segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS

1.
...
Volta sua lembrança ao tempo das terras planas, suaves
ondulações e a água do mar sob os pés cansados.
Devia ter ficado, ter ouvido, ter vindo, como veio,
e sofre as consequências: que são as consequências
ante o não ter vindo? Perdido instante em que a montanha
vem abaixo no estrondo e nos gritos horrorosos dos passantes.
...

(Pedro Du Bois, O NASCER DOS ARES E DOS PÁSSAROS,
Vol. I, fragmento)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O COLETOR DE RUÍNAS

Reconhece a voz, a face
na luz do bar: a voz repete
palavras, diz seu nome,
fala do passado, invade histórias

sua mão toca o ombro
e seu hálito esboça
sorrisos: sou eu, diz
a voz, o fulano
de tantas lutas
e festas, o desconexo
viajante das estrelas
e o circunspecto pai
de família; a mulher
sorri o contato:

tristes figuras insensíveis
ao tempo ultrapassado.

(Pedro Du Bois, O COLETOR DE RUÍNAS, 3)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

PAREDES

...
nem o castigo, nem a prisão, nem palavras alegres
demonstram no prisioneiro o cansaço; quer o tempo
para suas diárias premissas, olha através das grades
o tempo apresentado, mira nuvens e o azul celeste
onde se reconhece; alvo desinteressante, passeia
sua sina (presa) entre altas paredes
...

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. V, fragmento)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

BEZ BATTI

Sente na pedra
a fintitude
e a ultrapassa
em golpes
(razões) irracionais dos ataques
como amar a solicitude
e aos gritos expulsar
do ato a insignificância

- dias rápidos em passagens
permanecem: na pedra a permanência
aguarda nova explosão -

a transformação se adensa
em novas formas
e polimento
e a pedra está além
da finitude: o infinito
da obra
acabada.

(Pedro Du Bois, A LEVEZA DO TRAÇO, uma homenagem ao escultor
João Bez Batti).

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

XXXI

O refrão repete a música em lembrança

árduo reconhecimento
de épocas melhores

o refrão refaz os desencontros

efêmeros toques
em alegorias

o refrão conduz ao acontecimento

gênero decorrido dos estetas
aos olharem embevecidos as obras

o refrão mimetiza as cores

elastece o tempo apropriado
onde guardadas as respostas.

(Pedro Du Bois, A RECRIAÇÃO DA MÁGICA)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A LUZ DESPOSSUÍDA

A luz
as luzes
esperado encontro da visão
e o objeto visto
avistado
iluminado
no instante
em que a razão
cede ao impulso

retorno
como pedra bruta
na terra revolvida
do acariciar da luz
sobre o corpo

a luz do amanhecer
transporta ao início
em fotossíntese.

(Pedro Du Bois, A LUZ DESPOSSUÍDA)

domingo, 13 de setembro de 2009

VERDADES E MENTIRAS

...
inverdades
trocadas em miúdas notas
de dinheiros sujos
no contato diário
das mãos
toscas com que o artesão
empreende seu trabalho
na imitação da arte
...

(Pedro Du Bois, VERDADE E MENTIRAS, fragmento)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

VIDA E TEMPO

A vida que a ti recuso; tens a sede
e o viver em essência, os cabelos
sobre a testa; iluminas a hora e dizes:
conserto o tempo que pedires e serei
amigo sempre; nada mais escutes
e mantenhas aberta a porta: não
terás a mim no sacrilégio e as horas
passarão ao longe; indisponível a lança
se fará curva e a morte a recusa
com que te dirás pronto ao começo.
...

(Pedro Du Bois, TANTAS MÁSCARAS, fragmento)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

YAMANDU

Cordas entre dedos
ágeis
coordenados

cordas entre sentimentos
rápidos
extremados

cordas entre mãos
leves
diáfanas

Yamandu entre cordas
sentimentos
dedos
mãos.

(Pedro Du Bois, OS SENTIDOS SIGNIFICANTES)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CONFUSÕES

...
a música completa a cena
em barulhos e marulhos
o vôo do pássaro informa
sobre o sistema relatado
por último sobre a besta:
estará presente ao desfile
sentará na primeira fila
e comandará o estoque
encalhado em desajustada
feira liquidada na passagem

depósitos entulhados esvaziados
em conversas ocas de amenidades
fora dos lugares adiantados
para encontros e desencontros
de corpos e olhares
...

(Pedro Du Bois, POETA EM OBRAS, Vol. I, fragmento)

domingo, 6 de setembro de 2009

ESPAÇOS DESOCUPADOS

Aos hominídeos
foi dada a escolha
de continuar
conosco
ou desistir
pelo caminho
predatório das civilizações
futuras
de conquistas científicas
e tecnológicas

aos hominídeos coube
o que procuro
no desenrolar
do espaço abrangente
do tempo
e das lembranças.

(Pedro Du Bois, ESPAÇOS DESOCUPADOS)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

COMO ESQUECER

Partir todas as vezes
em que preciso for

não desmerecer a luta
que tantos tiveram
para você poder sair.

Esquecer o tempo ruim

mas lembrar
que ele existiu
para que não se repita.

(Pedro Du Bois, em PEQUENOS ESCRITOS)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

GUARDAR RETRATOS

Retrato na carteira
móvel

retrato no porta-retratos
removível

retrato
emoldurado na parede
imóvel

retrato
guardado na caixa de sapatos:
inalcançável.

(Pedro Du Bois, em REENCAMINHADO)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

LIVRES

6
A liberdade não transparece
no objetivo
trajeto
voto
e consequência

sentido
entre um
e outro

decorrentes escolhas
de frágeis opções

a vida
em que nos sentimos
seguros

não o desejo de ser feliz
não o querer da felicidade
não o poder estar aqui
em realizada vida.

(Pedro Du Bois, em LIBERDADE)