terça-feira, 23 de novembro de 2010

DIAS

Dias em que nuvens superam o horizonte
e voltamos para dentro, caramujos caseiros
desdenhamos luzes e nos recolhemos ao sal
que nos desmancha, enfeitiçados
no verde que da mata nos observa
em silencioso silvo da serpente
que nos acorda em lágrimas
silvestres de amostras
e telhados pontilham azuis
celestes do outro lado: gargalham
vozes inconsentidas no encontro
sutis de toques com que se fecham
as conchas: dias no infinito ardor
emparedado aos bilionários anos
de sagrações e esperas: antes
líquidos em demonstrações de afeto e graça

dias intercalados entre cercas recém fechadas
e o espaço vago das canções anteriores
nas vozes das sereias transformadas
em afeições profundas: frias águas cobrem
as esperas, raspam o fundo onde escrevem
algaravias descoloridas em passatempo;
residem tempos perdidos aos óbolos
não entregues, rugem tempestades,
feras incandescentes ao corpo na entrega
pegajosa das mentiras: ordens e desditas
as predições da cigana ecoam mares,
ressecam florestas

pelo caminho cartazes pedem o fim
das escaramuças: o caramujo indolente
ao tempo e ao sabor das coisas segue
riscando seu caminho fora da órbita
dos satélites, evoluem planetas vazios
de ocupações primárias, portas abertas
ao contato no atendimento aos seres
descobertos e mostrados; ao todo se permite
a entrega antes proibida: chegado tempo
das descobertas, portas fechadas não permitem
aos efêmeros e aos definitivos sairem
a vislumbrar a vista entrevista ao longe

longe refulgem raios de dias incontáveis
trajetórias de amanheceres e anoitecerem
corpos agasalhados em palavras ditas preces
em voz baixa que aos deuses cabe a atenção
perene das promessas e pedidos, cobram
desfeitas e dos bens apurados repartem
sonos em sonhos e vazios a que dão nome
de tempo desenfreado, desatinado
ao crime e ao castigo ofendido em atas

conseguem do mistério o entendimento
e fazem poses a perpetuar em fotografias,
estanques momentos desentranhados
em doença vislumbrada na febre
a turvar os olhos e a fazer o frio
do corpo onde aninhada a dor
se curva ao cansaço ciente
das histórias: o caramujo
avança sua casa entre pedras
e isolado concede ao espaço
a sua presença

sempre há quem se desentende e se desarvora
na passagem: o medo perdura enquanto noite
em nossas auroras, o menos aumenta sua urdidura
e acordamos em prantos por não sabermos a saída
e o engodo sobre nossa cabeça fornece o combustível
aos desenganos; nas mãos as respostas não vistas
nas translúcidas cerdas que ecoam o início
e nos trazem recordações vazias
dos olhares embaçados
entre o invernal dos outonos

tempos colocados sobre a mesa, disputadas rixas
e guerras vencem os espúrios cantos das sereias
serenadas em pedras sejam bruxas petrificadas
em fábulas desmoralizadas nos prazeres negados
à carne, o cerne ressurge encadeado ao gosto
no extremo gesto do perdão avolumado
à nossa porta: aberta, saímos ao vento
e perguntamos sobre a família, cores
e dores mínimas enquanto presos:
caramujos ressurgem em trajetórias
deslizantes sobre gosmas: caminhos
percorridos pela humanidade
não fossem secos passos e curtos
cumprimentos em que nos desconhecemos

dias despertados em músicas, a paisagem
retorna cores angustiadas dos dias, luzes
acesas em naturais ornamentos: paixões
buscadas em corações não abandonados:
certo e errado entrelaçados em faces
acobertadas na busca do etéreo e eterno
grito da saudade deixada sobre a mesa
para que ao sentarmos saibamos vê-la

dias em que os caramujos
lentamente avançam suas casas
e deles retiramos o engodo
e a gradativa forma da morada.

(Pedro Du Bois, POETA em OBRAS, Vol. V, Ed. do Autor)

4 comentários:

  1. Belo post amigo.
    Tem dias que tudo da certo..dias que tudo da errado...dias inesqueciveis,enfim :D
    Bom,tem um selo pra você no meu blog e um novo poema.

    Visita?
    RIMAS DO PRETO

    Abraços

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  2. tenho de ler com mais tempo. tenho de corrigir testesssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss. e não tenho vontade nenhumaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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  3. encantada!


    continue sim com os e mails da postagens!


    beijo!

    espero visitas aqui ó:


    carladiacov.blogspot.com
    larcavodica.blogspot.com
    odesimundasdoneochiqueiro.blogspot.com
    carlacarlacarlac.multiply.com

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  4. Olá, gostei do seu estilo, da linguagem, do figurado e da coragem em usar todas as figuras da natureza, inclusive a serpente, para o entendimento do homem, com os desafios interiores e exteriores de se conhecer. Parabéns e grato por me seguir no blog.
    Abraço.
    Camilo

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