segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PORTAS E VENTOS

Onde estariam as portas
batidas aos ventos
ao acordar os pares
de seus sonos
cansados dos dias

as portas fechadas
em si encerram
o desconforto
e o decomposto corpo

as portas fechadas
anunciam aos ventos
tempos de reconquistas

ao longo da noite as portas
e os ventos são os nomes
conhecidos dos sentimentos
presos e angustiados
em esquadrias e ares.

(Pedro Du Bois, em PORTAS E VENTOS)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

DESTINO

Espada de fogo
asas
foge o pássaro
ao carrasco

o pouso
sobre a grama

espada de fogo
caça a ave

o carrasco cumpre
sua tarefa

suas asas
não se abrem
sobre nós.

(Pedro Du Bois, em O ESPAÇO VAZIO)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A CASA DIVERSA

A casa permanece
na memória
dos personagens
que vêm e vão

o tempo é exato
em seus atrasos

a casa estabelece
suas bases
e os personagens
vêm e vão

o tempo é estanque
em seus abraços

a casa revalida
os contatos
em que os personagens
vêm e vão.

(Pedro Du Bois, em A CASA DIVERSA)

domingo, 23 de agosto de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NÚMEROS RECONTADOS

Na primeira vez que doeu
o sentimento se manteve vivo
aceso

na segunda vez doeu menos
o sentimento começou a morrer
apagado

na última dor nada sentiu
e o sentimento estava morto
congelado.

(Pedro Du Bois, em NÚMEROS RECONTADOS)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

GOLEIROS

Por mais defensivo
o posicionamento
os atacantes nunca estão
sós

os alas sobem
o meio campo avança
os zagueiros aparecem
de surpresa.

Por mais defensivo
o posicionamento
os goleiros sempre
estão sós

quando desferido
o arremate final.

(Pedro Du Bois, em O MOVIMENTO DAS PALAVRAS)

domingo, 16 de agosto de 2009

TÂNIA

Tu, apenas tu
o sonho dorme e és serena
em tua certeza do conhecer
o meu espanto e os barulhos
que de longe entendes
são teus olhos, fechados
circulando entre mundos, claros escuros
onde os movimentos se penetram
e o corpo - os corpos - pede o gesto
do abandono e da conquista
no que pensa o inconcluso pensamento
na perna entrecruzada sobre a cama
sentes o lenço que acoberta o frio
e teu coração descansa longe
onde estou admirando
o sono em flores que não foram dadas
tu, apenas tu acorda
e sei a glória de estar ao teu lado.
(Pedro Du Bois, em LIVRO DA TÂNIA)

sábado, 15 de agosto de 2009

NÍVEL

XXXI

Ter a sorte de estar presente
ao assunto, o tormento repetido
em lágrimas e a decomposição da carne
na assombração dos sentidos: a sorte
como mais valia entre as linhas
emaranhadas da conquista;
a sorte elementar do sossego;

ter a oportunidade de julgar
o caso em estridências e das partes
apartar sopros de indigência: a sorte
na plenitude do verbo acionado;

a sorte como companheira indizível
dos segredos; ter o condicionamento
abstraído ao racionalismo antagônico
das incertezas encaixadas ao desterro.

(Pedro Du Bois, em A CONFIGURAÇÃO DO ACASO, fragmento)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A MORTE INSANA

Ao morrer
não mais se pertence

parte deixando vazias
suas visões

seus pertences
ex-pertences

pertencem a outros
que ficaram
nos vazios
com que a memória
nos deixa

quando deixamos
de nos pertencer.

(Pedro Du Bois, em A AUSÊNCIA INCONSENTIDA)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

RETRATOS

Na parede
o passado
imprensado: madeira e vidro
sorriso

feições transformadas
no que para
no tempo
fotográfico
cromático
estático
irreconhecível

ah! se o personagem
entrasse pela porta
e dissesse bom dia
como está no dia
da fotografia.

(Pedro Du Bois, em RETRATOS)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

TECER

Emaranhados caminhos
sobem os morros

subir e descer
todos os dias



esmagada aranha
a vida tece.

(Pedro Du Bois, em JOGO DO NADA)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

PASSADOS

Se o passado
for invocado em defesa

feche o livro
sem marcar a página
e o guarde em alta
prateleira

ao passado cabe a inodora
lembrança da coisa feita
desprezada em honras
e vaidades

ao presente, a honra
do que está feito
em decorrência
e a expectativa
da acumulação dos fatos

o dia recolhido explode
os sentimentos e obstrui
a correção necessária
das tormentas.

(Pedro Du Bois, em O LIVRO FECHADO)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

APRENDER

Aprender: soam palavras alinhavadas
presas em redes enredadas em linhas
dispostas em fios de áridos contextos

(refrear a vontade inata
do desconforto e aguardar
da partida a conservação
do feito)
ignorar a receita e consultar
barulhos antepostos no livro
aberto em páginas iniciais.
(Pedro Du Bois, em ALGUMAS PALAVRAS)

domingo, 9 de agosto de 2009

RETORNO

Porque te vejo
altaneira
ultrapassada
e branca

sei do tempo
dos gelos
quase eternos
em que se debruça

pacífico oceano
espera
o que o rio
lhe traz
aos poucos
em retorno.

(Pedro Du Bois, em CASAS EM PEDRAS, Chile, 3).

sábado, 8 de agosto de 2009

A MÃO QUE ESCREVE

III

Escrevo sobre pedras
nada me dizem
bruxas petrificadas

escrevo sobre árvores
pouco me dizem
almas congeladas

escrevo sobre casas
grafitadas
algo me dizem
espíritos concretados

escrevo sobre pessoas
muito poderiam me dizer
corpos santificados.

(Pedro Du Bois, em A MÃO QUE ESCREVE)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

CICLOS

...
vai embora, sabe da espera
o não regresso: nem as carícias
maternas são capazes de fazer
o corpo descer do carro. Em prantos

segue a sina, a canção entusiasma
o espírito em seu caminho, usa
a sua experiência, fosse
o antigo espetáculo não mudaria
seu rumo: ou distância
entre um e outro. O todo
se distancia em poeira e pés
...

(Pedro Du Bois, em POETA em OBRAS, Vol. XI, fragmento)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

a ÁRVORE pela RAIZ

6 Ao rio avistado
marginalizado em toras
compostas ao rebocador
no final da viagem
desenraizada
se transforma:
atorada ao lanhado
destino: opera a espera
em que se transforma
(o móvel da casa).

(Pedro Du Bois, em A ÁRVORE PELA RAIZ, fragmento)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

RAZÕES

II
quando você chegou
entendeu as razões para a espera

rostos de razões
olhos de razões
boca de razões
corpo de razões

irracionalmente
agradeceu a sua vinda.

(Pedro Du Bois, em COMPORTADAS RAZÕES)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DOS AMORES

17
Das certezas
falamos
ao amanhecer
e no final do dia

do amor
no beijo
de boa noite

das incertezas
que trazemos
sobre o início
e o fim.

(Pedro Du Bois, em DOS AMORES)

domingo, 2 de agosto de 2009

A SENSAÇÃO DO NOME

8 A divindade espia o mito
decomposto em fragilidades.
Alça sobre o pote a ilusão
do afogamento e a tristeza
oferecida como resgate. Odeio
nomes configurados ao desprazer
da hora ultrapassada. A ideia
de postular a ocasião
ao deus desestruturado.

(Pedro Du Bois, em A PALAVRA DO NOME, fragmento)