demônio sobrevive em águas
nem tão tépidas que não possa usufruir
suas maldades adicionadas aos erros
praticados pelos pagamentos
pedintes
viúvos alegres em noitadas
vivenciadas em estrondos
solertes das moedas mal empregadas

quem de nós pratica o primeiro crime
tenha o corpo retirado da sala pública
o espírito espoliado das questões críticas
a passagem apagada dos livros únicos
sua vantagem anulada em éditos súbitos

dos ouvidos moucos com que se fazem ausentes
criminosos anteriores lançam novas verdades
descascadas em frutas ácidas de largas sementes

somente o andar da carruagem faz enjoar
o cavalheiro em bancos perfumados
defumados
afundados
do restante do ócio faz o encontro amado
e tem da companheira o olhar cerrado
dos enganos desvendados: o pagamento
feito à pessoa errada não livra o devedor
de passar outra vez pelas mãos do credor
como regra e regulamentos e livros de leis

evita pedras jogadas
contra o corpo
defende-se com os braços
e as mãos entendem
a dor da dívida
como resgate.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. IX)

2 comentários:

  1. Maravilhoso, que cada mão possa trazer novas jogadas, paz.
    Beijo Lisette

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  2. Pedro, este poema é genial em ideia, reflexão e ritmo... parabéns!!!

    Um beijo

    Carmen

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