quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

REJEIÇÃO

 








A rejeição é sinal percebido

no desconhecimento: flores

em vasos e o olhar aflito da mãe

na despedida: a conjunção estéril

de mundos em movimento e a estrela

crescente no espaço: além dos olhos

repousam seres rejeitados: no escuro

universo ressoam sons: a queda

do cometa e a pedra errante

refeita em viagens. Rejeita

a hora da partida em acordados

verões equatoriais: olhos correm

o mundo e a rejeição se repete

na cena de despedida: os olhos

da mãe além dos ombros do filho.

 

(Pedro Du Bois, inédito)



segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

ÂMAGO

 



Tenho o âmago aziago do problema

e a resposta sobre o túmulo do soldado

o desagregar das tendências

e o esgarçamento da inconsciência


depois o que tenho será

a desnecessidade dos arbustos

cobrindo a passagem no desmoronar

do som e a reação arbitrária das autoridades

 

nos problemas relembro cenas

infantis na resolução das respostas

em apostas afins dos entretenimentos

 

(guardo a fortuna em cofres

e me dedico a ganhar espaços

o tempo permanece imóvel

e transito em silêncio).


(Pedro Du Bois, inédito)



sábado, 26 de dezembro de 2020

AO MENINO

 


Ao menino é negado o tempo

habilitado na espera do futuro: tem

o dia da semana avulso e disperso

em tarefas acima da idade: ser adulto

desde o começo ser arremessado fora

da hora ser da hipocrisia a lembrança

onde se deformam corpos enjaulados

 

tem a cidade como tormento

e na noite recolhida ao relento

o sonho negado pela realidade.


(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

SENTIMENTOS

 


Sentimento recolhido: penso na minha terra

e choro a perda da ingenuidade no ceticismo

alastrado em guerras intestinas de falta de respeito.

O olhar ambicioso do negócio na pilhagem excessiva

impede a organização da sociedade em sentimentos

opostos: ter em cada irmão o vizinho disposto

ao sacrifício na luta desdobrada em batalhas

pelo objetivo: recrutado aceito a pugna

e honro o compromisso pelo sentimento

amaldiçoado: escuto risos fragmentados

em bebidas de jovens destruídos

por comportamentos inexistentes.

A prepotência vencida na tatuagem

marca o corpo que em si carrega

o sentimento: no pesadelo encolho

o sonho onde não aconteço.

(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DESCONHECER

 








No desconhecimento

a criança vive

os melhores momentos: a descoberta

                                       integra

                                       e a natureza

                                       permanece

                                       viva: frutas

                              colhidas verdes

                       flores despetaladas

                  na contagem ingênua

             dos desamores na terra

                  revirada em busca

            de animais menores:

 

a fome na necessidade de crescer

o tempero da puberdade

o prêmio do adulto.


(Pedro Du Bois, inédito)


domingo, 20 de dezembro de 2020

ANGÚSTIAS E CALMARIAS

 








Homens se afastam em calmaria

o silêncio estende as asas

entre homens e mulheres

       fixadas em angústias

       ao  ver seus homens

       em afastamentos

 

nos carnavais fantasiosos

se escondem os homens

de seus fantasmas

e a calmaria em músicas

se oferece para mulheres

descobertas ao acaso

 

as mulheres em angústias

sentem o calor da refrega

e sonham entregas

em longínquos carnavais

 

homens retornam angustiados

pelo medo de serem interpelados

por mulheres ácidas em calmarias

                      de águas revoltadas.


(Pedro Du Bois, inédito)



sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

FANTASIAR

 








Em outro dia a seriedade

me acompanha: aqui

                           agora

                           no instante

                           vivido

                         como aventura

                        entrego a vida

                       e me divirto

 

                     este o tempo

                   desnecessário

                 este o momento

               permitido ao humano

               em sua liberdade

               de escolha

             este o instante

            transverso: quando

            assumo a versão

            interior da fantasia.


