lançam as redes ao mar de peixes silenciosos
submersos
não esperam completar o instante em que os resultados
afloram e flores recorrem aos segredos para se manterem
intactas entre as que se desfolham
nas cercanias dos perigos que rondam os barcos
são as sereias míticas figuras
(ou) apenas pobres mulheres
em suas metades refugiadas em pedras
rochedos
atóis
e muros altos separam vidas e mortes
lindas em trajetórias
circulares de longelíneas formas e cabelos
claros (ou) escuros e de vozes - sim
as vozes -
clamam aos céus as nuvens necessárias
a escurecer o ambiente e tornar as redes
enfadonhas peças de artesanato
lançadas ao mar sucumbem distâncias nos nós
que enredam os seres que por elas passam
em lances de ir
e vir
e circular
na busca de alimentos
e na fuga dos predadores: pedras circundam ambientes
e as areias ao longe são meras paisagens inacessíveis
àqueles das profundezas e (mesmo) ao canto das sereias
águas onde habitam os envolvidos e deuses
não se apresentam donos ou arrendatários
de pequenos pedaços do espaço por onde
circulam botes e motores despejam
as sobras do óleo
e marinheiros atiram sobras de comida
e restos de cigarros: sereias não cantam
para os que sujam os mares
não sabem do progresso
e da progressão das redes
dos sonares
que identificam os cardumes e calam os cantos
e deixam rastro de desgraças onde pássaros ávidos
- bicos cortantes - arrasam
as sobras de onde retiram suas vidas e voos: circundam
os barcos em esganiçadas vozes a dizer
aos pescadores que aquém e além há peixes submersos
e que são muitos os cardumes que (aqui) habitam
quietos sob as águas
retiram as redes e águas voltam à quietude
no silêncio dos peixes
que retornam suas vidas em que se espalham
e se multiplicam
e se alimentam
junto com as aves que rapinam
restos dos peixes mortos
esquartejados
e limpos
na profusão dos mares onde capturados
recriam cantos e sereias repetem refrões decantados
de novos perigos
do desconhecido e trazem
suas cabeleiras aos ventos que levam os barcos
até as pedras que não são mostradas
por debaixo dos seus corpos
nem as nuvens toldam os céus
em estradas pedregosas e arriscadas nas subidas
nas curvas
e na chegada
por ondem passam embarcações em movediças
águas elevadas em ondas
gélidos porões e geladas vozes na passagem
de pássaros que não gritam: calados
acompanham (de longe) o toque
a trava
a tentativa vã da curva
deslizada em águas que arremetem sobre os barcos
e os cobrem
e os lavam
e os levam ao fundo: passam pelos peixes
que acompanham a descida e penetram seus cascos
rachados
e destruídos
marinheiros agitam os braços
e tossem o que lhes seda o espírito
na respiração ofegante ouvida ao longe
peixes esquartejados em geladeiras ambulantes
jogadas na água no estouro das portas
e carnes devoradas por seres vivos
no que sobe à superfície e faz a algazarra
das aves retornadas em coros das canções
singelas e ultrapassadas das sereias
poucos corpos encontrados no mar
e na terra
deformados pela água
e pelos seres vivos que os acompanham
golfinhos ausentes
e as sereias não são avistadas: sobre
as pedras semicobertas pela água
repousam pássaros
(saciados)
(Pedro Du Bois, inédito)
Anledningen
Há uma semana
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