segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Limites e Outros Exageros e outros poemas, por Maura Soares


Querido poeta/escritor Pedro,
confesso que a minha demora em comentar a obra deveu-se a leituras homeopáticas e as diversas paradas para mergulhar no significado de muitos dos teus escritos.
Confesso que em alguns eu logo captei e em outros li, reli e ah! eureka! entendi.
Tua obra é profunda, tantos nos limites quanto nos exageros, eis que o título é assim.
"A morte antecipa o desfecho: não saber o destino traçado pela divindade: dívida dos deuses em adeuses: flores de corpos descompostos". Sim, não viemos para cá com bula e nem o dia da partida. Nos entremeios amamos, odiamos, matamos, seviciamos...
E os silêncios... Praticamente fico em silêncio; uma música de fundo ali, outra só o barulho dos carros na avenida. O silêncio da mãe ante o filho cuja alma se vai sem que ela possa reagir (pag.30), é profundo, muito profundo. Felizmente tive um filho sem grandes problemas de saúde, mas sei de quantas mães velam seus rebentos...
O parágrafo da página 33: "Há o corpo  sobre a pista. Morto. Há o desespero da insegurança". Quando há porte, o chão desaba, como se estivéssemos num precipício com o pé na borda, vendo o vazio abaixo. 
Nos movimentos circulares ..."toda paisagem tem em si enxerto das plantas e pedras decompostas... toda tragédia disfarça a impossibilidade da fusão entre homens e deuses...
"Envelhecido em família desterrada/ lembrei o verso e me opus (ao novo):
fui continente/ fui isto/ fui ilha naufragada...
 visto pelo avesso a roupa escolhida para a solenidade (pura rebeldia)
Outro: "Fecho as portas pelo lado contrário. Corro a tranca em atravessada forma: demitido como proscrito no boletim de ocorrência". E adiante: Livre sobre destroços sinto a paz exterior na contenção revolta.
Não vou me alongar mais, porém acabei de ler o livro e terminei pela madrugada. Havia esquecido o lápis (leio deitada, hábito horroroso, mas não tenho sofá e sim cadeiras de braço sem ser poltronas e com problema de coluna, leio deitada antes que o sono chegue.
Fiz uns tracinhos a lápis até a página 140 quando destaquei:"A profundeza o comove: ter estado presente ao ato não o torna proprietário da verdade"
Então como não sou dona da verdade e nem pretendo me apropriar dos teus versos, digo simplesmente: uma obra densa que faz pensar.
Agradeço o carinho e desculpa a demora em comentar.
abraços
maura

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