(Pedro Du Bois, inédito)



quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

O SOM SONHADO

 








No sonho

o som se adultera

- não há razão necessária

  para o encadeamento –

e me oferece alternativas

falsas: o som se desprende

dos atos e a materialidade

o sustenta em silêncio.

 

Os sonhos se repetem

em barulhos anteriores.


(Pedro Du Bois, A Infinitude dos Sons)


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

GUERRAS

 


Guerras são feitas

pelos que acreditam

em virtudes e deuses:

 

saem da casa

invadem os lares

vizinhos: alastram crenças

e matam por ideais.

 

O passado em descrença

assiste e nada faz: não cabe

ao cético intervir no que desacredita

e denunciar a crença indevida

 

a guerra do cético é intestina

e obscura: morre ao divagar.


(Pedro Du Bois, inédito)



sábado, 12 de dezembro de 2020

AMIZADES

 


Onde restaria a cidade

inalcançável

do passado: descompromisso

cumprido

como obrigação

moral

e cívica

no destemor de me dizer amigo

e na convivência ter a certeza

do inconcluso tempo.


(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

APENAS PROFESSOR DE INGLÊS

 


Mesmo que o planeta esteja incendiado 

em guerras e arda em chamas 

de desconhecimento: o fragor 

da batalha assume a música

e os mortos assombram o noticiário

com os  horrores bestiais

dos relacionamentos: o humano 

multiplicado no extremo

civilizatório das vitórias

decompostas em terras arrasadas

no instante em que se percebe

tolo na sala a repetir a língua

estrangeira em que é formado

e responde pela alienação e fuga.

 

Você é apenas o professor de língua inglesa 

- um entre tantos: o mais assustado 

com o que entende no discurso 

dos que chegam com verdades 

exteriores das batalhas

que horrorizam a língua 

e a mantém presa.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

OS OBJETOS E AS COISAS - XXVIII

 


                     O humor das coisas se entrelaça

em objetos alegres no que foi proposto.

A chance de reconhecer na imobilidade

vidas encravadas em totens milenares

de crenças: posso dizer

o que sei das coisas

e riscar nos objetos a palavra

existente sobre o nada.

Não faço: objeto ao humor

a desgraça do sorriso instalado

no rosto do boneco e a cobra

sorri suas presas: a bola

em arremessos finais

em dias atravessados

 

busco no objeto pontiagudo o lancetar

da face e me descubro a rir abraçado

ao poste: objeto humorado.


(Pedro Du Bois, Os Objetos e as Coisas, XXVIII)

https://pedrodubois.blogspot.com/

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

MONTANHAS

 


Atravesso montanhas

e lugares menores

circundo copos

acolhero sopas

reparto facas

pontiagudas: carros

                      trens

                      longas viagens

                      indesejadas

 

rumino montes

e submerjo rios

de águas claras

 

(minto sobre a cidade)

 

alvoroço chás em xícaras transbordadas

e aziago meu estômago com capas de revistas

em que me aninho ao contraditório acidificado

 

                      persigo montanhas em abraços

                      de desfalecimentos.


(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O SOM DO MEDO

 



O menino tinha medo e se escondia

do dia crescente: depois se mostrou

ausente das consequências: muito depois

riu das lembranças embaraçosas: hoje

de nada se lembra ou tudo esquece

o menino se tornou menino

em adulto corpo: o medo

continua presente.


(Pedro Du Bois, A Infinitude dos Sons, 2008)


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

ESFORÇO

 

 


Depois do esforço o corpo cede em descanso

e aproveito o todo perseguido para me colocar

sobre o ladrilho: o lado de fora pesa o conforto

do regresso e atravesso ruas e ruelas. O beco

de saúdes tolhidas em muros enlevam os olhos

ao espaço: o cão me persegue e o labirinto

tranca suas passagens: a flor irrita o hálito

trazido da cidade: cansado ser renovado

em pequenos morros serpenteando estradas

e o aviso de chegada: estar comigo satisfaz

o ego e da parede desprendo o prego

que segura – sustenta – o espelho: a imagem

despercebida cede ao esforço da metáfora.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/


sábado, 28 de novembro de 2020

BATALHA








Estive no campo de batalha

mentirosamente postado

junto ao corpo do astronauta

desbravador de novas terras

- escrevi terras podia ter usado

  outra palavra de mesmo significado.

