quinta-feira, 29 de junho de 2017

COLEÇÃO DE PALAVRAS

Jornal O Nacional, Passo Fundo, RS


Coleção de palavras

23/06/2017 às 08:00, por Gilberto Cunha

Coleção de Palavras, eis um título irretocável e
“aparentemente adequado” para um livro de poemas.
Friso o “aparentemente adequado” e faço um convite
à reflexão: seria COLEÇÃO DE PALAVRAS uma boa
definição de poema? Não, indubitavelmente não!
Ainda assim, esse título do novo livro de Pedro
Du Bois, em minha opinião, continua merecedor
do epiteto irretocável e adequado. Por quê? Tentar
responder a essa indagação é a intenção do colunista,
que , por especial deferência do autor, foi agraciado
com o convite  para assinar o prefácio dessa obra.
Oxalá isso aconteça!
Um verdadeiro poema não é uma mera coleção
de palavras, embora as palavras sejam a matéria-prima
que os POETAS usam para tecer versos. As palavras são
apenas símbolos. Nada mais que símbolos, não raros
mortos, quando isoladas ou, em certos casos, até mesmo
incrustadas em versos bem rimados. A revelação da poesia
oculta nas palavras usadas em versos é o trabalho que
compete ao POETA.
O POETA não é um colecionador de palavras. Talvez essa
seja uma boa definição para um dicionarista. O POETA,
antes de tudo, é um colecionador de emoções. O verdadeiro
POETA consegue expressar de formar singular e cabal,
ao tocar na emotividade do leitor, aquilo que muito tentaram
por outros meios, inclusive
usando palavras, mas não conseguiram. As emoções estão
escondidas nas palavras. E o dever do POETA é encontrá-las 
e deixá-las a descoberto, disponíveis aos olhos do leitor.
Quando isso acontece, a verdadeira poesia é produzida e não
apenas mais um poema. Ninguém consegue ser POETA o tempo
 todo e nem todos os versos que produz virarão necessariamente
poesia. Até porque isso não depende apenas do POETA, por mais
hábil que ele seja. Para cada poema produzido, é travada uma
espécie de diálogo intimo entre o POETA e o LEITOR, cujos versos
ganham sentido não pelo significado das palavras, mas pela
imaginação e pelas emoções que suscitam. Assim, para alguns
leitores um poema pode não passar de uma coleção de palavras
e para outros ganhar o status de coleção de emoções.
Pedro Du Bois é um singular versejador e POETA profícuo,
como bem atesta a sua vasta produção literária. É um menestrel
do verso livre. E nesse novo livro, COLEÇÃO DE PALAVRAS, ele
mantem a tradição de produzir boa poesia, ao transformar,
majoritariamente, uma coleção de palavras (poemas) em uma
coleção de emoções (poesia). Com isso, justifica que, se a
um prosador ficcionista basta ter fidelidade com a imaginação,
ao POETA cabe ser fiel com a emoção. E Pedro Du Bois, em
COLEÇÃO DE PALAVRAS, não ignora e nem deixa de lado essa
obrigação do POETA. Pelo contrário, leva-a a sério ao extremo.
Por último, cumpre a esse colunista o dever de honestidade
com os futuros leitores: há poemas (coleção de palavras) e
muita poesia (coleção e emoções) nesse livro, como, aliás, frise-se
isso, sói acontecer em todo livro de poemas. Cada leitor, assim
como eu fui, será tocado de forma diferente na sua emotividade
pelos versos de Pedro Du Bois. Eu, entre tantos, à guisa de exemplo 
apenas, destaco como os meus versos preferidos os do poema
ERRO:  “Recebo a encomenda não solicitada: abro a embalagem 
e surpreso encontro o objeto sonhado/ Comunico a não devolução 
do fato e a sua apropriação indébita: sou indevido proprietário.” 
Que cada leitor pegue o seu significado para esses versos,
que certamente será diferente do meu. E isso é poesia! Isso
é emoção! Que você, prezado leitor, encontre mais emoções
do que palavras, nessa coleção de poemas de Pedro Du Bois.
É o meu desejo!
E como bem frisou Pedro Du Bois, justificando a publicação
do livro: “poucas oportunidades tem o poeta para expor
seus versos”. Razão pela qual, antecipam-se agradecimentos.
O livro foi publicado com a chancela do Projeto Passo Fundo
 de Apoio à Cultura (http://www.projetopassofundo.com.br/) e
pode ser adquirido na Delta Livraria e Papelaria, em Passo Fundo.


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