quarta-feira, 11 de novembro de 2009

RELATOS

Os sons que deixo de escutar
fazem faltas desconsideradas
na apreciação última dos destroços

destinos assimilados em bailes
de passagens inconscientes
dos ombros onde me apoio
nas horas dos estertores

regresso em alaridos ouvidos
ao longe e me identifico com o ócio
conseguido no atropelo dos assuntos
mal distribuídos entre as partes

queixa maior: o silêncio me enreda
onde não consigo retirar
o nada entranhado em verdade

sou verdadeiro em promessas
diurnas de voltar cedo à noite
e nela fazer mero regaço
não utilizado em dias úteis

mentiras em sorrisos fartos
como enfartado corpo
em dores e suores

quebro o seco óleo que reveste a tela
e dela retiro as fibras necessárias
ao renascimento como arte estanque
do passado diagramado em horrores

não há esconderijo seguro para o talento
ser vivenciado em ordens e progressos
obliterados nos diversos esquemas
dos serviços prestados aos reis
e rainhas desconsolados
pela perda da eternidade

reviro a comida e a desaqueço
antes da desgraça se fazer presente
onde vozes alteradas
repetem temas inaudíveis
aos olhos semi-cerrados na chuva
cortante das águas engarrafadas

não movo a pedra
e na caverna está o corpo
disposto em pétrea cama
onde repousa o espírito

sou o diatribe nas raivas
em que me agasalho dos pecados
e dos demônios tenho os serviços
prestados nos atrasos
com que são acometidos
os seres não possuídos

a alma refrigerada traz o castigo
praticado contra o inocente: a serpente
retira as cenas providenciais dos dilúvios
e os retorna aos seus medos primeiros

caço minha comida e me farto
de dizer meu amor à natureza
que indiferente acompanha
os ciclos e se aquece e enregela
além da imaginação e da tormenta

Chove e nem por isso entendo
a vida que tenho aos compromissos
desaconselhados em premissas
dos parentes e conhecidos

amigos se retiram em pares amparados
uns nos outros fossem duplas paredes
da caverna aberta à visitação pública
antes de ser higienizada
para que as doenças em seu interior
não se propaguem aos ares

fico estanque em minha cadeira
e só as mãos se movem em gesto
de despedida ou arrependimento

os olhos brilham seus segredos
e o sorriso se transforma em riso
desavergonhado dos assuntos
ainda não tratados

há a carta na manga encoberta
na mão que se abaixa sob a mesa
e retira a madeira áspera
com que o inimigo é ferido
durante a conversa oca
em que se transformam
tréguas inigualáveis
da reforma desestruturada
da verdade

trago os odores da batalha
e os dentes arrebentados pela arma
que me atinge desfazendo
a imagem incompleta
da imperfeição tolhida
em nova aventura

agradecimentos se fazem ao longe
e o esquecimento cobre os atos
praticados em nome e pela honra

abdico minha coroa e a deposito
sobre a grama asfaltada
de antigo caminho
fechado ao novo
de velhas ideias
por onde passo
e não passam
novos defensores
da minha especiaria

passado tempo decomposto
em partes desiguais das entregas
apresentadas aos que lutam
pela conservação
e fazem conversações
enganosas dos altos fornos
apresentados em séculos

tenho por lema recitar frases feitas
de elementos espúrios onde misturadas
bondades ditas e maldades feitas
tornam inculto o caldo
destinado à conservação
da espécie

arrebento cercas e solto
sou novamento o mesmo
que foi deixado
em tempo não recuperado
da memória

agradeço aos céus pela disputa
recomeçada e logo estou apto
a novas contendas e do inimigo
faço o escravo do acompanhamento

horas finais arrastadas ao lodo
onde cede o terreno do tempo
remoto: o futuro se avassala
antes que aconteça e o começo
se apresenta em cobrança.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. II)

4 comentários:

  1. Amigo Pedro Du Bois. Versos forte e expressivos que definem os pensamentos do autor com muita clareza e beleza. Parabéns!
    Uma boa noite! Um abraço e tudo de bom!

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  2. Apenas uma palavra: "grandelouquente".
    Sua Poesia é simplesmente isso.
    Prabéns
    Super beijo.

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  3. De visita a um poeta que admiro e contente por encontrar todas as letras, aquelas as vezes faltam nos excertos.

    Grandes Poemas.

    Grande Abraço

    Giraldoff

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  4. Belos e reflexivos versos, Pedro!
    Adorei!
    Um abraço

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