quarta-feira, 30 de maio de 2012

ANTES

Saber da excelência
a véspera
                 antes o desdouro
            nasça e se faça fonte
ao jazer na espuma ocidente
a lâmpada apagada dos ex-amantes

barcos aos cais anunciam
atracar em portos
        desacostumados na avalanche
                    marítima das verdades

 no dia anterior barulhos cessam
e na voz a surdez exala o poente.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

TÂNIA

Saio: a rua conhecida me acompanha
no trajeto decorado em portas abertas

sua casa me oferece o tempo
necessário ao convencimento

caso o corpo no corpo
oferecido: na unidade
reside o esforço
da multiplicação

a rua inconclusa avisa
sobre a próxima quadra:

          passo após passo
          afasto minha sombra
          e sua casa contém o trajeto.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 26 de maio de 2012

RECONHECER

Não reconheço no recibo o nome
assinado como depositário: minto
nomes ao contento das obrigações
diárias e os espalho em documentos
inconsequentes: não tenho nome,
sou objeto indireto na história:
desnomeado avesso ao contrato,
nome desdito no cumprimento.
O nome ao chamado feminino.

Como ser chamado pedro ou paulo.
Como ser antônio e pedro ao mesmo
tempo. Como ter sido lino e alfredo.
Como lembrar adão, sylvio e pedro
novamente escrito no papel oficial.

Recorto e colo outro nome
sobre o nome do documento: pronto
ao dia do chamado. A todos, atendo.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

CENA

O retrato implica em conhecer
da rosa
      o perfume
do rosto
     a imagem

o detalhe amplia
as transformações: olha com os olhos
                         do dia em que a câmara
                         explode o instante da abertura

o retrato acoberta o que guardo
e me distraio em dias alternados
ao presente: fosse hoje o sorriso
extravasado no tempo
                  depositado

hoje é o dia alternado
de não rever no retrato
o perfume e a imagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

OLHAR

Sobre o que conversam
nossos olhos
            na certeza
       do olhar
       reforçando os laços

nos olhos as conversas
combinam passagens

       e se fecham
       em silêncios.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

SER

Como foram os pássaros
antes das asas e da vontade de voar

como fui antes do tempo
dedicado ao medo de servir

servo na massificação
acredito em salvaguardas
e nos guardiães do outono

de porta em porta abro o futuro
e a luz de intensidade finda
apura minha visão ao fora
do controle abissal do medo

sei que há a mão estendida
no lado de fora: estou no interior
do nada e a grade pesa
ao ouvido em ameaças.

(Pedro Du Bois, A CASA DAS GAIOLAS, XXVIII, revisto, Ed. do Autor, 2005, 2a. Edição)

terça-feira, 15 de maio de 2012

A MÃO QUE ESCREVE

A mão escreve o mote
junta em versos
palavras esparsas

                     dispersas

quantos poetas fazem
cem anos neste ano?

nascimento
       primeira obra
       primeiro prêmio
       primeira morte

a mão esconde o chicote
com que trata as letras

                  dispersas
         esparsas entre versos.

(Pedro Du Bois, A MÃO QUE ESCREVE, 1, revista, Ed. do Autor, 2005)

domingo, 13 de maio de 2012

DOMINGO

Somos vistos
no bater dos tambores
e na aguda voz
somos vistos
no lado intermediário
e no ansioso grito do pássaro
somos vistos
na abraço do filho que retorna
e no navio que longe atraca

somos vistos
como quem preenche os vazios
e lava suas roupas na beira dos rios
somos vistos
exemplares pais de famílias
e tempos de profanos amores
somos vistos
e de nós dizem parte da verdade
e da grama que cobre nossa campa.

(Pedro Du Bois, A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS, Os dias indiferentes, Ed. do Autor, 2006)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O NOME IGUALADO

Sou menos que o nome disposto
na aventura. Arbusto enraizado
na área cercada em arame.
A farpa da madeira interposta
na igualdade: entre você e eu
                       repousam nomes
                       desmerecidos.

Igualo a impronúncia da palavra
e me afasto em ângulo:

                  corpo e alma
                  carrego a essência
                  e a transcendência
                                 permitidas.

(Pedro Du Bois, A PALAVRA DO NOME, IX, 1, Edição do Autor, revisto)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

SENHORA

A senhora descreve o arco
                  persegue o soneto
                  rápido em formas e rimas

pobre poeta que trabalha
na escolha do tema
e na perseguição
              da rima

a senhora vem sobre as palavras
(dirigível em chamas)
e queima os versos

atravessados e carcomidos
ao sabor - e desgosto - da senhora
                 desdenhada ao texto.

(Pedro Du Bois, LIBERDADE (ELAS), l, Edição do Autor)

domingo, 6 de maio de 2012

Brevidades - comentários

por favor, acessem:

http://www.umacoisaeoutra.com.br/literatura/dubois.htm

http://www.onacional.com.br/colunistas/gilberto-cunha/post_id:3440

http://www.onacional.com.br/colunistas/gilberto-cunha

agradeço.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

SOLIDÃO

A solidão exemplifica
o crime: a desigualdade
invade a calçada e me atropela:
ouço o tropel do cavalo
não alado - marmóreo -
em estátua produzido;
no alcance da poeira
o riso se faz esgar
e o cavaleiro - rosetas em pés -
me achincalha. A minha solidão
se solidifica e do extremo gesto
recomeço na busca do instante:
conto dias de regressos e a luz
da pergunta repete o crime:
desço do cavalo em grilhões
e o buçal rasga sua boca
de enfurecida fera: espero
a esfera girar sobre o todo
e o crime se consuma em guerras
alteradas em notícias de jornais.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

COMPRAR E ALUGAR

Tudo o que for comprado ao destino
se desatina no uso imediato: a nota
indica o preço fiscalizado da ousadia
em estar vivo. Avivado, retira o objeto
do pacote - abre o invólucro - e o reduz
ao nada. A desatinada via dos encontros
dispensa compras e vendas. A vida
alugada ao acaso reserva a surpresa
do atraso no findar do risco que ocorre.  

(Pedro Du Bois, inédito)