 

Com o general imberbe e o beduíno

ausentado na movimentação da tropa

jantamos o suficiente para ficarmos 

acordados olhando as ruas sujas

e as pessoas tristes transitarem

sem sentido: a utilidade medida

em ouros sufragados ao ócio

das estrelas terráqueas em estéreis

embalagens e o sorriso soturno

com que a prostituta oferece o corpo

             ao degredo: no sorriso a luta

  se plastifica e correções eletrônicas

  obliteram os atos.


(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

CONFLITO

 








O homem traz o conflito de ser a imagem

acondicionada antes. O novo despreparado

negado na origem da altivez na fala

assumida pela estampa: reflexo calado

ao entrevisto. Conflitos atritam e luzes

esquecem ritos: gritos são escutados

ao longe que além da construção repousa

o bruxo e nele habita o homem em conflito.

 

                   Ser ele mesmo e o outro acreditado

                   em palavras e normas em números

e estatísticas em linguagens estrangeiras e livros

não abertos. Ter a cor e a descoloração dos anos

no adiantamento e carregar o atraso: por acaso

o homem aflito deixa na água cristalina do copo

o alívio por ser sedento em autonomia

e castigo: tem o conflito em geradas luzes

necessárias aos encontros no anacrônico

senso de o futuro despender o passado.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/


terça-feira, 24 de novembro de 2020

DOMESTICAR

 

     
Domesticada, a vida

                           se oferece na ferocidade

                         dos dias

(meu pai tinha as feições

 preocupadas)

                   em que nos repetimos

                 em trajetos

                 e conversas recheadas

              com cafezinhos

(meu pai tinha o olhar

 preocupado)

           de onde retornamos com

         as portas  entreabertas:  o que

        nos assusta e nos assalta

(meu pai tinha a palavra

 despreocupada daqueles tempos).


(Pedro Du Bois, inédito)


domingo, 22 de novembro de 2020

TRABALHAR

 



 
Trabalho cada ideia como o todo. Refaço perguntas

machucadas e nego respostas conduzidas. Externo

a frieza do conhecimento. Recolho no solo a pisada

e a transubstancio no barro primitivo: tenho o molde

a distância e o sentido. Impeço a fragmentação

do pensamento: sou do ocaso o guardião da cena

repetida em olhos encerrados: o ocaso do dia

contabilizado. Resisto. Dou força ao vento

derrubado em lembranças inúteis  e ao som

que vem da rua – pessoas passam –

devoro as palavras ditas: falo em democracia

no alterar o sujeito da sentença e alterno inocentes

e culpados: recupero a malemolência extremada

dos profetas e discurso de porta em porta  uma

ideia de cada vez: apenas uma porta aberta.

(Pedro Du Bois, inédito)

http://pedrodubois.blogspot.com

 


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

GOSTO

 








Atravesso o átrio

tropeço na pedra

divisória irregular

do trajeto: penso a música

que me envolve em Janis

 

o átrio iluminado das noites

inacabadas: ter mais idade

não me retira o gesto

                     o gosto

                    o engodo: a música

                    transparece na agonia

                    da presença: sinto

                    o amor no átrio

                    emudecido do passado.


