domingo, 25 de março de 2012

PARTIR

Quando parto na imensidão do microcosmo
me faço longe em desalentos; partidas quebram
correntes e me impelem além dos remos; ramos
esgarçam a árvore desnuda no solo, seco. Eu
na última volta do acaso me faço calado ante
o espetáculo do corpo suado ao luar; viagens
soam invernais trajetos de encobrimentos,
mãos umidecidas do trabalho guardam bolsos
descosturados: partidas me apanham de calças
curtas no aroma indefinido da criança além
da criação, impaciência. Sou o último a ver
o esboço se perder; partidas orientam
desvarios onde razões perdem o magnetismo
e a terra roda ao contrário: avistado na entrada
me faço raivoso. Estou presente no esconder
o sentido da ausência; a partida pressupõe
o adeus não amanhecido; altar vazio,
armário esvaziado, o viver
apagado da lembrança.

(Pedro Du Bois, inédito)

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