Querido
poeta/escritor Pedro,
confesso
que a minha demora em comentar a obra deveu-se a leituras homeopáticas e as
diversas paradas para mergulhar no significado de muitos dos teus escritos.
Confesso
que em alguns eu logo captei e em outros li, reli e ah! eureka! entendi.
Tua obra
é profunda, tantos nos limites quanto nos exageros, eis que o título é assim.
"A
morte antecipa o desfecho: não saber o destino traçado pela divindade: dívida
dos deuses em adeuses: flores de corpos descompostos". Sim, não viemos
para cá com bula e nem o dia da partida. Nos entremeios amamos, odiamos,
matamos, seviciamos...
E os
silêncios... Praticamente fico em silêncio; uma música de fundo ali, outra só o
barulho dos carros na avenida. O silêncio da mãe ante o filho cuja alma se vai
sem que ela possa reagir (pag.30), é profundo, muito profundo. Felizmente tive
um filho sem grandes problemas de saúde, mas sei de quantas mães velam seus
rebentos...
O
parágrafo da página 33: "Há o corpo sobre a pista. Morto. Há o
desespero da insegurança". Quando há porte, o chão desaba, como se
estivéssemos num precipício com o pé na borda, vendo o vazio abaixo.
Nos
movimentos circulares ..."toda paisagem tem em si enxerto das plantas e
pedras decompostas... toda tragédia disfarça a impossibilidade da fusão entre
homens e deuses...
"Envelhecido
em família desterrada/ lembrei o verso e me opus (ao novo):
fui
continente/ fui isto/ fui ilha naufragada...
visto pelo avesso a roupa escolhida para a solenidade (pura rebeldia)
visto pelo avesso a roupa escolhida para a solenidade (pura rebeldia)
Outro:
"Fecho as portas pelo lado contrário. Corro a tranca em atravessada forma:
demitido como proscrito no boletim de ocorrência". E adiante: Livre sobre
destroços sinto a paz exterior na contenção revolta.
Não vou
me alongar mais, porém acabei de ler o livro e terminei pela madrugada. Havia
esquecido o lápis (leio deitada, hábito horroroso, mas não tenho sofá e sim
cadeiras de braço sem ser poltronas e com problema de coluna, leio deitada
antes que o sono chegue.
Fiz uns
tracinhos a lápis até a página 140 quando destaquei:"A profundeza o
comove: ter estado presente ao ato não o torna proprietário da verdade"
Então
como não sou dona da verdade e nem pretendo me apropriar dos teus versos, digo
simplesmente: uma obra densa que faz pensar.
Agradeço
o carinho e desculpa a demora em comentar.
abraços
maura
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