Meço a distância que me separa da fera
que sabe no distanciamento o medo
do que nos separa naquela hora
vou ao seu encontro e a fera recua
no primeiro instante: seu instinto
a faz recuperar a postura ferina
com que seus olhos brincam
em dentes brancos quando
o corpo ágil arremete
ao meu encontro
sei da sua força
agilidade
malícia
e do impacto do seu corpo
sobre a minha queda
seus dentes na minha carne
e suas garras dilaceram
não há distância entre a fera e eu
somos aos mesmo tempo único corpo
no chão rolado em sujeira e sangue
a fera me abestalha quando a humanizo
e com meu corpo estraçalhado assumo
seus olhos e são meus seus dentes
permaneço na fera em segunda pele
ela se debate querendo se livrar
do incômodo hóspede que a assume
com corpo e alma humanizados: duas
feras abestalhadas e soltas.
(Pedro Du Bois, inédito)
Envelhecer
Há 14 horas
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