(Pedro Du Bois, inédito)

http://pedrodubois.blogspot.com/


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

DESCOBRIR

 







 

Ao verificar o seu sexo

como sexualidade

pela primeira

vez

o menino

soube haver descoberto

o início: bolas e terras

             passarinhos e pedras

             segredos e mentiras

                         em compromissos.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

(RE)INICIAR

    



Sou o som

inercial

do começo

 

resíduo modulado

na invenção da vida

em naturezas frígidas

e quentes caldos

de cultura

 

retribuo o esforço

do conhecimento: milhares

de arcos despercebidos

em aprendizados

 

permaneço o som

habitual da vida

onde me entrego

em recomeços.


(Pedro Du Bois, inédito)



sábado, 14 de novembro de 2020

RAZÕES

 








Porque o menino se fazia astro

entre animais e dos ninhos

retirava a vida em ovos

jogados no riacho

 

sua mãe (adulta)

desconhecendo

o tempo de criança

 

ameaçava com castigos

em masmorras atrás das portas

em celas de quartos abafados

em vidas de luzes apagadas.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

VIVER

 








Tenho medo do infinito e da eternidade

por estarmos aprisionados ao corpo.

Soluço orações em promessas sagradas.

Reafirmo a fé na integridade e do orvalho

recolho o sentido: estou vivo e estou morto

ao encontro da insubmissão e do castigo.

Rejeito o acontecido e me afirmo no amor

da mulher com quem convivo: a divisão

da cama a conversa franca o carinho diário

o mistério revelado no primeiro dia: no carnal

e no simbólico somos o todo e nos separamos

em corpos nas manhãs em que recordamos.

Não conversamos sobre a permanência.

Permanecer é o silêncio dos que sabem

da efemeridade: percorrer distâncias

em guarda contra a eternidade

a oxidar os atos diariamente.


(Pedro Du Bois, inédito)



SOBRE CONSTRUÇÕES

 








 

Construo minha casa com a argamassa

dos dias cinzentos e coloridos. Inicio

pelo detalhe de viver e ter a certeza

da necessidade da construção.

 

Cerco o terreno em flores e crio 

frutos proibidos: minha alimentação

enquanto a obra avança ao teto.

 

Obro portas e janelas oxigenadas

ao interior dos ranços trazidos.

 

Refaço os móveis na quantidade

dos dias em que morarei na casa

acerto na maciez do assento a saliência

do colchão e na tepidez da pedra o correr

da água na escuridão do quarto.

 

Completo a mudança

e me retiro: toda casa prende

os corpos em martírio.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/


domingo, 8 de novembro de 2020

CÍRCULO

 








Habito o abismo no primeiro círculo

: concêntrico hábito onde me repito

  na constante libertação da alma

 

receio a espiral inconstante

na segurança inibidora dos sentidos

em concêntricos hábitos de repulsa.

 

Rasgo a máscara e me exponho

no centro do reflexo: revejo o tempo

estático na concentração de estrelas

consumidoras em círculos

 

    no abismo tenho o eco da voz  

    pertinente em que me projeto.


(Pedro Du Bois, inédito)



VIAGEM

 


Viajo pela arte decomposta: remédios

receitados ao doente (enganado corpo

atravessado em doenças): altero o estado

e fico junto ao corpo (a dor da espera 

multiplicada no repetir do quadro)

na arte recomposta em traços de reconhecimento 

pelo tempo em que fomos jovens

(ao redor do corpo circulam indecisas

orações e lágrimas).


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/

 



quarta-feira, 4 de novembro de 2020

SENTIR

 


Árido sentir: seco

                     ressecado

                     assustado do próximo

                     passo na aproximação

 

         abro a porta e permito o ingresso

          do desassossego

        abro as janelas e consinto a entrada

          da avalanche

        solto as amarras e tenho o encontro

          dos corpos.


