sou parte da lembrança
uso imagens remanescentes
nos ditos apropriados sub-repticiamente
da terra natal materializada em noites insones
meus prédios não merecem
citações eruditas de estilos
construídos no êxtase
das explosões ameríndias
atravessadas em europeias
certezas de descobrimentos
minha visão perde a grandeza
na escala intercalada em apertadas
vistas onde revejo antigos caminhos
em estradas desproporcionais ao mito
minha vez de partir se faz opaca
deslembrança dos motivos
na razão mesquinha
do abandono da esperança
em permanecer sob as mesmas árvores
meu sentido de direção obliterado
nas confusões de jovens iletrados
na busca incessante da afirmação
constante de se dizerem ocupados
mais do que a incerteza o medo aliado
ao senso inoportuno das aventuras
de personagem em sonhos desassistidos
meu refrão infantil se repete
enquanto jovem
enquanto homem
enquanto velho
meu torrão alcandorado em versos
de homenagem ressurge agosto
desprovido de sentidos na origem
do desassossego no apertar
o cerco e me dispor a não ouvir
os gritos ansiosos dos que retornam
minha história em inconstantes
visitas onde a rapidez é o temor
de ser alcançado pelas imagens
através do que resta na memória
minha alvorada ainda aberta em músicas
despovoadas de personagens onde substituo
o existente pelo sonho e o misturo
na realidade estanque dos delírios
altero os ponteiros e o relógio mente
a inexistência dos que me acompanham
meu sofrimento anteposto ao esquecimento
onde em folhas de antigos jornais
descubro passagens nas paragens
das mortes prematuras
meus incansáveis motivos adulterados
em cafés requentados com açucarados
doces dispensados entre refeições
mesquinhas dos desencontros
minha razão entre sorrisos
em cada esquina
é personagem
maior da caminhada
em presentes eventos
sistemáticos da lembrança
sou dúctil canal intercomunicante
em olhares escancarados de bondades
resguardadas ao futuro
meu prazer apresentado ao verde
fruto colhido enquanto possível
ser recolhido no cesto da amizade
meu desconforto na meia idade
avança célere ao tormento
inigualável da velhice
meu acelerado passado descompassa
a destruição com que a volta
pode ser construída
ao sabor do vento o céu crispado
em cinzas de nuvens intercaladas
aos cheiros naturais do ambiente
em chuvas torrenciais de boqueirões
aberto em passagens
minha vez de reportar
nas esquinas a espera da volta
dos anônimos conhecidos
dos primeiros tempos
minha ansiedade não reconhece
na evocação das faces reflexos
refletidos nas mãos de corpos
famintos em reencontros fortuitos
de tempos não programados
sei da notícia no repassar o texto
primeiro surgido junto ao vidro
da janela do carro em disparada
minha solidão reencontrada
na casa destruída em construções
maiores de tantos andares
minha incorreta apreciação do tema
confunde o sentimento de estar
na insensibilidade da indiferença
com que cumprimento secamente
pessoas com quem me encontro
além do estado primitivo
animais buscam
se concentrarem
em bandos
de ataque
e defesa
meu incorreto modo de chegar perto
e dizer bom dia boa tarde boa noite
no receber o sorriso bem-vindo
da esperança pelo reconhecimento
meu atordoado rio desaparecido
na profundeza da intempérie
em sujeiras que o assorearam
tenho a sensação das ideias avessas
das conquistas versadas em ritmos
descompassados de espíritos aleatórios
meu atraso denuncia a falta de vontade
para encontrar o rumo o prumo e a razão
desfeita em sonhos ainda jovens
minha consciência educada na ética
corrosiva da prática na verdade
meu erro na fraqueza
com que o corpo se destrói
em instantes e o fulgor
renasce no momento da verdade
meu intocado espírito alonga
a alma em sonatas deploráveis
no final da noite: meu amigos
insubstituíveis esmaecem
na distância imposta pela vida
com que nos acostumamos
fomos tresloucados jovens
desacompanhados da ira
no entender a possibilidade
de não perdermos a vida
na armadilha das entrelinhas
minhas entregas em séries numeradas
alinham a disposição física no objeto
(re)apresentado ao contexto
minha suficiência arrestada
aos porões da inconsequência
de onde observo a linha do horizonte
se desfazer em horas utópicas de finitude
meu arrebatamento acolhido
em páginas amarelas de revistas
descompromissadas: o que pude ser
no tempo utilizado para a permanência
em cada tempo acordo o corpo
ao escutar sons dos momentos
inenarráveis de onde estou
e a eles me entrego: estou feito
e encontrarei
o final da história
descontada dos segredos
desvelados no terminar
com que jornadas
se estendem e se repetem
em tempos contemporâneos
(Pedro Du Bois, inédito)
Ritmos Astrais
Há um dia
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