quinta-feira, 30 de abril de 2009

A RECRIAÇÃO DA MÁGICA

VII

Não posso me desobrigar
das intenções
nem me exilar
em praias além
das imaginações
nem me recolher
ao gesto das entrelinhas

as obrigações reverberam
músicas em prelúdios
ouvidos em exílios parcos
de recolhimentos

não posso me furtar
aos olhos imagéticos
dos bruxos que me cercam
em pedras.

(Pedro Du Bois, em A RECRIAÇÃO DA MÁGICA)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

VERDADES & MENTIRAS

...
enternece a música
a voz se cala
o final da fala
afina o fim
como o princípio
dito em versos

inanimados espantalhos
ante a porta
atentos espalham
pássaros ao vento
...

(Pedro Du Bois, em VERDADES & MENTIRAS, fragmento)

terça-feira, 28 de abril de 2009

A AUSÊNCIA INCONSENTIDA


águas salgadas
buscam corpos
brancos
no banho

águas turvas
buscam
vítimas
em dourados corpos

águas tépidas
convidam corpos
a dormirem o sono
que se inicia

águas movimentam
corpos que já
lhes pertencem.

(Pedro Du Bois, em A AUSÊNCIA INCONSENTIDA)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A LUZ DESPOSSUÍDA


Porque a vela
consome sua cera
e resina

o pavio
no que queima

resta informe
a cera
e a resina

do pavio o cheiro
que se espalha
e cessa

a luz se acaba e se multiplica
no que alcança
e incendeia.

(Pedro Du Bois, em A LUZ DESPOSSUÍDA)

domingo, 26 de abril de 2009

DOR

Pensa em repartir
o pão na ceia
dividir o vinho
que beberá
entre sorrisos
cúmplices

falar sobre o amor

dispensar a dor
na hora
em que o assaltante
se anuncia
e a arma faz derrubar
o copo e o pão
sobre o piso frio
onde os pés
esmigalham
conversas de amor
e a dor
comparece.

(Pedro Du Bois, em DAS DISTÂNCIAS PERMANENTES)

ACOMPANHAMENTOS


A música em espiral
amplifica sons que se repetem
em novas voltas e renovam
a amplificação da música.

...
O som melancólico anuncia
na noite o que deixo
de fazer durante o dia.

...
O sincopado som
que se aproxima
e diminui o ritmo
na dúvida da partida
e da chegada.

...
A suavidade implícita
na clareza do som
anunciado como anjos
de celeste céus
na sagração da vida.

(Pedro Du Bois, em OS SENTIDOS SIGNIFICANTES)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O QUE DEVE SER FEITO

...
queria refazer a dor

duvidar da integridade
com que se apresentam
rostos restritos
na contrição das mãos
sobre o corpo

destroços recolhidos
em restos plásticos
do todo fragmentado
na dúvida em que
repete os gestos
suspeitos da noite
...

(Pedro Du Bois, em POETA EM OBRAS, Volume I, fragmento)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ESPAÇOS DESOCUPADOS

Na profundeza do rio
a água esconde o lodo
sacrificado de antigos caminhos
de águas na travessia
com que me anuncio
em dias repetidos

sei dos amigos envolvidos em projetos
de vidas consequentes: compromissos

a água se renova aos poucos
nos intantes em que o leito
recupera a cobertura e se destaca
em esteiras de espumas

há vida entre amigos
e as águas refluem
ao começo: permaneço.

(Pedro Du Bois, em ESPAÇOS DESOCUPADOS)

SUBURBANO

Da selva conheço
pouco

suficiente saber
que não me diz
respeito.

(Pedro Du Bois, em POUCAS PALAVRAS)

terça-feira, 21 de abril de 2009

DORES



O que dói não é a dor em si
nem o ponto atingido

dói saber que nada fiz para que doesse
que a dor é maior que o acontecido

dói
apenas.

(Pedro Du Bois, em PEQUENOS ESCRITOS)

domingo, 19 de abril de 2009

TRAJETO INVERSO

isones horas

passeio
palavras
silêncios
pensamentos

desesperadas lembranças
melancólicas

a saliva espessa
o assobio na rua
(alguém passa
indo para casa?)

no quadro escuro da janela
vejo o carro na rua

em disparada
fosse eu indo embora.

(Pedro Du Bois, em TRAJETO INVERSO)

sábado, 18 de abril de 2009

MAR ABERTO

Aportado
Ancorado
Atracado

Na beira mar
Meu cais de tranquilidade

O sargaço impede a saída

O sarcasmo em que o barco
Flutua
Preso
Para sempre.

(Pedro Du Bois, em MAR ABERTO)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

FORMAS


Desprezo a representação
enganosa dos extremos
traços que me importam
verdadeiros os objetos
abstraídos ao espaço

os prefiro ausentes em limites
e distintos aos objetos existentes
como máquinas
e maquinarias diversas
em reconhecimentos

a representação deforma a ideia
traduzida em olhos distintos
e corrompe as maneiras difusas
dos entendimentos abertos
à compreensão da verdade

a forma tracejada
permite aprisionar a liberdade
anteposta aos julgamentos e risos.

(Pedro Du Bois, em LIBERDADE)

IDEIA SOBRE ESPAÇO

A ideia de ocupar
o mesmo espaço: dois corpos
interpostos

(o sentimento
e o consentimento)

o espaço vago
ampliado
no entrelaçamento

(um corpo dentro
do outro).

(Pedro Du Bois, em O ESPAÇO VAZIO)

terça-feira, 14 de abril de 2009

A CASA DIVERSA



CasaRio
desarmado concreto
em seu leito

areias soltas

margens fechadas
onde habito
o que levo
na passagem

águas paradas
onde deixo
minha vida
estabelecida

profundas águas
de casarios
estanques.

(Pedro Du Bois, em A CASA DIVERSA)

A OBRA NUA

Prólogo

Despido em entranhas
na estranheza do contato
refluo ares. O erro predispõe
corpos ao delírio e a fantasia - amiga
e desconfiada arma - embute ideias
consagradas.

A nudez clarifica a massa
de manobra onde desculpas
cedem esboços ao cansaço.

Contrafeito, desfaço a inocência
em luzes de povoadas sombras
emparedadas aos acontecimentos.

Por isso, começa a girar
o estupor do dia amanhecido.

(Pedro Du Bois, em A OBRA NUA)

GESTOS

Aos horrores concedo o entrevisto
choro da criança desacostumada
ao novo.

(Pedro Du Bois, inédito)