(Pedro Du Bois, inédito)



segunda-feira, 2 de novembro de 2020

TER

 








Concebo a visão

tenho o sentido

                 falo:

 

    a chuva transforma a paisagem

    em brilhos e armadilhas

 

                  a vida permanece

                  sob guarda-chuvas

 

        alcanço a mão

        refaço o passo

                   o corpo cede

                

a esperança de rever

        além do tempo

        em rápidas passagens

 

                 descanso o espírito

                 e durmo a eternidade.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/

sábado, 31 de outubro de 2020

PAIXÃO

 








Ávido de paixão

passo a vida

gestando instantes

 

(devorados corpos)

 

refaço amores transplantados

 

recrio imagens antepostas em gestos

e o corpo cede paixões inúmeras

                         e renováveis

 

avesso ao estar ciente

desconsidero o aviso

e me atraso

no abraço infrutífero

da árvore com o solo

em decomposta paisagem.


(Pedro Du Bois, inédito)



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

RECOMEÇAR

 







 

                               Na interrupção do estilo

                               esteio da minha vida

                               estiva do meu trabalho

                               estranho gesto de desprezo

 

             recomeçar significa

             a inibição do antes

             na composição da peça

             recolocada

 

a oferta indesejada do esquecimento

e a voz ofegante de quem foi vencido

 

             ofereço o pescoço ao cutelo

             e me divido em partes:

 

                                o esquartejamento amplia

                                a sensação da perda

 

estimo a recompensa

estrago o restabelecimento

escravo me submeto.


(Pedro Du Bois, inédito)



ALÔ

 


Avanço contra o escritório

destroço mesas

e aparelhos telefônicos

 

alô quem fala?

alô que barulho é esse?

alô alô alô...

 

no tempo desperdiçado

aviso ao contratempo

sobre a escalada

            dos aparelhos guardados

            em caixas inofensivas

            na aparência:

 

alô alguém aí?

alô alguém ainda por aí?


(Pedro Du Bois, inédito)










domingo, 25 de outubro de 2020

ÁPICE

 


No ápice do sucesso

               percebe o apagar

               das luzes

 

         reflete a escuridão

         em que se aventura

         longe do futuro

 

o tempo disponibilizado

no alargar da terra

ao largar a terra

no largo abraço de despedida

 

                o ápice recontado

                prepondera no corpo

estendido: nas cobertas

                  o frio esquecimento.


(Pedro Du Bois, inédito)



sexta-feira, 23 de outubro de 2020

EFEMÉRIDE

 









Na efeméride o fundo falso afasta

o sentido da insegurança

 

 o féretro sai do corpo principal

 fechando a porta da capela: orada

 onde em imagens sou sacralizado

 

o infausto gesto é a briga

de abrigadas desavenças

no obrigatório fundo

falso: inconsentido

 

   no cadafalso cabem penúltimas

   razões: a efeméride se completa

                em lapsos.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com/

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

RETESADO

 








Retesado em músculos

submeto ao espelho

fragmentos da imagem

 

cacos desfragmentados

músculos desperdiçados

 

retesado em arcos

estendo o corpo

              em flecha

              arremessada

              ao destino.

(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com



AOS AMIGOS

 








Se meu amigo for preso

como comum criminoso

- eu pequeno burguês

  confesso –

acompanharei o caso

sem ser percebido

e rezarei pela redenção

dos seus pecados

 

(durante a noite assisto

 programas que tratam

da intromissão na vida

de pobres coitados: deixo

o número telefônico e pago

pelo meu voto)

 

se meu amigo for solto

sem que contra ele nada se prove

serei o primeiro a recebê-lo

com votos de que tudo

seja esquecido.


(Pedro Du Bois, inédito)

https://pedrodubois.blogspot.com

CIRCENSE

 








Visito o circo

pela manhã: o palhaço

                   foi ao banco

o trapezista ao mundo

o equilibrista ao dentista

a violinista ainda dorme

 

os animais alimentados

descansam em suas jaulas

 

os homens comuns da cidade

fazem o restante dos trabalhos

 

sentada sob a lona

lendo o jornal do dia

a bailarina procura

algum emprego estável.


(Pedro Du Bois, inédito)